Síntese de 4,5-metanoprolinas a partir de enecarbamatos endocíclios


Carlos Roque Duarte Correia (PQ), Italo José da Cruz Rigotti (PG).


Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas, C. P. 6154, 13083-970, Campinas, SP.


palavras-chave: enecarbamatos endocíclicos, metanoprolinas, ciclopropanação.


Introdução e objetivos: Dentre os aminoácidos (AAs) naturais, a prolina tem um papel bastante destacado por ser a única a formar amidas terciárias em ligações peptídicas e a apresentar confôrmeros de energia semelhantes, sendo, por isso, visto como um “interruptor molecular” envolvido em processos de reconhecimento celular e sinalização. Tendo-se em mente essas características desse AA, decidimos investigar a síntese de 4,5-metanoprolinas que têm sido apresentadas como prolinas com menor flexibilidade em seu anel pirrolidínico2a, permitindo, assim, uma investigação na relação estrutura-atividade dessa classe de compostos.

Metodologia: Em continuidade a trabalhos desenvolvidos em nosso grupo de pesquisa, a síntese de metanoprolinas teve o enecarbamato 1 (Esquema 1) como intermediário-chave, que foi obtido de acordo com o procedimento relatado por Correia e colaboradores1. As várias reações de ciclopropanação a que 1 foi submetido são apresentadas no Esquema 1.


Esquema 1 – Reações de ciclopropanação de 1.


Resultados e discussão: Para cada uma das reações de ciclopropanação, procuramos determinar a diasterosseletividade facial (df) e separar os diastereoisômeros formados por cromatografia em coluna do tipo “flash”.

A Tabela 1 apresenta os resultados obtidos de forma resumida.


Tabela 1 – Resultados obtidos nas diversas reações de ciclopropanação.

Condição

No Diasterisômeros

Separação

Rendimento (%)

df1

a

2

parcial

50

1:22

b

2

total

80

15:13

c

4

não obtida

50

---

(1) proporção de produtos com o metileno trans:cis ao grupamento metoxicarbonil (MOC).

(2) determinada por CG.

(3) isolados.


Observa-se que a proporção de produto com o metileno cis ao grupamento MOC é superior ao trans quando a condição de ciclopropanação (a ) é utilizada. Tal fenômeno também foi observado por Hanessian e colaboradores2b e tem sido atribuído à complexação do Zn ao grupamento éster, direcionando o sentido da ciclopropanação. Quando a condição (b) é empregada, o produto majoritário é o trans. Isso porque não havendo possibilidade de complexação, efeitos estéreos são os dominantes.

Vale a pena ressaltar que tanto a diastereosseletividade facial quanto o rendimento na reação para obtenção de 4 sofrem redução com o aumento do tempo de reação, como apresentado na Tabela 2.


Tabela 2 – Dependência do rendimento e df na ciclopropanação de 1 na condição b.

tempo

Rend. (%)

df

2,5 h

30

1:10

20 min

80

1:15

A diminuição na diastereosseletividade facial e no rendimento foi racionalizado em função das condições fortemente básicas do meio reacional que devem provocar a hidrólise do(s) grupo(s) carbometóxi e também a epimerização do hidrogênio a-carbonílico.

Acredita-se que a epimerização de 4 seja mais rápida que racemização de 1, visto que 4 é oticamente ativo. De outra forma, pode-se-ia dizer que a cicloproanação de 1 é mais rápida que sua racemização.

Conclusão: A ciciclopropanação do enecarbamato 1 é um processo viável e que mantém a quiralidade do centro esterogênico em C2. A diastereosseletividade facial do processo de ciclopropanação depende criticamente das condições de reação empregadas.

Bibliografia

1 – Oliveira, D.; Miranda, P. e Correia, C. R.; J. Org. Chem. 1999, 64, 6646.

2- a) Hanessian, S.; Reinhold, U.; Claridge, S.; Bioorg. Med. Chem. Lett. 1998, 8,
2123.

b) Hanessian, S.; Reinhold, U.; Genile, G.; Angew. Chem. Int. Ed. Eng. 1997, 36,
1881.


FAPESP, CNPq