DETERMINAÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DE FORMALDEÍDO E ACETALDEÍDO NA FLORESTA AMAZÔNICA


Sergio Telles de Oliva (PG), Maria de Lourdes Botelho(PQ), Humberto Rodrigues Perez (IC), Carlos Magno Amaral (PG) & Tania Mascarenhas Tavares (PQ)


LAQUAM -Laboratório de Química Analítica Ambiental

Departamento de Química Analítica, Instituto Química, Universidade Federal da Bahia Campus Universitário de Ondina, S/N. 40170-280 – Salvador - Bahia


Palavras-chave: aldeídos, atmosfera, Amazônia


A composição química da atmosfera é largamente afetada pela biosfera terrestre e marinha, sendo as plantas e oceanos responsáveis pela emissão de uma quantidade expressiva de compostos orgânicos voláteis (COVs) (Sharkey et al.,1991). Estas emissões conduzem a uma série de transformações químicas e físicas complexas, resultando em diversos efeitos na química do ozônio, do NOx, do CH4, na formação de aerossóis, além de outros, com reflexos na composição da atmosfera quer a nível regional quer a nível global. A magnitude das fontes naturais e a taxa de transporte destes gases são as maiores fontes de incertezas nos cálculos dos modelos e balanço de massa na fotoquímica global, particularmente os terpenos, os álcoois e os aldeídos. Formaldeído e acetaldeido, em particular, são emitidos diretamente pela vegetação, formados na atmosfera como poluentes secundários ou emitidos durante a queima da biomassa e do álcool combustível .


Os dados existentes sobre COVs na atmosfera, principalmente de áreas remotas, são ainda insuficientes para a construção de bons cenários, chamando a atenção as poucas medidas que tem sido feitas dos COVs oxigenados (Singh et al., 1995). Embora estime-se que as florestas e savanas tropicais contribuam com metade da emissão de COVs no mundo (Guenther et al., 1995), poucos dados existem sobre estes compostos na Floresta Amazônica (Grosjean, 1995; LBA,1996).


Este trabalho teve como objetivo a medida e comparação dos níveis de concentrações de formaldeído e acetaldeído na Floresta Amazônica durante a estação chuvosa ( fevereiro 99, sem queima de biomassa) e a estação seca (outubro 99,com queima de biomassa) em dois ecossistemas diferentes, localizados no Estado de Rondônia: estação ABRACOS – floresta transformada em pasto e na reserva biológica do Jarú- floresta nativa e densa.


As amostragem foram feitas em paralelo em ambos os sítios. Na estação ABRACOS (pasto) as amostras foram coletadas ao nível do solo, enquanto que na reserva biológica do Jarú (floresta) as amostragens foram feitas ao nível do solo e acima da copa das árvores, em uma torre a uma altura de 42 metros. Para amostragem dos aldeídos utilizaram-se tubos de adsorção do tipo “Sep-pak’s”, contendo cerca de 360 mg de sílica C18 impregnados com 2,4 dinitrofenilhidrazina, através dos quais se fez passar ar com um fluxo de cerca de 35 L/h por uma hora. Após o término de cada coleta as amostras foram embaladas em papel de alumínio e condicionadas em frascos de vidro bem vedados, conservadas a aproximadamente 15 oC até análise. O material de embalagem e análise foi previamente descontaminado com acetonitrila grau cromatográfico. No laboratório os cartuchos foram eluídos com cerca de 3 mL de acetonitrila, determinando-se o volume de eluição por pesagem. A análise foi feita por CLAE com detecção UV (l = 360 nm ), utilizando-se uma coluna Axxiom ODS (5 mm, 150 X 4,7 mm), um fluxo de 1,4 mL/min e eluição com gradiente (água : acetonitrila ). A curva de calibração foi obtida a partir de um padrão de referência ERA-013K, Radian.


Concentrações de formaldeído e acetaldeído (ppbv) na atmosfera da

Floresta Amazônica - Rondônia



Estação



Úmida - Fev. 99

Seca com queima de biomassa- Out. 99

Nível

Solo

Solo

42m de altura


Sítio

amostral


Pasto

(n = 32)


Floresta

(n=6)


Pasto

(n= 44)


Floresta

(n=26)


Floresta

(n=29)


Formaldeido



1 – 3,1

1,8 ± 0,7


0,5 – 3,0

1,9 ± 0,9


1,1 –13,0

5,2 ± 3,0


0,8 –3,4

2,2 ± 0,8


0,9 – 9,3

5,3 ± 2,2


Acetaldeido



<0,4-1,9

0,8 ± 0,3


<0,4-1,9

1,4 ± 0,6


<0,4 – 2,6

1,0 ± 0,6


<0,4-2,2

0,9 ± 0,6


<0,4-6,3

2,9 ± 1,6

Limites de quantificação, ppbv : Formaldeído : 0,1; Acetaldeído: 0,4

(volumes de amostragem de 35 L)


Os valores encontrados para ambos os aldeídos, na estação seca, no pasto, foram cerca de 2,5 a 4 vezes maiores que na estação chuvosa, revelando claramente a contribuição da queima da biomassa para os níveis de concentração destes compostos nesta atmosfera. Os valores encontrados na floresta, no período de seca, acima da copa das árvores, foram bem maiores que os encontrados ao nível do solo e comparáveis com os observados no pasto no mesmo período, podendo ser um indicativo de enriquecimento através do transporte de massas de ar provenientes de zonas onde ocorre a queima de biomassa. As concentrações ao nível do solo na floresta são menos afetadas por este transporte devido a pouca movimentação vertical de ar no interior da mata.


Referências Bibliográficas


- Grosjean,D,(1995), Química Nova,18, (2),184-201

- Guenther, A. et al.,(1995), J. Geophys. Res., 100, (5), 8873

- LBA,Grupo de Planejamento Científico(1996), Plano experimental conciso,
“O Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia”

- Sharkey et al.(Edits),(1991),Trace Gas Emissions by Plants, Academic Press, USA

- Singh, H, B. et al., (1995), Nature, 378, 50

CNPq, FAPESP