MECANISMOS DE INTERAÇÃO ENTRE COBRE E LODO DE TRATAMENTO DE ESGOTO DOMÉSTICO (TANQUE TIPO IMHOFF)
Giusepina D'Amico Ferracin (PG)1, Soraya Teixeira Silva (PG)2, José Roberto Guimarães (PQ)1Wilson de Figueiredo Jardim (PQ)2 e Luis Roberto Takyiama (PQ)3
1Departamento de Saneamento e Ambiente- Fac. de Engenharia Civil - UNICAMP
2Departamento de Química Analítica - Instituto de Química - UNICAMP
3Departamento de Tecnologia Química - UFMA
Palavras-chave: adsorção, cobre, lodo
O lodo gerado em tratamento de esgoto possui metais pesados e alguns organismos patogênicos que podem impossibilitar a sua disposição como condicionador do solo. Este metal pode se apresentar na forma livre, complexado com diferentes ligantes orgânicos e inorgânicos e adsorvido ao material particulado. Estas interações e, conseqüentemente, a sua toxicidade são afetados por parâmetros físico-químicos como pH, força iônica, teor de sólidos, dentre outros.
Este trabalho tem como objetivo o estudo da variação do efeito de pH, teor de sólidos e força iônica nas interações do metal cobre no lodo anaeróbio.
As amostras foram obtidas no leito de secagem da Estação de Tratamento de Esgotos da Sanasa da Vila Costa e Silva na cidade de Campinas e processadas a fim de se obter homogeneização do material. Foram determinados parâmetros como umidade, sólidos fixos e voláteis, teores de Carbono, Nitrogênio e Hidrogênio, área superficial, pHzpc , cobre total e metais (teste qualitativo)
Inicialmente,
são preparadas suspensões de lodo seco (100 , 500
e
1000 mg L-1) e força iônica
ajustada com KNO3 (0,1; 0,01 e 0,001 mol L-1).
Inicia-se a agitação do sistema e retiram-se alíquotas
de 50 mL em intervalos de tempo que variam de 2 a 30 minutos, nas
quais são determinados a concentração de cobre
livre e pH (6,5 a 7,0 durante todo o ensaio). Uma fração
da alíquota retirada é filtrada através de
filtro com porosidade 0,45 mm,
digerida e determina-se a concentração de cobre
dissolvido com o auxílio da técnica de voltametria de
redissolução anódica. Com o sistema em
equilíbrio, adiciona-se uma alíquota de uma solução
padronizada de Cu2+ suficiente para que a solução
final tenha uma concentração de 1 x 10-4 mol
L-1 de cobre livre e então são determinados
pH, cobre livre e dissolvido. A concentração de cobre
adsorvido ao lodo é determinado através do balanço
de massas.
O processo de competição pelo metal predominante no sistema é o da adsorção para as concentrações de 500 mg L-1 e 1000 mg L-1 sendo fortemente afetado pela força iônica apenas nas primeiras horas de ensaio. Uma fração de 90% a 95 % de cobre é adsorvido em um tempo de 3h para suspensão de 1000 mg L-1 e 9 horas para uma suspensão de 500 mg L-1. Para a concentração de 100 mgL-1, uma fração de apenas 1% é adsorvida mesmo após 72 horas de ensaio, ficando todo o metal na forma livre. Para as três concentrações de lodo, um incremento na força iônica provoca uma diminuição na magnitude da adsorção frente à complexação de cobre.
A fim de se verificar a influência da variação do pH na especiação do metal cobre, foi determinado a capacidade de complexação de cobre através de titulação potenciométrica utilizando eletrodo íon sensível em vários valores de 2 a 7. Os dados foram tratados segundo o modelo de Scatchard (1957) para dois sítios de ligação. As constantes de formação condicional, a concentração dos sítios ligantes (L1 ) e (L2 ) e a capacidade de complexação (Lt ) estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1: Constantes de formação condicional e concentração de ligantes para as suspensões de lodo em diferentes valores de pH.
pH |
Log K1 |
L1* |
Log K2 |
L2* |
Lt* |
2,0 |
4,5 |
0,01 |
5,0 |
0,39 |
0,4 |
3,0 |
5,0 |
0,5 |
5,2 |
0,4 |
0,9 |
4,0 |
7,5 |
1,3 |
6,0 |
6,1 |
7,4 |
5,0 |
7,8 |
2,8 |
7,1 |
5,9 |
8,7 |
6,0 |
9,0 |
3,0 |
8,3 |
7,0 |
10 |
7,0 |
11,7 |
6,5 |
8,4 |
7,8 |
14,3 |
* em m molL-1
Como conclusão desse trabalho, é importante salientar que a concentração total dos metais presentes no lodo não representa os verdadeiros impactos ambientais, ou seja nem toda forma de metal possui uma alta toxicidade. Evidentemente, é de vital importância para trabalhos de avaliação do potencial tóxico de um resíduo que se avalie todos os parâmetros aqui citados e alguns estudados (pH, força iônica e teor de sólidos) que interferem na especiação dos metais.
- SCATCHARD, G.; Coleman, J. S. e SHEN, A. L. (1957). Physical chemistry of protein solutions. VII. The biding of some small anions to serum albumin. Journal of Am. Chem. Soc. , 79, 12 - 20.
TIEN, C. T. E HUANG, C. P. Heavy Metals in the Environment. Elsevier, Amsterdan, p. 295 - 311, 1991.