Gestão de Resíduos em Laboratórios de Ensino do Instituto de Química da UNICAMP

Regina Clélia da Costa Mesquita Micaroni (PG), Maria Izabel Maretti Silveira Bueno(PQ) e Wilson de Figueiredo Jardim (PQ)

Departamento de Química Analítica - Instituto de Química - UNICAMP

palavras-chaves: resíduo, monitoramento, laboratórios de ensino

Assim como as indústrias, as instituições de ensino, pesquisa ou prestadoras de serviços têm sérios problemas para lidarem com seus resíduos químicos. Estas instituições geram resíduos constituídos de grande diversidade de substâncias, incluindo novos compostos de toxicidade desconhecida. Além disso, a sua composição muda a cada novo projeto de pesquisa ou experimento. Esta ampla variedade torna a gestão mais complexa nestas instituições do que em indústrias, que geram grandes quantidades de resíduo químico, cuja composição é conhecida e sem tanta variação¹.

No Brasil, devido à falta de uma legislação específica para o tratamento de resíduos químicos, de um controle mais efetivo e de fiscalização em instituições de ensino, pesquisa ou prestadoras de serviços, estas unidades geradoras têm feito muito pouco com relação à minimização e ao descarte correto de resíduos potencialmente perigosos².

A atual conscientização da sociedade com relação à questão ambiental, o processo de globalização e a normatização crescente ratificam a necessidade de criação de um programa de gestão de resíduos. Dentro deste cenário de engajamento de todos os segmentos da sociedade, as instituições de ensino e pesquisa do país, especialmente as universidades, vêm se omitindo na avaliação sistemática e madura dos possíveis impactos ambientais associados às suas atividades rotineiras de ensino e pesquisa, principalmente na área de química².

Visando sanar esta omissão, a proposta deste trabalho é diagnosticar e monitorar as atividades rotineiras geradoras de resíduos do Instituto de Química da UNICAMP (com ênfase especial nos laboratórios de ensino), de maneira a apresentar algumas possibilidades para evitar ou reduzir o uso de produtos perigosos e minimizar o impacto ambiental destas atividades através da disposição final adequada. Desta forma, fez-se o acompanhamento de todas as disciplinas experimentais ministradas neste Instituto, pesando-se todos os reagentes utilizados e todo resíduo gerado antes e após cada experimento. Neste trabalho tem-se empregado técnicas analíticas modernas, como Absorção Atômica e Fluorescência de Raios-X, para a análise dos resíduos mais críticos.

Os resultados dos monitoramentos de resíduos referentes às disciplinas práticas do curso diurno de química encontram-se sumarizados na Tabela 1. Estes resultados confirmam a suposição inicial que os laboratórios de química analítica são muito mais críticos que os demais, gerando uma média de 2015 g de resíduo por aluno em cada disciplina semestral, enquanto que os laboratórios de química orgânica, química inorgânica, físico-química e química geral geram, respectivamente, 469, 548, 309 e 1120 g de resíduo por aluno em cada disciplina semestral. Além dos laboratórios de química analítica, os laboratórios de QG 109 (Q. Geral) e QG 564 (Q. Orgânica e Inorgânica) também apresentaram quantidades relativamente altas de resíduo (maior que 1 kg por aluno). No entanto, estes resíduos não são tão críticos quanto à toxicidade como os de química analítica, cuja grande maioria é composta por resíduos contendo metais pesados. Cabe lembrar que a decomposição de metais pesados é impossível e as alternativas para o seu descarte são o reuso, o reciclo ou a passivação através da precipitação na forma de sais “inertes” que posteriormente devem ser dispostos em aterros ou encapsulados.

Tabela 1: Resíduo gerado por aluno do Instituto de Química da UNICAMP*

* as disciplinas que envolvem apenas projetos não estão inclusas.

** estimado por similaridade com a disciplina entre parênteses.

Este diagnóstico detalhado mostrou que cada aluno graduado em Química pela UNICAMP gera, ao final do curso, mais de 11 kg de resíduo e evidenciou a urgência e importância de adotarem-se medidas visando a redução e o tratamento adequado do mesmo. Além disso, foi possível fazer-se a identificação das disciplinas mais críticas, nas quais já iniciou-se o trabalho de busca de alternativas visando a minimização do impacto ambiental do resíduo gerado. Dentre as alternativas que vêm sendo testadas destacam-se a redução de escala de ensaios, a alteração de experimentos, o reciclo de metais pesados e o tratamento de resíduos pelos próprios alunos.

FAPESP, CNPq