INFLUÊNCIA DA NATUREZA DE AGENTES COMPETIDORES NAS PROPRIEDADES DE CATALISADORES METÁLICOS

Mário Nilo. Mendes Barbosa1(PQ), Gian Carlo Gangemi2 (PQ),

Donato Alexandre Gomes Aranda3(PQ), Maria do Carmo Rangel1 (PQ)

1Grupo de Estudos em Cinética e Catálise, Universidade Federal da Bahia

2 Deten Química S.A. Polo Petroquímico de Camaçari

3 Escola de Química, Universidade Federal do Rio de Janeiro


palavras-chave: dispersão metálica, agentes competidores, catalisadores de platina


Os alquilbenzenos lineares (LAB) são a principal matéria prima na produção de detergentes sintéticos biodegradáveis. Esses compostos são produzidos pela reação entre benzeno e monolefinas, estas últimas obtidas pela desidrogenação de n-parafinas de cadeias longas (C9-C14). Esta reação, conduzida industrialmente sobre catalisadores suportados do tipo Pt-Sn-In/Al2O3, exige alta dispersão metálica, mas um suporte não ácido,de modo a minimizar a ocorrência de reações de isomerização e craqueamento. Para aumentar a dispersão metálica,diversas substâncias (agentes competidores) são adicionadas ao meio reacional, durante a preparação1. O ácido clorídrico é o mais usado, produzindo alta dispersão, mas introduz elevada acidez ao suporte2. Dessa forma, na obtenção dos catalisadores de desidrogenação de parafinas, deve-se optar por outro composto, que possa favorecer a dispersão e a atividade metálica sem, entretanto, acidificar a alumina. Neste caso, a pesquisa por novos agentes competidores se torna uma importante etapa na preparação desses materiais. Neste trabalho, comparou-se a influência de um ácido orgânico com um inorgânico, sobre a dispersão da platina, e estudou-se como eles influenciam outras propriedades dos catalisadores, tais como acidez e atividade dos sítios ácidos e metálicos. O estudo tem a finalidade de identificar o agente competidor mais indicado para a preparação de catalisadores de desidrogenação de parafinas de cadeia longa, na produção do LAB. Foram usados ácido acético e ácido fosfórico, que foram comparados com ácido clorídrico.

Os catalisadores foram preparados por impregnação da g-Al2O3 (Degussa D-63403 peneirada em 40-80 mesh), previamente calcinada a 500oC por 2 h. Usou-se uma solução 0,04M de H2PtCl6 e outra 6M do agente competidor. A dispersão foi agitada, à temperatura ambiente, por 6 h. Em seguida, o material foi filtrado, seco em estufa a 1200C, por 12 h e calcinado a 5000C, sob fluxo de ar. As amostras foram caracterizadas por espectrometria de emissão atômica em plasma indutivamente acoplado,espectrometria na região ultravioleta-visível com reflectância difusa e redução com temperatura programada (TPR). A atividade dos sítios ácidos e metálicos foi avaliada através da isomerização do n-hexano e desidrogenação do ciclohexano, reações típicas dos sítios ácidos e metálicos respectivamente.

Os resultados de espectrometria na região ultravioleta-visível mostraram que a utilização de ácido acético ou fosfórico leva a mudanças significativas na esfera de coordenação da platina comparada ao sistema com ácido clorídrico. Observou-se bandas largas e assimétricas na região de transição eletrônica entre os orbitais d, indicando que, durante a etapa de calcinação, houve uma decomposição drástica do sal precursor, gerando espécies superficiais do tipo a-PtO2 ou partículas de Pto. Entretanto, não houve diminuição da dispersão metálica, como mostra a Tabela 1, em que nota-se que o ácido fosfórico levou a um aumento da dispersão, em comparação ao ácido clorídrico, enquanto o acético nítrico não alterou este valor. Os perfis de TPR apresentaram um pico a baixas temperaturas, atribuído a espécies cloradas superficiais de platina2, e outro a valores mais altos, devido à redução do metal interagindo com o suporte3. Os deslocamentos do primeiro pico não são significativos, quando comparados ao pico do material com ácido clorídrico e, então, pode-se supor que a natureza dos agentes competidores não afeta a redução da platina superficial. Por outro lado o segundo pico, que ocorre a 365oC no TPR do sólido preparado com ácido clorídrico, foi deslocado para 379 e 440oC no caso do ácido fosfórico e acético respectivamente. Isto indica que, nos dois últimos casos, o agente competidor aumentou a interação da platina ligada ao suporte, dificultando a sua redução. A avaliação da função metálica dos catalisadores, na desidrogenação do ciclohexano, apresentou a mesma tendência dos resultados de dispersão, mostrando uma relação entre as duas propriedades. A avaliação dos catalisadores na isomerização do n-hexano mostrou que a maior quantidade de isoparafinas foi produzida com o material preparado com ácido clorídrico, seguido do fosfórico e acético, enquanto a produção de olefinas só foi significativa no caso do ácido fosfórico. Todos os materiais mostraram baixa capacidade de craqueamento.


Tabela 1. Dispersão, atividade do sítios metálicos (% benzeno) e atividade dos sítios ácidos de catalisadores Pt/Al2O3 preparados com diferentes agentes competidores

Amostra

Agente competidor

Dispersão (%)

Desidrog. do n-hexano

Isomerização do n-hexano



Benzeno

(%)

Isoparafinas* (%)

Olefinas (%)

HC leves (%)

Pt-Cl

Ac.clorídrico

47

34,7

21,13

0,37

0,71

Pt-P

Ac. fosfórico

60

71,6

8,26

4,67

0,74

Pt-A

Ac. acético

49

45,6

7,76

0,38

0,68

* 2,3-dimetilbutano, 2,2-dimetilbutano, 2-dimetilpropano, 3-dimetilpropano


A partir desses resultados, pode concluir que o ácido fosfórico é o mais indicado para preparar catalisadores de desidrogenação de parafinas, para formar monoolefnas, destinadas à produção de LAB. Esses materiais possuem boa capacidade desidrogenante, devido à sua elevada dispersão, e baixa capacidade de isomerização e de craqueamento, como resultado da baixa acidez do suporte.

(RHAE, FINEP, CNPq)


1A. K. Aboul-Gheit, S. M. Abdel-Hamid, in G. Poncelet, Eds., Scientific Bases for the Preparation of Heterogeneous Catalysts VI. Elsevier. Amsterdam. 1995. Pag. 1131.

2G. Lieski, G. Lietz, H. Spindler, J. Volter, J. Catal., 81 (1983) 17 .

3 K. Kunimore, Y. Ykeda, M. Soma, T. Uchijima., J. Catal. , 79 (1983)185.