DITERPENOS DA RESINA DE MIKANIA HOOKERIANA DC (ASTERACEAE)


Anair Araújo Reis (PG), Carla Cardeal Mendes (PG), Nidia Franca Roque (PQ), Jamile Leão Rêgo (IC), Tatiana Pereira Leal Ferraz (IC)


Grupo de Estudos de Substâncias Naturais (GESNAT), Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química, Universidade Federal da Bahia


palavras-chave: diterpenos, Mikania, resina


O gênero Mikania, o maior gênero da tribo Eupatorieae, família Asteraceae, compreende cerca de 450 espécies, com aproximadamente 200 espécies ocorrendo no Brasil1. De acordo com a literatura, apresenta uma composição química bastante peculiar, observando-se a predominância de lactonas sesquiterpênicas ou de ácidos diterpênicos, particularmente do tipo caurano2.

Em recente trabalho sobre o conhecimento da flora do Pico das Almas, Chapada Diamantina BA, encontrou-se uma grande diversidade de espécies vegetais, inclusive uma variedade de espécies de Mikania, de ocorrência endêmica, as quais têm sido classificadas e estudadas quimicamente, apresentando predominantemente diterpenos caurânicos3,4.

Apesar do gênero ser facilmente reconhecido, existem dificuldades na delimitação das espécies devido não só ao grande número de espécies como também à existência de grupos altamente polimórficos2. Dessa forma o conhecimento da composição química se apresenta como um dado importante para o processo de classificação botânica. O presente trabalho descreve o isolamento e a identificação de diterpenos na resina de Mikania hookeriana DC.

A coleta da planta foi realizada pelo prof. Frederico Guaré Cruz em novembro de 1999, no Vale do Pati, município de Andaraí, Chapada Diamantina, Bahia. A espécie foi identificada pela profa. Maria Lenise Silva Guedes e a excicata encontra-se depositada no Herbário Alexandre Leal Costa, no Instituto de Biologia da UFBA. A planta apresentava o caule recoberto por uma resina incolor de aroma agradável e aspecto oleoso, que foi retirada mecanicamente.

Os espectros de RMN de 1H e 13C da resina mostraram a predominância de derivados diterpênicos do tipo caurano, inclusive a presença do grupo oxicinamoíla. Devido a presença de ácidos diterpênicos, a resina foi metilada com diazometano e analisada por cromatografia a gás (Coluna DB5, 30 m, Ti 60 oC, 5 o/min, Tf 290 oC 20 min). A avaliação dos dados cromatográficos mostrou que a resina apresentava seis substâncias com mais de 1% de abundância, ficando evidente a presença de monoterpenos, sesquiterpenos e diterpenos. A análise por CG-EM, permitiu a identificação do a-pineno (1) e do germacreno D (2).

A resina metilada (500 mg), foi submetida a uma coluna cromatográfica com gel de sílica (40-63 mm) e eluída com hexano-AcOEt, com polaridade crescente, resultando no isolamento do caur-16-en-19-oato de metila (3), caur-16-en-19-ol (4) e 15-oxicinamoil-16-en-19-oato de metila (5).

Através da análise dos espectros de RMN de 1H e 13C e comparação com os dados descritos na literatura, foi possível a identificação das substâncias (3) e (4)5. A presença do grupo oxicinamoíla ficou evidenciada nos espectros de RMN de 1H [d 7,69 d (1H , 15,8 Hz); 6,46 d (1H, 15,8 Hz); d 7,52 m (2H) e d 7,36 m (3H)]. Foi possível a localização do grupo oxicinamoíla no C-15 em função da variação observada nos deslocamentos químicos dos sinais referentes aos prótons olefínicos do C-17 (de d 4,79 sl e d 4,74 sl para d 5,17 sl e d 5,12 sl, respectivamente) e do H-13 (de d 2,62 sl para d 2,82 sl). O sinal correspondente ao hidrogênio oximetínico foi observado em d 5,41 sl. A análise do espectro de RMN de 13 C da resina bruta permitiu ainda identificar caur-16-en-19-al (6) através da comparação com os dados descritos na literatura6. Apesar dessa substância estar inicialmente presente em grande quantidade, o isolamento não foi possível, provavelmente devido a sua decomposição, comum em aldeídos.

A análise da resina de M. hookeriana indica que esta possui uma composição compatível com as outras espécies encontradas na Chapada Diamantina, ricas em ácidos diterpênicos. Por outro lado, algumas espécies de Mikania conhecidas como guaco, pricipalmente M. glomerata, apresentam atividade broncodilatadora e antimicrobiana relacionadas a presença de cumarinas e diterpenos do tipo caurano7,8. Caso seja comprovada tal atividade na resina de M. hookeriana, o fato se apresentará como uma grande vantagem, uma vez que esta poderá ser obtida da planta sem destruí-la.














(1) Bremer, K. Asteraceae: Cladisct and Classification. Oregon. Timber Press Inc., 1994. (2) Herz, W. Terpenoid Chemistry of Mikania Species. J. Indian Chem. Soc., 1998, 75, 559. (3) HIND, D.J.N. Kew Bull.,1993, 48, 245. (4) Roque, N. F. et al. 22 a RA da SBQ 1999, Resumo PN-007. (5) Gonzalez, A. G. et al. Phytochemistry, 1981, 20, 846. (6) Wu,Y-C. et al. J. Nat. Prod., 1996, 59, 635. (7) Davino, S.C. et al. Braz. J.Biol. Res.,1989, 22, 1127. (8) Leite, M. G. R. et al. Abstract 021, XII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Anais. UFP, Curitiba, Brasil,1992.

Leite, M. G. R. et al. Abstract 021, XII Simpósio de Plantas Medicinais do Brasil. Anais. UFP Curitiba, Brasil,1992.

CNPq, Finep