AVALIAÇÃO DA CONTAMINAÇÃO DA BACIA DO RIO DAS VELHAS POR AGROTÓXICOS ORGANOFOSFORADOS
Fernando Carvalho Silva (PG)1,2, Alcione Ribeiro Matos3, Ciomara Rabelo de Carvalho(PQ4 e Zenilda de Lourdes Cardeal (PQ)1,
1. Departamento de Química - ICEX - Universidade Federal de Minas Gerais
2. Departamento de Química - CT - Universidade Federal do Maranhão
3. Fundação Estadual do Meio Ambiente FEAM - Belo Horizonte MG
4. Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais CETEC - Belo Horizonte MG
palavras chaves : bacia do rio das velhas, pesticidas organofosforados, CG -EM
A bacia do rio das Velhas esta localizada na região central do estado de Minas Gerais e tem grande importância social e econômica, pois é responsável pelo abastecimento de água de uma população de quase 4 milhões de habitantes que se distribui entre a região metropolitana de Belo Horizonte e outros 51 municípios. No rio das Velhas são lançados diariamente vários tipos de poluentes sem qualquer tipo de tratamento. Entre eles estão os agrotóxicos, geralmente aplicados de forma indiscriminada pelos agricultores nas plantações que ficam próximas ao leito do rio. Entre as classes de agrotóxicos mais utilizadas nessa região estão os organofosforados que são altamente nocivos para os seres humanos pois sua ação se processa através da toxicidade aguda. Eles inibem a enzima colinesterase produzindo um acúmulo de acetilcolina nas fibras nervosas que pode levar a convulsões, paradas respiratórias e coma.
Este trabalho teve como objetivo desenvolver uma metodologia geral para analise de agrotóxicos organofosforados em águas usando a técnica de extração MEFS e análise por cromatografia gasosa com um detector seletivo de massas (CG -DSM). Este método foi utilizado principalmente nas análises das amostras coletadas em vários pontos da bacia do rio das Velhas.
A técnica de microextração em fase sólida (MEFS) apresenta uma série de vantagens tais como : amostragem simples, alta pré-concentração, baixo custo, sem solventes, fácil automação, e maior precisão e limite de detecção. Esta metodologia consiste basicamente em duas etapas: na primeira etapa, uma fibra de sílica fundida coberta com uma fase estacionária é adaptada em uma seringa e colocada em contato direto com a amostra ou no espaço confinado (headspace) para efetuar a extração, em seguida a fibra é introduzida diretamente no injetor de um cromatógrafo a gás, onde os compostos extraidos são liberados termicamente e analisados.
Uma mistura padrão de 100,00 mg/L em metanol foi preparada com os pesticidas forato, diazinon, disulfoton, metil paration, fention, clorpirifós e etion. A curva de calibração foi preparada diluindo um padrão intermedário de 0,50 mg/L em água para as seguintes concentrações 0,10, 0,25, 0,50, 0,8 e 1 mg/L. Nas extrações, utilizou-se uma seringa de MEFS e fibras de PDMS com 100 mm de espessura As análises foram efetuadas em um cromatógrafo a gás modelo Hewlett Packard 5890, série II equipado com um injetor automático 7673 e um detector seletivo de massas 5971 A operado no modo SIM. A temperatura da linha de transferência foi de 290 oC e o tempo de não ionização de 2 min. Utilizou-se um injetor sem divisão (splitless) a 270 oC com a purga fechada por 10 min. As separações ocorreram em uma coluna capilar HP-5 de 25m x 0.32 mm d.i e espessura da fase de 0.25 mm com a seguinte programação de temperatura no forno: 80 oC por 1 min, 30 oC/ min de 80 a 205 oC , 5 min em 205 oC, 5 oC/min de 205 oC a 230 oC/min, 50 oC de 260 a 280 oC e 2 min a 280 oC
Inicialmente, efetuou-se a otimização de forma univariada das condições de extração por imersão: o tempo de absorção (20, 30, 40, 50, 60 e 70 min), tempo de dessorção térmica (5, 7 e 10 min), a força iônica do meio (sem sal, 10, 20, 30 e 36 % de NaCl), com agitação analisando em triplicata um padrão de 0,50 mg/L. Utilizou-se temperatura ambiente e um volume de 8 ml de amostra As seguintes condições foram selecionadas para a extração 40 min de absorção, 10 min dessorção térmica, cloreto de sódio na concentração de 10 %.
A linearidade da curva de calibração foi calculada analisando misturas padrões em água na faixa de concentração de 0,10, 0,25, 0,50, 0,8 e 1,00 mg/L. Os coeficientes de correlação (r) obtidos para os pesticidas organofosforados da mistura padrão se situaram entre 0.9950 e 0,9970. Os coeficientes de variação (CV) que ficaram entre 7,83 a 29,40 %. Os limites de detecção (LOD) ficaram entre 0.012 a 0,222 mg/L.
A extração com MEFS apresenta uma série de vantagens em relação a extração líquido-líquido: alta pré-concentração, não utiliza solventes, tempo de extração extremamente reduzidos e baixa contaminação dos analistas. O método proposto têm uma boa faixa de linearidade, precisão e límite de detecção melhores ou iguais aos dos métodos oficiais.
A partir de análise de dados registrados na FEAM (Fundação Estadual do Meio Ambiente M.G.) e com a ajuda de funcionários da EMATER de cada localidade foram selecionados diferentes pontos ao longo da bacia onde haveria maior probabilidade de contaminação por agrotóxicos. Estes locais foram visitados, fotografados e os agricultores foram questionados sobre os principais produtos cultivados e a utilizaçao dos agrotóxicos. Então, em cada local, estabeleceu-se onde seria o ponto ideal de coleta de água e sedimento. Finalmente, foram selecionados sete pontos de amostragem ao longo da bacia.
As coletas foram feitas em tres campanhas diferentes, seguindo-se as normas de planejamento, amostragem e preservação da ABNT.
A análise dos vários pontos de amostragem do rio das Velhas mostrou a presença de alguns pesticidas tipo diazinon, forato, malation, etion, disulfoton e fention em concentrações próximas ao límite de detecção do método. Somente na segunda campanha observou-se concentrações mais altas para o malation, em torno de 0,2 mg/L.
(FUNDEP-UFMG, CAPES, PROJETO MANUELZÃO)