ESTUDOS SOBRE A INCLUSÃO DE ALFA-SULFONILMALONATO EM BETA-CICLODEXTRINA VISANDO DESCARBETOXILAÇÃO ENANTIOSSELETIVA


Elaine Henriques Teixeira Pereira (PG), Júlio César Dias Lopes (PQ), Ruben Dario Sinisterra Millán(PQ) e Claudio Luis Donnici (PQ)


Depto. de Química - ICEx - Universidade Federal de Minas Gerais -

Belo Horizonte - Minas Gerais



palavras-chave:a-sulfonilmalonato, inclusão em b-ciclodextrina, descarbetoxilação enantiosseletiva


A fácil descarbetoxilação, seguida de adição eletrofílica, do a-metil-metilsulfonil-malonato de dietila (I) [MeC(CO2Et2)2SO2Me] na presença de DABCO (1,4-diazabiciclo [2.2.2] octano) em refluxo de tolueno por 8h foi descrita por Donnici, Wladislaw e Marzorati, em 1993. Apesar de que a tentativa de generalização deste método com os derivados a-fenil (II) e a-benzil (III) levou à inédita dessulfonilação total do derivado II e à dessulfonilação e descarbetoxilação parciais do derivado III, o resultado de descarbetoxilação de I despertou o interesse no estudo de possível descarbetoxilação enantiosseletiva. Desde que grupos sulfonila estabilizam carbânions e podem reter a configuração original durante a reação destes a-sulfonil-carbânions com eletrófilos, mesmo em solventes tipicamente racemizantes, seria de interesse investigar se a citada descarbetoxilação de I com DABCO conduziria à enantiosseletividade. Contudo, desde que não há nenhum indutor de quiralidade seria necessário tal indução quiral por uso de solvente quiral ou reagente quiral. Desde que já é conhecido que a inclusão prévia de ésteres em b-ciclodextrina acelera a sua hidrólise e com indução de certa enantiosseletividade, e que ésteres de ciclodextrina tem também a sua hidrólise acelerada na presença de DABCO e outras aminas, achou-se de interesse tentar a indução enantiosseletiva da descarbetoxilação através da prévia inclusão de I em b-ciclodextrina (b-CD). Este complexo hospedeiro:convidado pode levar à diferenciação entre as duas carbetoxilas de I dentro da b-CD e o ataque da DABCO pode ocorrer de forma enantiosseletiva.

Visando-se a investigação da inclusão de I (preparado a partir da sulfenilação de metil-malonato de dietila, com NaH/DMSO anidro, seguida de oxidação com ácido peracético formado “in situ”) em b-ciclodextrina, primeiramente verificou-se através de modelagem molecular (MACROMODEL) que, de fato, a cavidade interna da b-CD (7,8 A) tem o tamanho ideal para a inclusão de I.



O composto de inclusão (C.I.) entre I e b-CD (razão molar 1:1 mol/mol) foi então obtido pela agitação magnética da solução aquosa destes (1,67.10-3 mol.L-1) em solução aquosa por 72 h a t.a. e 8 h a 50 oC seguida de evaporação da água a pressão reduzida. A mistura mecânica, ou física, (M.M.) correspondente também foi preparada pela homogenização de iguais quantidades de I e b-CD (razão molar 1:1 mol/mol) em evaporador rotatório por 8 h.

A primeira evidência da inclusão de I em b-CD foi a solubilização crescente de I (óleo amarelado) na solução aquosa. A análise dos espectros na região do IV do C.I. mostra uma expressiva mudança, particularmente na região das bandas de estiramento de grupo carbonila (nC=O); enquanto que o espectro de I puro mostra banda larga (1720-1770 cm-1) devido à isomeria conformacional e duas carbonilas de éster; o C.I. apresenta uma banda muito fina provavelmente devido à rigidez conformacional conferida pela inclusão. Porém, a mistura mecânica (M.M.) também apresenta este afinamento da banda de carbonila provavelmente por interações intermoleculares hospedeiro:convidado especifícas.

O padrão de DRX para o C.I. mostra o desaparecimento do pico em 14020 e o deslocamento dos picos na região de 16 - 18020 quando comparado ao da mistura física (M.M.) e os componentes livres; o DRX do C.I. evidencia a formação de uma nova fase cristalina.

A curva TG/DTG (em atmosfera de nitrogênio) do sulfonil-malonato I mostra a sua decomposição térmica ocorrendo a quase 200 oC. A curva TG/DTG para o C.I. também evidencia a formação de uma nova espécie supramolecular com temperatura de decomposição térmica a cerca de 330 oC, próximo da temperatura de decomposição da b-CD sozinha (ca. de 340 oC). A M.M. contudo, apresentou um diferente comportamento mostrando a superposição de termodecomposição do hospedeiro e do convidado, decomposições a cerca de 180 e 340 oC, o que evidencia que não houve formação de nova espécie.

As curvas DSC estão de acordo com os padrões de termodecomposição do C.I., da M.M. e dos materiais de partida. Vale a pena salientar que a curva DSC do C.I. não mostra o pico exotérmico em torno de 170-190 0C característico da decomposição do sulfonil-malonato I livre. Este resultado também sugere que houve a formação de um composto supramolecular e a estabilização térmica do convidado.

A comparação entre os espectros de RMN de 1H, em solução (CDCl3), de I puro e de C.I. mostrou somente uma pequena desproteção nos sinais dos hidrogênios de I (cerca de d 0,005); uma desproteção mais significativa (cerca de d 0,50) foi observada nos espectros de RMN de 13C.

Os espectros de RMN em fase sólida bem como os experimentos de descarbetoxilação de C.I. com DABCO estão em andamento.


CAPES, FAPEMIG, PADCT, FINEP