INFLUÊNCIA DE ESPÉCIES DE SILÍCIO NAS PROPRIEDADES TEXTURAIS DO CATALISADOR DE Pt/Al2O3-Cl
Marluce Oliveira da Guarda Souza1 (PQ) e Maria do Carmo Rangel2 (PQ)
1Departamento de Ciências Exatas e da Terra- Universidade do Estado da Bahia
2Grupo de Estudos em Cinética e Catálise- Universidade Federal da Bahia
Palavras-chaves: reforma da nafta, catalisador, silício
A platina, associada a um outro metal e suportada em gama-alumina, é usada como catalisador na reforma da nafta. Neste processo, além da ação dos sítios metálicos, algumas reações são catalisadas pelos sítios ácidos do suporte. Nas condições industriais, o catalisador sofre desativação, como consequência da deposição de coque e da sinterização, além da ação de substâncias contaminantes da carga, que atuam destruindo os sítios ativos, envenenando-os, ou obstruindo os poros. Os principais contaminantes do catalisador de reforma são o enxofre, os compostos orgânicos nitrogenados e oxigenados e os metais. Na década de 90, surgiram trabalhos envolvendo a ação do silício, como consequência dos danos que esse elemento causou em processos industriais, tais como a desidrossulfurização1 e a reforma catalítica da nafta2.
Em trabalhos anteriores2,3, avaliou-se a influência de espécies de silício, adicionadas ao catalisador Pt/Al2O3-Cl, de duas formas distintas (condições estáticas e dinâmicas), na função metálica. Neste trabalho, estudou-se a influência dessas espécies nas propriedades texturais do catalisador, relacionando-as com o desempenho da função ácida, em sólidos contaminados sob condições estáticas.
As amostras foram preparados por impregnação da alumina (g-Al2O3 CK300, Akzo Chemie Ketjen Catalyst), com área específica de 184m2/g e volume de poros de 0,49 cm2/g, previamente calcinada a 500oC e peneirada em 40- 80 mesh. Usou-se uma solução 0,0122 M em ácido cloroplatínico (Aldrich, 99,999% de pureza) e outra 0,5M em HCl, por 5h, em rotavapor. Em seguida, o material foi filtrado a vácuo, seco em estufa a 120oC, por 6h e calcinado sob fluxo de ar, a 500oC, por 2h.
Os catalisadores foram contaminados por impregnação de 3g do catalisador em 10mL de uma solução de metil-fenil- polioxisiloxano substituído (MFPS), em n-hexano. Usou-se 0,15; 0,7 e 1g de silano. A mistura foi agitada em rotavapor durante 24 h e seca em estufa, a 60oC, por 4h, até à completa eliminação do solvente. Em seguida, o material foi aquecido sob fluxo de nitrogênio a 500oC, por 2h. Os sólidos foram analisados por espectrometria de emissão em plasma indutivamente acoplado, microssonda eletrônica de raios-X e medidas de área específica (BET), volume de poros, distribuição do tamanho de poros e área de microporos. Os sólidos foram testados na isomerização do n-hexano, uma reação típica da função ácida4, em teste microcatalítico operando à pressão atmosférica nas seguintes condições: 420oC, WHSV= 4,8h-1, hidrogênio/hidrocarboneto (molar)=7.
Os sólidos contaminados apresentaram 0,4 (Amostra PS 0,4), 1,3 (Amostra PS 1,3), 1,9 (Amostra PS 1,9) e 3,4% (Amostra PS 3,4) de silício. Por microssonda eletrônica de raios-X, observou-se que a distribuição do silício nas amostras é não uniforme. Os resultados de área específica, área de microporos, volume de poros e atividade catalítica são apresentados na Tabela 1. Observa-se que a área específica não sofreu alteração devido à presença do silício. A presença do silício levou ao desenvolvimento de microporos, mas não houve variação significativa da área de microporos com o teor de contaminante. O volume de poros diminuiu com a presença e o aumento no teor de silício. A distribuição do tamanho de poros foi deslocada para valores mais baixos com a diminuição do teor do contaminante. Estes resultados sugerem que as espécies de silício depositam-se na entrada dos poros, causando uma diminuição do seu tamanho. Entretanto, a quantidade depositada não é suficiente para que se observe uma diminuição na área específica.
Amostra |
Sg (BET) (m2/g) |
Sg (microporos) (m2/g) |
Volume de poros (cm3) |
Conversão (%) |
Seletividadeaos i-hexanos(%) |
P |
198 |
0 |
0,51 |
30 |
88 |
PS 0,4 |
199 |
5 |
0,49 |
12 |
80 |
PS 1,3 |
192 |
7 |
0,46 |
10 |
82 |
PS 1,9 |
200 |
6 |
0,42 |
17 |
91 |
PS 3,4 |
213 |
6 |
0,37 |
20 |
79 |
A partir dos resultados de atividade catalítica, observou-se que a conversão e a seletividade das amostras contaminadas variaram, de modo distinto, com o tempo, em relação à não contaminada, indicando que ocorrem modificações na superfície ao longo da reação. As espécies de silício causaram uma diminuição na conversão e na seletividade até uma concentração de 1,3%, o que pode ser atribuído à redução do volume de poros, dificultando o acesso dos reagentes aos sítios ativos. A partir desse valor, observa-se uma lenta recuperação dos valores desses parâmetros, sugerindo a formação de novos sítios ativos, provavelmente devido à formação de aluminosilicatos.
Pode-se concluir que as espécies de silício, no catalisador Pt/Al2O3-Cl, distribuem-se de maneira não uniforme e alteram as características texturais e a atividade catalítica da função ácida, existindo uma correlação entre ambas, apenas em amostras com baixos teores de silício (<1,9%).
(FINEP)
1Kellberg, L.; Zeuthen, P.; Jakobsen, H. J.; J. Catal. 1993, 143, 45.
2Souza, M. O. G.; Reyes, P.; Rangel, M. C.: Catalyst Deactivation 1999. Studies and Surface Science and Catalysis, 1999.
3 Envenenamento do Catalisador Pt/Al2O3-Cl por Silício. Livro de Resumos da 22a Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química. Vol. 1, 1999.
4 Bourdillon, G.; Gueguen, C.; and Guisnet, M.; Appl. Catal. ,1990, 123.