ATIVIDADE MOLUSCICIDA DE NITROAROMÁTICOS SINTÉTICOS. INFLUÊNCIA DO POTENCIAL REDOX E DOS SUBSTITUINTES
1Fabiane Caxico de Abreu 1,2(PG), Francine Santos de Paula 1(IC),
Aldenir Feitosa dos Santos1(PQ), Antônio Euzébio Goulart SantAna1 (PQ),
2Mauro Vieira de Almeida3 (PQ), 1Marília O. F. Goulart1 (PQ)*
1Departamento de Química, Universidade Federal de Alagoas, 57.092-970, Maceió, AL, 2Departamento de Química Fundamental, UFPE, Recife, Pernambuco, 3Núcleo de Pesquisas Químicas, ICE, Universidade Federal de Juiz de Fora,
Juiz de Fora, MG. e-mail: mofg@qui.ufal.br
Palavras-chave: nitroaromáticos, potenciais redox, moluscicida
INTRODUÇÃO
A esquistossomose mansônica é doença parasitária causada pela presença do helminto Schistosoma mansoni no fígado das pessoas infectadas. É endêmica e afeta regiões tropicais e sub-tropicais. O molusco Biomphalaria glabrata age como hospedeiro intermediário. A redução da esquistossomose é crucial. A utilização de agentes moluscicidas promove a ruptura do ciclo evolutivo do verme e é considerada um dos principais pontos de ataque, em termos de erradicação da doença1.
Os moluscicidas de uso atual são de origem sintética ou natural. Vários deles são nitrocompostos aromáticos. A presença do grupo nitro parece ser obrigatória. Este requisito indica que parte da atividade deriva provavelmente da produção nitro-catalisada de espécies oxigenadas reativas ou ainda da ação de metabólitos nitrogenados com menor estado de oxidação. Os objetivos do presente trabalho consistiram em avaliar a ação moluscicida (em adultos Biomphalaria glabrata) de compostos nitroaromáticos, com a obtenção concomitante de seus dados eletroquímicos, na perspectiva de correlacionar os dados obtidos, o que poderia influenciar no planejamento de novas moléculas. Os compostos investigados foram divididos em cinco grupos principais.
Grupo A |
1: X = NH(CH2)6NH2 2: X = NH(CH2)2SH 3: X = OH
|
4 |
5 |
|
|
|||
Grupo B |
6: X = NH2 7: X = OH 8: X = NHCOCH3 9: X= NHNH2 |
10 |
11 |
12 |
||||
|
Grupo C 13: X = NH2; R = CF3 14: X = NH2; R = OMe |
|
Grupo D 15: X = NH(CH2)2NH2 16: X = NH(CH2)2SH |
|
|
|||
20
|
18 |
|
|
|
|
EXPERIMENTAL
Os potenciais redox, em volts (V), foram obtidos em meio aquoso tamponado (tampão fosfato, pH 7), são expressos vs. eletrodo de Ag / AgCl,Cl-(0,1 M), por uso de voltametria cíclica, em Hg. Os bioensaios seguiram os protocolos estabelecidos pela OMS. As substâncias foram solubilizadas pelo emprego de soluções contendo DMSO a 0,1 %. Seus valores são expressos em ppm.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A tabela 1 indica os valores de DL50 e os de Epc1 obtidos para 1-20.
Tabela 1: Atividades moluscicidas e parâmetros eletroquímicos dos nitroaromáticos
Comp |
1 |
2 |
3 |
4 |
5 |
6 |
7 |
8 |
9 |
10 |
DL50 |
72,4 |
116,5 |
I |
1,82 |
40,2 |
56,1 |
8,2 |
I |
0,07 |
55,6 |
Epc1 |
-0,532 |
-0,533 |
-0,700 |
-0,606 |
-0,541 |
-0,840 |
-0,857 |
-0,773 |
-0,833 |
-0,840 |
Comp |
11 |
12 |
13 |
14 |
15 |
16 |
17 |
18 |
19 |
20 |
DL50 |
52,9 |
I |
48,8 |
86,8 |
I |
I |
I |
I |
I |
I |
Epc1 |
-0,816 |
-0,762 |
-0,810 |
-0,730 |
-0,636 |
-0,597 |
-0,558 |
EI |
EI |
EI |
* Instável; I = inativo; EI = eletroinativo
Alguns dos compostos acima (4, 7, 9) apresentam atividade significativa.
A comparação entre os dados da tabela 1 (DL50 e Epc1) indica que a presença do grupo nitro é fundamental para a atividade biológica. O mesmo efeito foi anteriormente observado para agentes esquistossomicidas2. A faixa de potencial de redução do grupo nitro é muito larga e não se observa qualquer correlação, o que parece indicar que enzimas (nitroredutases) presentes no molusco são capazes de reduzir grupos nitro em diferentes ambientes. O parâmetro mais importante está relacionado à presença de grupos eletrodoadores em orto e para aos grupos nitro aromáticos, diretamente ligados ao anel ou em posição benzílica. Os resultados sugerem a possível formação de espécies eletrofílicas, após redução do grupo nitro, em mecanismo similar ao descrito para drogas anti-helmínticas2.
1 Lardans, V., Dissous, C. Parasitol. Today 14 (1), 413-417, 1998.
2Cioli, D.; Pica-Mattoccia, L.; Archer, S. Pharmac. Ther. 68 (1), 35-85, 1995.
FAPEAL, CNPq, CAPES, FAPEMIG, OMS