COMPORTAMENTO IDEAL NA MISTURA DOS SURFACTANTES

DI-N-DECIL-1,6-HEXIL BISFOSFATO DISSÓDICO

E DODECILSULFATO DE SÓDIO

Vera Lúcia Frescura (PQ), Carla Dian de Mello ( IC )

Departamento de Química - Universidade Federal de Santa Catarina

Arilson Lehmkuhl (PQ )

Curso de Química - Universidade Católica de Brasília

Palavras chaves: surfactante gêmeo aniônico, micelas mistas, mistura ideal.

Recentemente, uma nova classe de surfactantes, os "gêmeos", têm despertado a atenção da comunidade científica.1 Esses surfactantes são formados por dois monômeros idênticos de um anfifílico, ligados entre si através de um grupo (espaçador), o qual pode ser hidrofílico ou hidrofóbico, rígido ou flexível.2 Ao comparar com os respectivos surfactantes monoméricos, os gêmeos apresentam interessantes propriedades reológicas e diferem muito na morfologia dos agregados formados em solução. As mais pronunciadas diferenças, entretanto, estão nos baixos valores da concentração micelar crítica, CMC, e da temperaratura Kraft.1-3 As melhores propriedades associadas à essa classe de surfactantes têm motivado esforços dentre os pesquisadores na busca de novas estruturas de surfactantes gêmeos.

Devido ao seus altos custos de produção, é provável que os surfactantes gêmeos venham a ser utilizados principalmente misturados com surfactantes convencionais. Nesse sentido, já podem ser encontrados na literatura alguns estudos envolvendo misturas de surfactantes gêmeos e convencionais focalizando a procura de sinergismos na micelização e na formação de monocamadas na interface ar-água.4-5

Nesse trabalho, relata-se os resultados observados no estudo das misturas do di-n-decil-1,6-hexil bisfosfato dissódico (gêmeo 10-6-10) com o dodecilsulfato de sódio (SDS), por meio de condutivimetria. O surfactatne gêmeo 10-6-10, foi preparado a partir da reação do bistetrametilamônio decilfosfato com 1,6-dibromohexano, conforme Engberts e outros.2

A Figura 1 apresenta o gráfico obtido na titulação condutivimétrica do gêmeo 10-6-10, em solução aquosa a 25 C. O valor de 2,5.10-3 Mol.dm-3, encontrada para a CMC do gêmeo 10-6-10, é consistente com o valor de 3,5.10-4 Mol.dm-3 apresentado na literatura para seu homólogo contendo dois carbonos a mais na cadeia alquílica monomérica (gêmeo 12-6-12).

As titulações condutivimétricas para as misturas do SDS e do gêmeo 10-6-10, foram efetuadas em solução tampão borato 0,01 Mol.dm-3, pH = 9,0 e a 25 C. A Figura 2 mostra os valores de CMC em função da fração molar do gêmeo 10-6-10 na mistura de surfactantes. Na presença de tampão borato 0,01 Mol.dm-3, pH = 9,0, o valor da CMC obtido para o gêmeo 10-6-10 foi 1,5.10-3 Mol.dm-3, que é aproximadamente 100 vezes menor que aquele obtido para o surfactante monomérico decilfosfato de sódio (NaDeP) nas mesmas condições de pH.

 

 

Figura 1 – Condutividade em função da concentração do gêmeo 10-6-10.

 

 

 

Figura 2 – Variação da CMC da mistura em função da fração molar do gêmeo 10-6-10.

As misturas do SDS e gêmeo 10-6-10 apresentaram um comportamento de mistura ideal, evidenciado pela correlação de 0,998 entre os valores das CMC experimentais e aqueles calculados com a equação teórica para sistemas ideais.

Surfactantes estruturalmente semelhantes misturam-se idealmente porque os microambientes nas micelas mistas são semelhantes aqueles das micelas formadas por um único componente. O sistema binário SDS/NaDeP comporta-se como uma mistura ideal.6 Aparentemente, o não comprometimento à idealidade observado nas misturas de SDS/10-6-10 pode ser atribuída a flexibilidade do espaçador no dímero 10-6-10.

Referências:

  1. Zana, R. Curr. Opin. Colloid Interface Sci., 1996, 1(5), 566.
  2. Engberts,J.B.F.N.; et all.; Langmuir, 1997,13 (14), 3737.
  3. Esumi, K.; Miyazaki, M.; Arai, T.; Koide, Y. Coll. And Surfaces A., 1998, 135, 117.
  4. Zana, R., Levy, H.; Kwtka, K. J., Coll. Interf. Sci., 1998, 197, 370.
  5. Rosen, M.J.; Gao, T.; Nakatsuji, Y.; Masuyama, A. Coll. Surfaces A., 1994, 88, 1.
  6. Lima, C.F., Nome, F., and Zanette, D. J. Coll. Interf. Sci. 1997189, 174,.

[ Funpesquisa/99 ]