FLAVONÓIDES DE PIPER CALLOSUM DA AMAZÔNIA


Valdir Alves Facundo(PQ), Selene Maia de Morais(PQ) e Raimundo Braz Filho(PQ)


Departamento de Ciências Exatas da Universidade Federal de Rondônia Av. Pres. Dutra 2965, CEP : 78.900-000, Porto Velho – Rondônia

Departamento de Química e Física do Centro de Ciências e Tecnologia da Universidade Estadual do Ceará, Av. Paranjana 1700 - Campus do Itaperi, Serrinha, CEP 60740-000, Fortaleza - Ceará

Setor de Química de Produtos Naturais – LCQUI – CCT - UENF, Av. Alberto Lamego, 2000, Horto, 28015-620, Campos – RJ


palavras-chave: flavonóides, Piper callosum, Amazônia.

Introdução

A família Piperaceae contém 12 gêneros e 1400 espécies, sendo 700 pertencentes ao gênero Piper distribuídas em todas as regiões tropicais, com 170 espécies no Brasil [1]. Diversos constituintes fixos como alcalóides, flavonóides, arilpropanóides e lignanas são encontrados em espécies do gênero Piper. O uso medicinal de espécies de Piper incluem tratamento de doenças venérias, desordens intestinais, males genito-urinárias, epilepsia e para prevenir concepção. Da Amazônia, várias espécies já foram estudadas como P. belte, P. nigrum, P. amapaense, P. duckei, P. bartlingianum etc [2]. O chá feito por infusão das folhas de P. arboreum é eficiente como carminativo (gases estomacais) e tem sido usado contra reumatismo pelos índios amazonenses. O estudo do óleo essencial das folhas desta espécie revelou a presença de germacreno D (72,87%) como principal constituinte e da espécie P. hispidum, os principais constituintes identificados foram canfeno, a-guaieno e g-cadineno [3]. No óleo essencial de P. callosum foram identificados 16 compostos, sendo os mais abundantes: limoneno, trans-cariofileno, epibiciclosesquifelandreno e germacreno B [4]. Piper callosum Ruiz et Pav é conhecido popularmente como João Brandim, sendo usado como afrodisíaco e em picadas de mosquito. Neste trabalho é relatado o estudo químico dos componentes fixos de P. callosum.

Objetivos

Conhecer os metabólitos secundários fixos de P. callosum na tentativa de explicar as atividades biológicas conferidas a esta espécie.

Métodos

As folhas da planta (2200 g), coletadas na estrada Br 364, Km 13 em Porto Velho, Rondônia, foram submetidas ao processo de destilação por arraste com vapor d’água para extração do óleo essencial. Após retirada do óleo essencial, as folhas foram secas em estufa a 60 ºC e em seguida adicionou-se etanol. O extrato etanólico obtido, após evaporação do solvente em evaporador rotatório, foi misturado a sílica gel (1:2). Este material foi depositado em funil de buchner sobre kitazato, utilizando-se pressão reduzida, e eluíndo-se com hexano, clorofórmio, acetato de etila e metanol. Ao eluato clorofórmico seco, foi adicionada uma solução de Metanol:H2O (70:30) para eliminação da clorofila que precipita. A solução restante foi evaporada a secura e submetida à cromatografia em coluna de sílica gel. Comparadas as frações por CCD, separaram-se as três mais puras, codificadas como JB-1, JB-2 e JB-3. Estas foram analisadas principalmente por métodos espectroscópicos de ressonância magnética nuclear de próton e carbono-13 uni e bi-dimensionais.

Resultados

A substância denominada JB-1 revelou, pela análise do seu espectro de RMN1H, tratar-se de uma mistura de dois flavonóides (JB-1a e JB-1b) na proporção de 60:40. Na região de 3,74 a 3,82 d vários sinais simples atestavam a presença de vários grupos metoxilas. A comparação dos seus espectros de RMN13C com dados da literatura (5) revelou serem os compostos 5,7,3’,4’,5’-penta-metoxiflavona (JB-1a) e 5,7,3’,4’-tetra-metoxiflavona (JB-1b). A substância denominada JB-2 apresentou em seu espectro de RMN1H um sinal simples em 12,76 d correspondente a uma hidroxila quelada e os sinais simples em 3,77; 3,87; 3,91 e 3,93 de quatro grupos metoxilas aromáticas. Comparação dos espectros de RMN13C com dados publicados (5) mostrou tratar-se do composto 5-hidroxi-7,3’,4’,5’-tetra-metoxiflavona. JB-3 apresentou sinais correspondentes a uma ligação dupla trans conjugada com grupo cabonílico: 6,95 d (d, J = 15,7 Hz) e 7,9 d (d, J = 15,7 Hz). Os sinais duplos em 7,23 d (J = 7,73 Hz) e 7,32 d (J = 7,73 Hz) caracterizam dois hidrogênios aromáticos em posição orto. O espectro de RMN13C desacoplado revelou nove linhas, oito na região de carbonos insaturados e um em 184 d de grupamento carboxila conjugado, indicando a estrutura do ácido cafeico para JB-3.

Conclusão

Foram isoladas três flavonas, duas pentaoxigenadas e uma tetraoxigenada. Os flavonóides altamente oxigenados, como os presentes em P. callosum, são dotados de atividade antibiótica e em parte justificariam o seu uso popular.

Bibliografia

1.Barroso, G.M. (1986). Sistemática de angiospermas do Brasil. São Paulo, LTD/EDUSP, 1-3.

2. Maia, J.G.S., Luz, A.I.R., Zoghibi, M.G.Z., Santos, A.S. e Andrade, E.H.A. (1997). Sesquiterpenos em espécies de Piper da Amazônia, Livro de resumos do XXXVII Congresso Brasileiro de Química, PN26, 155.

3. Machado, S.M.F.; Militão, J.S.L.T.; Facundo, V.A.; Ribeiro, A.; Morais, S.M.; Machado, M.I.L. (1994). The leaf oils of two Brazilian species: Piper arboreum Aublet var. latifolium (C.Dc) Yunker and Piper hispidum Sw. J. Essent. Oil Res. 6, 643-644.

4. Trabalho enviado para publicação no Journal of Essential Oil Research.

5. Agrawal, P.K. (1989), Carbon 13 NMR of flavonoids, Elseve, New York.