HETEROGENEIDADE DO LÁTEX DE BORRACHA NATURAL: CARACTERIZAÇÃO DAS PARTÍCULAS DE BORRACHA POR TEM/ELSI.
Márcia Maria Rippel (PG) e Fernando Galembeck (PQ)
Departamento de Físico-Química- Instituto de Química- Universidade Estadual de Campinas- Caixa Postal 6154- CEP 13083-970- Campinas-SP
palavras-chave: látex de borracha natural, microscopia, heterogeneidade.
O látex de borracha natural extraído da Hevea brasiliensis é um sistema complexo, de partículas coloidais polidispersas suspensas em um soro.(1) Dois tipos de partículas predominam: as de borracha e os lutóides. Destacam-se ainda os complexos de Frey-Wyssling e o soro C, que contém proteínas aniônicas e sais minerais que conferem estabilidade coloidal ao sistema.(1,2)
As partículas de borracha de forma esférica são constituídas de cis-1,4 poliisopreno e são envolvidas por uma membrana proteica fosfolipídica que confere carga negativa à partícula, contribuindo para a estabilidade coloidal. O diâmetro destas partículas varia de 5,0 a 3.000 nm, sendo que a maioria delas está na faixa de 100 nm.(2) Os lutóides são estruturas constituídas de proteínas, fosfolipídios e sais minerais, de 200 a 500 nm, negativamente carregadas.(1) No interior dos lutóides encontra-se o soro B, com carga elétrica positiva, devido ao excesso de cátions como Ca2+, Mg2+, K+ e Na+ e proteínas catiônicas, sendo por isso um dos fatores responsáveis pela coagulação do látex, conforme estudado por Sourhorn e Yip.(2) Outro fator de coagulação sugerido é atribuído à ação de enzimas e bactérias, mas é uma teria discutível.(2)
Metodologias desenvolvidas recentemente são capazes de fornecer informações sobre a heterogeneidade química de partículas de látex.(3) A microscopia eletrônica de transmissão associada com a técnica de Energy-loss Spectroscopy Imaging (ELSI) produz informação sobre a distribuição dos elementos em partículas de látex, como foi relatado na literatura em trabalho recente deste grupo.(4)
Nosso objetivo é caracterizar o látex de borracha natural, usando estas novas técnicas, sem adição de qualquer substância estabilizante.
O látex fresco coletado (55,7% de sólidos), mantido a temperatura de 4°C, foi centrifugado (10.000rpm) para separar as partículas de borracha. Medidas de potencial zeta e diâmetro efetivo das partículas foram feitas por PCS. Imagens de TEM/ELSI foram obtidas em microscópio eletrônico de transmissão Carl Zeiss CEM 902.
As medidas de diâmetro efetivo (D) e potencial zeta (V) das partículas estão na Tabela a seguir. Os valores entre parênteses correspondem ao desvio padrão das medidas.
Amostra |
D / nm |
z / mV exp. |
z /mV lit. |
Látex fresco |
373 (6) |
-46 (3) |
-35 a 45(2) |
Partículas de borracha |
505 (12) |
- 69 (1) |
- |
A diferença nos diâmetros de partículas efetivos do látex fresco e das partículas de borracha mostra que há uma contribuição importante de partículas que não as de borracha, pequenas.
Os valores de potencial zeta das partículas do látex fresco concordam com a literatura, mas o potencial é mais negativo nas partículas de borracha isoladas por centrifugação.
Na
Figura 1, as imagens a, b, c e d referem-se aos mapas de distribuição
elementar para Ca, Mg, Na e C no látex fresco. A variação
do nível da cor cinza nas imagens pelo uso de TEM/ELSI permite
obter informação da concentração dos
elementos no material. Assim o branco significa que a concentração
de determinado elemento é máxima, enquanto o preto
revela a ausência deste. Portanto, observa-se que os cátions
concentram-se nas bordas das partículas coaguladas, mas também
estão presentes em seu interior, enquanto o carbono
concentra-se mais no centro das partículas. Ca2+,
Mg2+ e Na+ estão presentes em grandes
quantidades no soro B dos lutóides,(1,2) e sabendo
que ele é considerado como um dos fatores responsáveis
pela coagulação espontânea das partículas
de borracha, pode-se concluir que: 1- de fato há uma
contribuição importante do soro B na coagulação
das partículas de borracha; 2- o interior das partículas
de borracha tem elevado grau de heterogeneidade, quanto à sua
capacidade de sorção de Ca2+, Mg2+
e Na+.
2,27mm 2,27
mm
(a) (b)
(c) (d)
Figura 1. (a) mapa de Ca; (b) mapa de Mg; (c) mapa de Na e (d) mapa de C.
Sethuraj, M.R., Natural Rubber, Biology, Cultivation and Technology. Elsevier Sci., Netherlands, 1992, 80.
Southorn, W.A., Yip, E., J. Rubb. Res. Inst. Malaya, 20, 1968, 201.
Galembeck, F. e Souza, E.F., Heterogeneity of Polymer Latexes: Demonstration and Consequences; Polymer Interfaces and Emulsions; Kunio Esumi Ed., Marcel Dekker Inc., 1999, 119.
Galembeck, F., Cardoso, A.L.H., Leite, C.A.P., Langmuir, 14, 1998, 3187.
[Fapesp, CNPq, Pronex/ Finep/MCT]