COMPOSTOS DE RUTINA COM ORGANOESTÂNICOS


Vanessa Jóia Melo (PG)1, José Roberto da Silveira Maia (PQ)1, Tânia Toledo de Oliveira (PQ)2, Tanus Jorge Nagen (PQ)3, e Aloísio da Silva Pinto (PQ)4.


1 Departamento de Química, Universidade Federal de Viçosa.

2 Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular, Universidade Federal de Viçosa.

3 Departamento de Química, Universidade Federal de Ouro Preto.

4 Departamento de Veterinária, Universidade Federal de Viçosa.


palavras-chave: rutina, compostos de coordenação, organoestânicos


A rutina é um flavonóide que pode ser classificado em Química de Coordenação como um ligante polibásico. A sua composição química restringe-se aos elementos: oxigênio, carbono e hidrogênio. O oxigênio liga-se ao carbono e ao hidrogênio para formar os grupos funcionais hidroxila e carbonila, principais sítios de coordenação da rutina. Este elemento participa ainda da estrutura molecular como heteroátomo de cadeia cíclica, e liga o grupo raminosil ao sistema aromático da molécula. As hidroxilas ocupam as posições 5, 7, 3’ e 4’, a carbonila a posição 4, e o grupo raminosil a posição 3 na estrutura tridimensional deste ligante. Um aspecto interessante sobre a química de flavonóides deve-se à sua reatividade específica, por exemplo, hidroxilação, metilação, acilação, glicosilação e raminosilação.

Do ponto de vista da Química de Coordenação, o estudo dos modos de coordenação deste ligante a metais de transição e organoestânicos causa interesse pelo seu caráter polibásico e ambidentado. Existem duas possibildades para a formação de anéis quelato: a primeira, envolve os átomos de oxigênio nas posições 4 e 5, ou seja, coordenação via uma carbonila e uma hidroxila vicinais, de maneira análoga ao acetilacetonato; a segunda, duas hidroxilas nas posições 3’ e 4’, formando um anel quelato de cinco átomos.

Reações equimolares entre a rutina e organoestânicos foram processadas em clorofórmio e acetonitrila a temperatura de 40oC, sob atmosfera inerte. O produto 1 foi obtido da reação com o [SnCl2Ph2], e os produtos 2 e 3 da reação com o [SnClPh3]. Todos os compostos são inéditos. Os espectros de infravermelho foram obtidos em Nujol entre janelas de iodeto de césio, e os espectros de ressonância magnética nuclear de estanho 119, em metanol. Vários métodos físicos de análise tais como a ressonância magnética nuclear de hidrogênio 1 e carbono 13, espectroscopia Mössbauer, microanálise e ponto de fusão têm sido utilizados na caracterização dos compostos.

A Tabela I mostra alguns dados coletados para estes compostos. Os dados de infravermelho sugerem que a coordenação do estanho(IV) não ocorreu via o oxigênio da carbonila no composto 1. Nenhum deslocamento foi observado na freqüência vibracional do estiramento nC=O, pós-coordenação. Na região de baixa freqüência, uma banda atribuída ao estiramento nSn-Cl sugere que pelo menos um átomo de cloro permaneceu ligado ao estanho(IV) após a coordenação da rutina, ou esta absorção corresponde ao modo vibracional assimétrico dos cloreto em posição trans ao estanho(IV). O número de coordenação do estanho(IV) na amostra se verifica pelo deslocamento químico do sinal de ressonância do estanho 119, em relação ao precursor organoestânico. Quanto mais baixa a freqüência do sinal, maior o número de coordenação, ou seja, o aumento da densidade eletrônica sobre o átomo de estanho causa um aumento na blindagem do centro metálico. Outros fatores, por exemplo, eletronegatividade, circulação de carga, e impedimento estérico de grupos substituintes podem influir na blindagem do átomo de estanho(IV), e consequentemente, no deslocamento químico do sinal de ressonância.

Os dados de espectroscopia de ressonância magnética nuclear de estanho 119 sugerem um aumento no número de coordenação do estanho(IV) em 1, 2 e 3, em razão do deslocamento químico observado para estes compostos.


Tabela I Alguns dados espectroscópicos, e ponto de fusão para os compostos.


Produto NC nC=O nSn-Cl d(119Sn) Pf (oC)



C28H32O16 1654 194

[SnCl2Ph2] 1, a 4 -32.0

1. [SnCl2Ph2(C28H32O16)] b 1654 360 -534.1 99 - 101

[SnClPh3] 2, c 4 -44.7

2. [SnClPh3(C28H32O16)] b -185.1 178 - 180

3. [SnClPh3(C28H32O16)] b -189.1 161 - 163

[SnClPh3(DMSO)] 3, d 4 -228.6

[SnPh2(Ox)2] 4, e 4 -397.0

[SnPh2(acac)2] 4, f 4 -514.0

[SnPh3(Ox)] 5, c 4 -190.5


acac – acetilacetonato; Ox – oxinato; Solventes: a - CH2Cl2; b – CH3OH; c – CDCl3; d – DMSO; e – 15% CHCl3; f – 30% CHCl3; – cm-1; – ppm; NC - número de coordenação.


Concluiu-se que o composto 1 tem o centro metálico hexacoordenado com a rutina em modo bidentado, via os átomos de oxigênio 3’ e 4’. Os compostos 2 e 3 tem o centro metálico pentacoordenado com a rutina em modo monodentado, provavelmente via o átomo de oxigênio da hidroxila 3’ou 4’.


1. A. G. Davies et al., J. Chem. Soc. A, 1969, 1136.

2. A. Lycka et al., Chem. Commun., 1981, 46, 1383.

3. J. Holecek et al., J. Organomet. Chem., 1983, 241, 177.

4. J. Otera, J. Organomet. Chem., 1981, 221, 57.

5. H. C. Clark et al., J. Organomet. Chem., 1983, 243, 299.

FAPEMIG / CNPq