INVESTIGAÇÃO DA REATIVIDADE DO COMPLEXO DE N-(ALQUIL)-2-BROMOAMIDA COM BORANO PARA SUA DES-HALOGENAÇÃO
Hiléia dos Santos Barroso (PG) e Antônio Flávio de Carvalho Alcântara (PQ)
Departamento de Química, ICE  Universidade do Amazonas
Palavras-chave: 2-bromopentanamidas, redução por boranos, des-halogenação
A redução de amidas é uma das etapas importantes na síntese de muitos compostos orgânicos. A literatura registra que o diborano é indicado para a redução seletiva de haloamidas em haloaminas pois não reage com grupos haletos de alquila.1 Porém, foram verificadas que as condições de redução por borano-THF de N-alquil-2-bromopentanamidas 1 proporciona também a hidrogenólise da ligação C-Br.2 As análises dos produtos de redução dessas amidas indicam um efeito da estrutura do grupo N-alquilsubstituinte (R) na intensidade de des-halogenação, sendo maior para R = ter-butila e menor para R = n-butila. Neste contexto, torna-se importante determinar o efeito do grupo R e qual dos intermediários de reação está envolvido na des-halogenação de haloamidas.
A partir de cálculos das propriedades químicas dos intermediários formados pela complexação amida:borano tanto pelo nitrogênio (2) como pelo oxigênio (3), conforme equações abaixo, neste trabalho pretende-se investigar o efeito da estrutura do grupo R e o mecanismo de tal hidrogenólise. Os cálculos foram realizados empregando o método semi-empírico AM1 do programa SPARTAN 3 para determinar as distâncias interatômicas, as contribuições dos orbitais atômicos (OA's) para os orbitais moleculares de fronteira (OMfs) em 2 e 3 apresentando os seguintes grupos R: (a) n-butila, (b) isobutila, (c) sec-butila e (d) ter-butila. As minimizações de energia basearam-se em conformações mais apropriadas para des-halogenação, com geometrias apresentando hidrogênios ligados ao boro, H(B), mais próximos do carbono ligado ao bromo, C-2.

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De um modo geral, as distâncias entre H(B) e C-2 (Tabela I) são menores em 3, indicando consequentemente maiores aproximações interatômicas, quando comparados com 2, que favorecem ataques nucleofílicos envolvendo des-halogenação. Em relação ao efeito do grupo R, para 2, pode-se propor que a des-halogenação seja mais favorecida em 2b. Entretanto, para 3, verifica-se uma influência pouco significativa da estrutura do grupo R. Por outro lado, apesar das maiores densidades eletrônicas sobre H(B) em 3 (Tabela I) indicarem seu maior poder nucleofílico, as densidades eletrônicas sobre C-2 mostram variações pouco significativas em função tanto da posição de complexação do borano quanto pelas alterações estruturais dos grupos R.
Tabela I  Valores de distâncias interatômicas d (em Å) e densidades de cargas eletrônicas dce (Mulliken) de H(B) e C-2 em 2 e 3. Método AM1.
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  | 
		
			 2a  | 
		
			 2b  | 
		
			 2c  | 
		
			 2d  | 
		
			 3a  | 
		
			 3b  | 
		
			 3c  | 
		
			 3d  | 
	
| 
			 d[H(B)-C-2]  | 
		
			 3,181  | 
		
			 2,700  | 
		
			 3,227  | 
		
			 3,158  | 
		
			 2,711  | 
		
			 2,710  | 
		
			 2,798  | 
		
			 2,704  | 
	
| 
			 dce[H(B)]  | 
		
			 -0,114  | 
		
			 -0,113  | 
		
			 -0,112  | 
		
			 -0,116  | 
		
			 -0,128  | 
		
			 -0,129  | 
		
			 -0,128  | 
		
			 -0,128  | 
	
| 
			 dce(C-2)  | 
		
			 -0,190  | 
		
			 -0,194  | 
		
			 -0,196  | 
		
			 -0,194  | 
		
			 -0,193  | 
		
			 -0,194  | 
		
			 -0,199  | 
		
			 -0,196  | 
	
As contribuições de H(B) para formação dos OMfs ocupados (Tabela 2) apresentam-se relativamente maiores em 2, indicando sua maior reatividade para ataques nucleofílicos sobre C-2, principalmente em 2c, quando comparados com 3. Por outro lado, para os OMs vazios, verificam-se um aumento das contribuições de C-2 com o aumento do efeito estérico dos grupos R em 2 e 3.
Tabela 2  Contribuições dos OAs de H(B) e B para OMfs ocupados e de C-2 e Br para OMfs vazios em 2 e 3. Método AM1, desconsiderando as fases dos orbitais.
| 
			 | 
		
			 HOMO(HOMO-1)  | 
		
			 LUMO(LUMO+1)  | 
	||
			Produto | 
		
			 H(B)  | 
		
			 B  | 
		
			 C-2  | 
		
			 Br  | 
	
| 
			 2a  | 
		
			 0,518(0,347)  | 
		
			 0,958(0,999)  | 
		
			 0,848(0,793)  | 
		
			 0,800(0,486)  | 
	
| 
			 2b  | 
		
			 0,527(0,330)  | 
		
			 0,700(0,844)  | 
		
			 0,859(0,896)  | 
		
			 0,864(0,679)  | 
	
| 
			 2c  | 
		
			 0,585(0,209)  | 
		
			 1,011(0,946)  | 
		
			 0,979(0,806)  | 
		
			 1,032(0,602)  | 
	
| 
			 2d  | 
		
			 0,511(0,333)  | 
		
			 0,842(0,630)  | 
		
			 1,062(0,865)  | 
		
			 0,053(0,093)  | 
	
| 
			 3a  | 
		
			 0,289(0,509)  | 
		
			 0,698(0,671)  | 
		
			 0,881(0,716)  | 
		
			 0,934(0,523)  | 
	
| 
			 3b  | 
		
			 0,301(0,498)  | 
		
			 0,640(0,912)  | 
		
			 1,069(0,758)  | 
		
			 1,013(0,579)  | 
	
| 
			 3c  | 
		
			 0,449(0,361)  | 
		
			 0,693(0,783)  | 
		
			 1,050(0,756)  | 
		
			 1,110(0,600)  | 
	
| 
			 3d  | 
		
			 0,261(0,533)  | 
		
			 0,757(0,902)  | 
		
			 1,124(0,740)  | 
		
			 1,109(0,599)  | 
	
Assim, na redução das amidas 1 por borano, considerando os resultados experimentais que mostram maiores proporções de produtos des-halogenados com o aumento do efeito estérico do grupo R, pode-se propor um efeito significativo das contribuições de C-2 para os OMs vazios tanto de 2 quanto de 3 na hidrogenólise da ligação CBr. Além disto, considerando que em 3 verificam-se menores distâncias entre H(B) e C-2 e maiores densidades eletrônicas sobre H(B), pode-se propor que a des-halogenação das amidas 1, caso ocorra na primeira etapa de complexação, deve ser mais provável no intermediário 3 do que no intermediário 2.
(CAPES, CNPq)
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1. A. F. de C. Alcântara, D. P. Veloso and D. L. Nelson, Química Nova 16, 210, 1993.
2. A. F.C. Alcântara, D. P. Veloso & D. L. Nelson, J. Braz. Chem. Soc. 16, 297, 1995.
3. SPARTAN: Wavefunction, Inc. 18401 Von Karman, Suite 370, Irvine, CA 92612, USA.