minimização de interferências em hgaas empregando-se ácido sulfâmico - Determinação de As em cabelo


Letícia Longhi Cirne da Silva (PG), Juliano Smanioto Barin (IC), José Neri Gottfried Paniz (PQ), Valderi Luiz Dressler (PQ) e Érico Marlon de Moraes Flores (PQ)


Departamento de Química da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM-RS)


Palavras-chave: ácido sulfâmico, geração de hidretos, arsênio.


Introdução: A determinação de arsênio em amostras biológicas por espectrometria de absorção atômica com geração de hidretos (HGAAS) é, normalmente, sujeita a diversos problemas quando se emprega tratamentos envolvendo HNO3 somente ou em mistura de outros agentes de decomposição. Para prevenir este tipo de interferência, sucessivas etapas de aquecimento são necessárias, normalmente, para eliminar o HNO3 residual ou, pelo menos, a presença de gases nitrosos dissolvidos. Este efeito é mais pronunciado quando são empregados procedimentos de decomposição mais brandos (extrações com HNO3 ou decomposições parciais). Isto implica, não só em maior tempo de tratamento, mas também na possibilidade de perdas do analito.1 Na literatura, poucos autores tratam deste efeito e, normalmente, atribuem tais interferências à simples "presença de HNO3", sem distinção específica do efeito causador (se NO3-, HNO3, ou outras espécies de nitrogênio geradas na etapa de decomposição).


Objetivos: Neste trabalho, é proposto um procedimento para a minimização de interferências de HNO3 residual ou de seus sub-produtos (após a etapa de decomposição onde são gerados compostos nitrogenados em abundância), empregando-se o ácido sulfâmico em determinações de As por HGAAS. Também foi investigado o efeito da presença de nitratos na determinações por HGAAS.


Métodos: Cerca de 10 mg de amostra de cabelo, previamente cominuído (comprimento máximo de 2 mm) foram pesados em frascos de vidro de fundo cônico e adicionados 50 mL de H2SO4 conc. Suprapur, 150 mL de HNO3 conc. bidestilado, e 100 mL de HCl conc. bidestilado. Os frascos foram fechados e a decomposição realizada, empregando-se um forno de microondas com o seguinte programa de aquecimento seqüencial: 6 x 50 s à 418 W; 5 x 5,5 min. à 87 W; e 4 x 50 s à 418 W. Um intervalo de 1 min. foi empregado entre as etapas para resfriamento dos frascos. O ácido sulfâmico (solução à 10%, m/v), foi adicionado ao término do procedimento de decomposição em quantidades variáveis (de 10 a 100 mL por medida). As determinações de arsênio foram realizadas em espectrômetro de absorção atômica Perkin-Elmer (modelo 3030), com corretor de deutério, empregando o gerador de hidretos MHS-10 sob as seguintes condições: NaBH4 1,5%, m/v; 10 mL de HCl 3 mol L-1, tempo de purga de 45 s. Os sinais foram integrados em 20 s (sinal analítico e de absorção de fundo).



Fig.1. Sinal para 20 ng de As: (1) ausência e (2) presença de HSO3NH2 (NaBH4 1,5%, m/v; HCl 3 mol L-1)

Resultados e Discussão: Foram feitos ensaios em paralelo investigando-se a influência individual de concentrações variáveis de nitratos, nitritos, HNO3 e NO2 dissolvido, em amostras e soluções de referência de arsênio (total de 20 ng de As). Quando estudados individualmente, tanto para NO3- (na forma de NaNO3, de 1,0 a 10%, m/v) como para HNO3, ficou claro que estes não eram os principais agentes inibidores do sinal, apesar de ser verificada uma diminuição de cerca de 20% quando HNO3 era empregado em concentração superior a 2 mol L-1. Em testes em que empregou-se NaNO2 (de 0,5 a 10,0%, m/v), já com 0,5% observou-se total supressão do sinal analítico, com sinal de fundo muito saliente (banda larga com máximo de 0,3 em absorbância, conforme mostrado na Fig. 1). Em concentrações superiores os resultados eram similares. Os ensaios dissolvendo-se NO2 gasoso diretamente em soluções de referência de As, apresentaram resultados muito semelhantes àqueles empregando-se NaNO2 (mesmo perfil do sinal analítico e do sinal de fundo). Este fato sugere o mesmo mecanismo de interferência para os efeitos causados por NaNO2 e NO2 (g). Quando ácido sulfâmico era adicionado às soluções de referência ou amostras decompostas o sinal de fundo era reduzido (máximo de 0,05) e o sinal analítico era novamente observado. A diminuição do sinal de fundo foi atribuída a eliminação do NO2/NO2- conforme a seguinte equação: NO2- + HSO3NH2 ® N2 + HSO4- + H2O. A eficiência do ácido sulfâmico foi otimizada adicionando-se 100 mL (solução a 10%, m/v) 2 às amostras e soluções de referência. Ensaios de recuperação de arsênio foram feitos empregando-se as melhores condições observadas, descritas acima, obtendo-se valores entre 92 e 103% (n = 5).

Conclusão: Com a utilização do ácido sulfâmico, observou-se uma minimização de interferências dos gases nitrosos, presentes após a decomposição; permitindo a obtenção de sinais analíticos reprodutíveis. Assim, uma recuperação satisfatória para o elemento estudado, As, foi alcançada.


Bibliografia

  1. Welz, B. e Sperling, M., Atomic Absorption Spectrometry, 3a.ed., Wiley-VCH, Weinheim, 1999.

  2. Maar, I. L.; Talanta, 1975, 22, 387-394.

Fapergs, CNPq, UFSM