ANÁLISE CONFORMACIONAL POR RMN E CÁLCULOS TEÓRICOS DE 2-ARIL-1,3-DI-HIDROXI-4,4,5,5-TETRAMETILIMIDAZOLIDINAS


Antônio F. de C. Alcântara (PQ),1 Dorila P.Veloso (PQ),2 Maria G. F. Vaz (PG),2 Humberto O. Stumpf2


1Departamento de Química, ICE – Universidade do Amazonas

2 Departamento de Química, ICEx – Universidade Federal de Minas Gerais


Palavras-chave: imidazolidinas, análise conformacional, blindagem g em RMN


Imidazolidinas têm sido muito empregadas em estudos de magnetismo molecular.1 Pela análise conformacional de 2-piridinil-1,3-di-hidroxi-4,4,5,5-tetrametilimidazolidinas 1, foi sugerido que estes compostos encontram-se na conformação em que, no anel imidazolidina, duas metilas apresentam-se axiais, duas equatoriais e as duas hidroxilas estão ambas em posição anti à piridinila. Estes resultados são independentes da posição através da qual a piridina apresenta-se ligada ao carbono C-2 do anel imidazolidina: 2-(2-piridinil)-1,3-di-hidroxi-4,4,5,5-tetra-metilimidazolidina 1a, 2-(3-piridinil)-1,3-di-hidroxi-4,4,5,5-tetra-metilimidazolidina 1b e 2-(4-piridinil)-1,3-di-hidroxi-4,4,5,5-tetrametilimidazolidina 1c.2 Além disto, foi proposto também que as disposições espaciais dos grupos metilas em relação aos diferentes grupos substituintes no anel imidazolidina influenciam nos deslocamentos químicos registrados nos espectros de RMN de 1H e de 13C.








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Os espectros de RMN de 1H apresentam deslocamentos químicos para os grupos metilas em d 1.06 (para 1a), 1.04 e 1.07 (para 1b) e 1.03 e 1.09 (para 1c), sendo que o único sinal observado nesta região para 1a mostrou-se mais largo do que para os demais. A partir destes resultados, neste trabalho foram realizados estudos por RMN e cálculos teóricos visando realizar análises conformacionais do anel imidazolidina em 1.

As sínteses de 1a, 1b e 1c foram realizadas segundo metodologia descrita na literatura, onde rendimentos e propriedades físicas (ponto de fusão, análise elementar, IV, RMN de 1H e de 13C) são apresentados.2 Os cálculos teóricos para as imidazolidinas 1 foram realizados pelo método AM1 do programa SPARTAN.3 As disposições espaciais dos grupos substituintes no anel imidazolidina propostas por NOESY foram usadas como modelos iniciais para otimização de energia das estruturas.

Os dados de RMN de 1H e de 13C para 1c, confirmados pelas correlações obtidas do mapa de contornos HMQC, HMBC, COSY e NOESY, mostram um único sinal simpleto em d 7.96, atribuído aos hidrogênios hidroxílicos, H(O), sugerindo que ambas as hidroxilas, em relação à H(C-2), encontram-se sin no anel imidazolidina. Além disto, os hidrogênios das metilas acoplam acoplam com as hidroxilas porém, somente os hidrogênios metílicos com sinal em menor d acoplam espacialmente com hidrogênios do anel piridinila e de H(O). Por sua vez, os hidrogênios das metilas com sinal em maior d acoplam com os hidrogênios H(O) e com H(C-2). A partir destas disposições espaciais, foram realizados cálculos para análise conformacional de 1c, com conformação tendo metilas geminais alternadas em posições axiais e equatoriais e a piridinila, em posição equatorial, apresenta-se anti às hidroxilas. Os cálculos das distâncias interatômicas mostram que as quatro metilas apresentam valores muito diferentes para as distâncias com H(C-2), H(O) e hidrogênios do anel piridinila. Por isto, era de se esperar obter quatro valores diferentes de deslocamentos químicos para as metilas no espectro de 1c, o que não foi verificado. Portanto, pode-se propor interconversões axial–equatorial das metilas a temperatura ambiente (temperatura em foram realizados os espectros de RMN). Os mesmos resultados foram obtidos para 1b, proporcionando consequentemente a mesma análise conformacional proposta para 1c.

De modo diferente, os espectros de RMN de 1H de 1a registraram apenas um sinal para os hidrogênios das quatro metilas. Neste caso, as condições empregadas no experimento de RMN proporcionam a coalescência dos sinais dos hidrogênios das quatro metilas, podendo indicar que as propriedades químicas e magnéticas das metilas em 1a são registradas pela média das alterações conformacionais do anel imidazolidina. Por outro lado, não se verificam acoplamentos de hidrogênios do anel piridinila com H(C-2) e nem com H(O). Isto indica que a rotação inter-anular é desfavorecida e que sua conformação mais estável apresenta o nitrogênio piridinila próximo a H(C-2). A partir destas considerações, foram realizados cálculos para análise conformacional de 1a em que as hidroxilas apresentam-se relativamente em posições anti no anel imidazolidina. Os cálculos das distâncias interatômicas entre os oxigênios e as metilas mostram que, na conformação proposta para 1a, estes valores são muito próximos, apesar das distâncias interatômicas dos grupos metilas tanto com H(C-2) quanto com os hidrogênios do anel piridinila serem muito diferentes. Desta forma, pode-se propor que os deslocamentos químicos registrados para os sinais dos hidrogênios metilas nos espectros de RMN de 1, independente da posição de substituição da piridinila, são influenciados principalmente pelo efeito g do oxigênio.

Assim, apesar de estudos de RMN de 1H e de 13C de grupos metílicos em sistemas cíclicos mostrarem que, devido às desproteções das ligações do anel, os carbonos equatoriais apresentam maiores d em relação aos axiais e comportamento inverso é verificado em relação aos sinais de seus hidrogênios,4 para as imidazolidinas 1, pode-se concluir que os efeitos de blindagem pelos oxigênios estão compensando àqueles das ligações do anel imidazolidina. (CAPES, CNPq)

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1. (a) A. F. C. Alcântara et al., Structural Chemistry, 10 (1999), 365-372. (b) M. G. F. Vaz, L. M. M. Pinheiro, H. O. Stumpf, A. F. C. Alcântara, S. Golhen, L. Ouahab, O. Cador, C. Mathonière, O. Kahn, Chem. Eur. J. 5 (1999), 1486-1495. 2. A. F. de C. Alcântara et al., Tetrahedron 53 (1997), 16911-16922. 3. SPARTAN (Version Plus): Wavefunction, Inc. 18401 Von Karman, Suite 370. Irvine, CA 92612, USA. 4. (a) E. L. Eliel et al., Stereochemistry of Organic Compounds. Wiley & Sons, New York, 1994. (b) V. M. S. Gil & C. F. G. C. Geraldes, Ressonância Magnética Nuclear – Fundamentos, Métodos e Aplicações. Fund. Calouse Gulbenkian, Lisboa, 1987.