INTERFERÊNCIAS NA IDENTIFICAÇÃO PRELIMINAR DE CANABINÓIDES EM LABORATÓRIO FORENSE
Alexsandro Fiscina de Santana1(PQ), Bárbara Cristina Tavares Moreira1,2(PQ),
Fernando José da Silva Filho1(PQ) e Marly Fernandes Araújo Carvalho1,2(PQ)
1- Coordenação de Toxicologia-Laboratório Central de Polícia Técnica(LCPT)-Bahia
2- Departamento de Ciências Exatas e da Terra Universidade do Estado da Bahia
palavras-chave: THC, CCD, Ghamarawi
Entre as drogas de abuso mais usadas no Brasil encontra-se a maconha (Cannabis sativa), conhecida vulgarmente como haxixe, cânhamo indiano, marijuana, charas, erva, pau-de-fumo, kamonga, fumo-de-angola, entre outros1. Esta erva contém princípios ativos com efeito neuroléptico, tais como: ácido canabinóico, canabinol, canabidiol e tetrahidrocanabinol (THC). O THC é citado como o mais ativo e responsável pela ação eufomânica1.
Em
geral, esta droga é consumida através da queima da
planta seca, picada, semi-pulverizada e acondicionada em cigarros
típicos, chamados no Brasil de fininho ou
baseado1. Quando este material (em forma de
charutos ou folha ïn natura) é
apreendido pela autoridade policial o mesmo é encaminhado aos
laboratórios forenses para a realização de um
teste preliminar de identificação, denominado Teste de
Constatação.
O objetivo deste trabalho é discutir as implicações advindas do teste preliminar de identificação de maconha, devido a possibilidade de resultados falso-positivos2 que podem ser obtidos para folhas de algumas ervas, comumente utilizadas pela população, tendo em vista a importância deste resultado para a configuração do flagrante. Foram testados os vegetais erva-doce, erva-cidreira, chá-mate, boldo, menta que são freqüentemente utilizados em chás e efusões por apresentarem algum efeito benéfico à saúde: tratamento de gases, dores de estômago, calmantes3.
No LCPT-BA, para a identificação de maconha é utilizado o reativo de Ghamarawi, solução 5% (m/v) de p-dimetilaminobenzaldeído em ácido sulfúrico concentrado. A reação química é realizada com o extrato da folha, em éter de petróleo, apresentando uma coloração violácea indicativa da presença do THC. Neste trabalho, foram preparados extratos, em éter de petróleo, dos vegetais: boldoa, erva-cidreirab, erva-docec, maconhad, mentae, chá-matef e de uma planta não identificadag, selecionada de uma perícia da Coordenação de Biologia do LCPT. O teste com o extrato de cada vegetal foi realizado simultaneamente com o extrato da maconha, observando-se os resultados de coloração apresentados em duas etapas:
1a adição do reagente de Ghamarawi; 2a adição de água destilada. Os teste foram realizados em cápsulas de porcelana recentemente lavadas com água destilada e éter de petróleo. Realizou-se uma prova em branco para descartar qualquer possibilidade de contaminação de material, fato muito comum em laboratório de rotina. A tabela abaixo apresenta os resultados obtidos para cada etapa.
|
Coloração |
|
Vegetal |
1a etapa |
2a etapa |
Boldo |
Castanho esverdeado |
Violáceo |
Erva-doce |
Castanho |
Violáceo |
Menta |
Castanho esverdeado |
Violáceo |
Erva-cidreira |
Castanho |
Violáceo |
Maconha |
Castanho |
Violáceo |
Mate |
Castanho |
Violáceo |
Ignorada |
Castanho |
Violáceo |
Os extratos foram submetidos a análise por Cromatografia de Camada Delgada (CCD), utilizando-se placas HPTLC de sílica gel 60, F254, da Merck, e o sistema eluente butanol:heptano:ácido acético (90:9:1). A revelação física foi realizada com luz de l = 366 nm, para a qual, com exceção do boldo, todas apresentaram coloração azul fluorescente, semelhante ao extrato da maconha. Na revelação química utilizou-se a seqüência de reagentes dietilamina /solução saturada de sal azul B/ dietilamina e obteve-se o cromatograma a seguir:
a
b
c
d
e
f
g
Observou-se
que, apesar da semelhança entre as manchas, elas eram
distintas daquelas apresentadas pela maconha com a revelação
química. De acordo com os resultados obtidos, verificou-se a
interferência dos vegetais testados na identificação
de maconha com o reagente de Ghamarawi, o que justifica a
necessidade de confirmar todos os resultados positivos para THC, com
um método alternativo. Para este fim pode ser utilizado a CCD
em alta eficiência, método barato, rápido e
simples.
Referências Bibliográficas:
1 Filho, D. B., Toxicologia Humana e Geral, 1a ed., LITEL, 1983, Curitiba, p. 513-5.
2 Andrade, M. P., Introdução ao Monitoramento de Drogas de Abuso, Behring, 1999, São Paulo.
3 - Cruz, G. L.., Dicionário das Plantas Úteis do Brasil, 5a ed., Bertrand Brasil, 1995, Rio de Janeiro.