DROGAS PSICOTRÓPICAS E O ENSINO DE QUÍMICA ORGÂNICA

Daniela de Luna Martins (IC); Mônica Regina Marques Palermo de Aguiar (PQ)

Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química, UERJ

R. São Francisco Xavier, 524 - Pavilhão Haroldo Lisboa da Cunha, sala 406

20559-900 – Maracanã - Rio de Janeiro/RJ; e-mail: mmarques@uerj.br

Palavras-chave: drogas psicotrópicas, ensino de química, multidisciplinaridade


A adolescência é uma fase de profundas transformações na vida do ser humano. Esse é um período de indagações, conflitos na busca de si mesmo, na construção dos próprios conceitos e na procura da auto-afirmação. O adolescente aprende a caminhar sozinho e deseja encontrar seu papel na sociedade em que vive.

Não são poucos os obstáculos que o adolescente tem que transpor e a grande questão é: Como se posicionar diante de situações tão novas? É neste contexto que surgem as drogas, prometendo alívio, fuga e prazer.

Um dos principais problemas do ensino de Química no ensino médio é a falta de interesse demonstrada pelos alunos. Essa falta de motivação decorre da incapacidade de associação, por parte do aluno, dos conteúdos ministrados ao seu cotidiano. Segundo Vygostsky a interação social é de grande importância para uma aprendizagem efetiva e portanto a construção do conhecimento na sala de aula deve ser um processo de negociação entre professores e alunos.

Este trabalho tem como objetivo desenvolver aulas de química orgânica a partir de um tema gerador – drogas – por se tratar de um assunto presente no dia a dia do aluno, tanto em suas próprias experiências como por se tratar de um assunto comum às manchetes dos jornais. Além disso, pretende-se incentivar a associação da Química a outras matérias, buscando um ensino multidisciplinar.

O trabalho foi desenvolvido com professores do curso de formação continuada de professores do ensino médio oferecido pelo Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro (CECIERJ).

Os recursos didáticos empregados neste trabalho foram: fita de vídeo “Drogas Lícitas e Ilícitas e sua Ação no Sistema Nervoso Central” do NEPAD/UERJ, música “Amanhã” de Guilherme Arantes, cartazes e dados estatísticos oficiais sobre o uso de drogas no país. Foi feita uma dinâmica de grupo, utilizando artigos de jornais e revistas. Por meio desses artigos, foram discutidos temas ligados ao uso de drogas, tais como: drogas e família, o adolescente e o abuso de drogas, a influência dos meios de comunicação e o papel da escola com respeito ao abuso de drogas, dentre outros.

Durante as palestras, foram abordados os seguintes tópicos: conceito de drogas psicotrópicas, sistema nervoso central, drogas e seu mecanismo de ação, drogas mais utilizadas por alunos do ensino médio, o uso de drogas na história da humanidade e aspectos jurídicos. As drogas abordadas foram: o álcool, os solventes, a maconha, a cocaína, a nicotina, os ansiolíticos e os alucinógenos.

As estruturas químicas dessas drogas foram associadas ao conteúdo programático da disciplina de química orgânica, como por exemplo: hibridação dos átomos de carbono, ligações químicas, polaridade das ligações, cadeias carbônicas, ligações intermoleculares (se o composto pode fazer ligações hidrogênio, qual a conseqüência dessa interação nas propriedades físicas dos compostos).

Para exemplificar o assunto isomeria, foi explicada a transformação do THC, princípio ativo da maconha, no seu isômero. Essa transformação, que ocorre quando o usuário prende a respiração ao fumar maconha fuma esta droga, produz o isômero que é responsável pelo efeito desta droga.

As funções químicas também foram abordadas, como por exemplo: a função álcool presente nas bebidas alcoólicas, os compostos organoclorados e os ésteres presentes nos solventes e as aminas presentes nos alcalóides dos quais fazem parte muitas drogas.

O equilíbrio químico existente nas reações de preparação de derivados de ácido, foi exemplificado através da diacetilação da morfina para formar a heroína. Neste momento, foi explicado que, mesmo sendo a morfina a única forma ativa, a heroína é mais potente devido à sua maior hidrofobicidade em comparação com a morfina, o que favorece a sua absorção pelo tecido nervoso rico em gordura.

Além disso, foram apresentadas propostas de como os professores poderiam associar-se aos professores das demais disciplinas. Como por exemplo, a biologia, onde pode ser mostrado com detalhes o sistema nervoso central em suas divisões e funções; a história pode mostrar o papel das drogas na religião de vários povos e em vários contextos históricos como a lei seca, a guerra do ópio. A geografia poderia abordar os aspectos social e jurídico das drogas mostrando o problema do tráfico de drogas.

O emprego do tema das Drogas possibilitou aos professores relacionar os conteúdos de Química com a sua realidade e obter informações necessárias ao seu posicionamento com relação ao uso dessas substâncias.



Referências:

Cotrim, B. C. Drogas Mitos e verdades. 4 ed. São Paulo, 1998

Paulino, W. R. Drogas, 8a ed. São Paulo, 1999

Cardoso A. A. S. e colaboradores. Capacitação em Prevenção ao Abuso de Drogas para Profissionais de Educação. NEPAD, UERJ, Rio de Janeiro, 1999



Agradecimentos:

Ao Centro de Ciências do Estado do Rio de Janeiro (CECIERJ), órgão vinculado à Secretaria de Ciências e Tecnologia do Estado do Rio de Janeiro e ao Núcleo de Estudo e Pesquisas em Atenção ao Uso de Drogas (NEPAD)-UERJ.