COMPOSTOS CARBONÍLICOS EM ALGAS DO LITORAL DA BAHIA
Vilma M. da Silva (PG), Marcia C. da C. Veloso1 (PG), Eliane T. Souza (IC),
Miguel Accioly** (PQ), Lidiane S. Portugal (IC) Nídia F. Roque (PQ) e
Jailson B. de Andrade(PQ)
INSTITUTO DE QUÍMICA UFBA, 40170-290, SALVADOR,BA
1 - CENTRO FEDERAL DE EDUCAÇÃO TECNOLÓGICA DA BAHIA - CEFET
2 - INSTITUTO DE BIOLOGIA - UFBA
palavras-chaves: algas, compostos carbonílicos, COV
As macroalgas marinhas vêm sendo utilizadas há milênios pelos povos orientais como parte importante de sua alimentação. No entanto, além de seu uso como alimento, as algas têm sido utilizadas mundialmente como complemento de rações, adubos sólidos ou líquidos e fonte de produtos químicos diversos, dentre os quais se destacam os ficocolóides (agaranas, carragenanas, alginatos). No caso do Estado da Bahia, pouco se conhece sobre a flora ficológica. Os trabalhos realizados, são em maioria lista de espécies1, contribuíram de certa forma para o conhecimento das algas marinhas bentônicas que ocorrem no litoral baiano, não sendo no entanto, suficientes para o levantamento da flora ficológica. Quanto ao conhecimento da composição química dessas algas, não existe, até o momento, nenhum relato.
O interesse na determinação de traços de compostos orgânicos voláteis (COV) provenientes de espécies aquáticas (peixes e algas) tem recebido uma grande atenção, especialmente os compostos carbonílicos, por estarem associados à qualidade destas espécies como alimento, como também para a avaliação da poluição. Em sistemas alimentares, a oxidação lipídica é a principal rota de deterioração relacionada com odores desagradáveis e o hexanal, entre outros compostos orgânicos voláteis, tem sido utilizado como um importante índice de qualidade dos alimentos e da poluição em ambientes marinhos2. Por outro lado, provavelmente devido à limitações analíticas, não existe na literatura aberta dados referentes à presença de compostos carbonílicos de baixa massa molar (C<5) em algas. O objetivo do presente trabalho é a determinação de compostos carbonílicos (C1 a C6) em algas coletadas no litoral da Bahia.
Foram analisadas algas pertencentes a dezenove espécies coletadas em quatro localidades ( Praias do Forte, de Pituba , de Itapuan e Ilha de Itaparica) do litoral baiano: Ulva lactuca, Halimeda discoidea, Glacilariopsis lemoneiformis, Caulerpa cupressoides, C. racemosa, Criptonemia sp, Hypnea, Botryocladia pirisform, Caulerpa. mexicana, C. sp, Dictiosphaeria versluysii, Dictiota mertensis, Digenia simplex, Gelidiella acerosa, Glacilaria domingensis, Glacilariopsis lemoneiformis, Halimeda discoidea, H. opuntia, Lobophora variegata, Penicillus capitatus, Spatoglossum schvoedevii.
As algas coletadas foram tratadas e lavadas com água deionizada para a eliminação de epífites, de pequenos invertebrados e de partículas de areia. Posteriormente foram acondicionadas em freezer a 150 C até o dia da análise. A metodologia analítica utilizada foi desenvolvida especialmente para este fim. Alíquotas de 10-20g da alga úmida foi introduzida em um frasco borbulhador de 500 mL e purgada com N2 por 30 min a temperatura ambiente, para um cartucho SEP-PAK C18 impregnado com solução ácida de 2,4-dinitrofenilidrazina a 0,05% em acetonitrila/água. O cartucho foi eluido com 2 mL de acetonitrila e as 2,4-dinitrofenilidrazonas formadas foram analisadas por CLAE/UV. As condições de análise foram: volume de injeção 10 mL, fase móvel acetonitrila/ água ( 53/47% v/v ) , vazão de 1,5 mL/min, coluna Zorbax C18 e detecção em 365nm ( AUFS=0,04). Foram utilizados como padrões os respectivos derivados do formaldeído, acetaldeído, propanal, propanona, butanal, butanona, pentanal e hexanal.
As espécies Ulva lactuca, Halimeda discoidea, Glacilariopsis lemoneiformis, Caulerpa cupressoides, C. racemosa, Criptonemia sp e Hypnea, foram analisadas ainda frescas e após um período de estocagem de até 60 dias. Nas análises das algas ainda frescas, foi detectada a presença de acetaldeído, propanal, butanal e pentanal apenas em Glacilariopsis lemoneiformis. Entretanto, nas análises após o período de estocagem o perfil de compostos carbonílicos de Glacilariopsis lemoneiformis permaneceu e os mesmos compostos foram detectados nas demais espécies. As espécies Botryocladia piriformis Caulerpa mexicana, C. sp, Dictiosphaeria versluysii, Dictiota mertensis, Digenia simplex, Gelidiella acerosa, Glacilaria domingensis, Glacilariopsis lemoneiformis, Halimeda discoidea, H. opuntia, Lobophora variegata, Penicillus capitatus e Spatoglossum schvoedevii, foram analisadas após período de estocagem que variou de 30 a 300 dias. Em todos os casos foi identificada a presença de compostos carbonílicos.
O formaldeído só foi detectado nas espécies dos gêneros, Ulva, Gelidiella e Digenia. Acetaldeído, propanal e propanona foram os compostos carbonílicos mais abundantes e presentes na maioria das espécies em concentrações variando de 2,4 ng/g a valores 10 a 100 vezes maiores. A butanona não foi detectada em nenhuma das algas estudadas. O butanal foi encontrado em três em espécies analisadas; o pentanal em quatro espécies, e o hexanal em quatro algas numa faixa de concentração de 58 ng/g a 129 ng/g.
Os resultados obtidos no presente estudo reportam pela primeira vez a presença de concentrações significativas de compostos carbonílicos de baixa massa molar em algas. Entretanto, torna-se necessário estabelecer a origem destes compostos, especialmente a fração resultante da decomposição de ácidos graxos insaturados, pois além do interesse alimentar e do impacto das emissões de COV para o ar, as algas são os pricipais produtores de materia orgânica, alimento e energia para o ecossitema marinho.
1. dos Santos, G. V. Composição e Microdistribuição de Algas Bentônicas da Praia de Coroa (Ilha de Itaparica, BA, 1992,, Dissertação de Mestrado -UFRPE, p.16.
2. Zhang, H.Z. and Lee, T.C J. Agric. Food Chem.,1997, 45, 3083-3087.
CNPq, CAPES, FINEP, CADCT/BA