COMPORTAMENTO ELETROQUÍMICO DO COMPLEXO INSATURADO [Ru3(CO)7(dppm)(4-O2N-PhC2Ph)] (1) E

SEUS DERIVADOS SATURADOS [Ru3(CO)7L(dppm)(4-O2N-PhC2Ph)]

(L = CO (2), PPh3 (3))


Renato Rosseto (PG), Edison Stein (PQ) e Maria D. Vargas (PQ)

Laboratório de Organometálicos - Instituto de Química - UNICAMP

CP 6154 - CEP: 13081-970 - Campinas - SP - Brasil.

palavras-chave: clusters de rutênio, voltametria cíclica, óptica não linear.


Grande parte dos trabalhos sobre óptica não linear (ONL) com ênfase na geração do segundo harmônico envolve sistemas contendo fragmentos doadores e receptores ligados por uma ponte conjugada,1 sendo raros os exemplos em que são utilizadas espécies apresentando ligação metal-metal.2 Estudos de voltametria cíclica permitem a investigação da comunicação eletrônica existente entre os fragmentos doador e receptor, podendo ser analisada a influência de cada fragmento sobre o outro.

O presente trabalho versa sobre a eletroquímica dos clusters trinucleados de rutênio, esquematizados abaixo, cuja síntese foi descrita anteriormente3.


Esses complexos apresentam-se como bons candidatos para ONL, uma vez que, quando comparados com as espécies mononucleadas, são mais polarizáveis e possuem grande capacidade de estabilizarem cargas, além de permitirem a coordenação de ligantes diferentes em cada átomo metálico, promovendo assimetria.

O voltamograma cíclico do complexo [Ru3(CO)7(dppm)(PhC2PhNO2)] 1 em CH2Cl2, eletrodo de platina, a 200 mV/s e à temperatura ambiente, utilizando Bu4NClO4 como eletrólito suporte, mostra dois picos catódicos que exibem processos de reoxidação diretamente associados. O primeiro pico, E1/2 = -0,84 V, DE = 90 mV, corresponde à redução do ligante orgânico 4-nitrodifenilacetileno no complexo, através do processo de transferência de dois elétrons e o segundo pico, E1/2 = -1,39 V, DE = 103 mV, correspondente a um processo quasi-reversível de transferência de um elétron, atribuído à redução do fragmento metálico. A quantidade de elétrons transferidos no processo de redução foi avaliada através do voltamograma cíclico e da voltametria de pulso normal de uma solução equimolar do ligante livre e ferroceno.

Quando é borbulhado CO ou adicionada PPh3 a uma solução de 1 em CH2Cl2, há uma imediata mudança da cor verde para vermelho e o monitoramento através da espectroscopia no IV na região de nco mostra que os complexos [Ru3(CO)8(dppm)(PhC2PhNO2)] 2 ou [Ru3(CO)7PPh3(dppm)(PhC2PhNO2)] 3, respectivamente, são formados quantitativamente.4 O voltamograma cíclico do complexo 2 apresenta um pico catódico quasi-reversível em E1/2 = -1,13 V, DE = 145 mV, que corresponde à redução do ligante orgânico nitro no complexo, um par de picos quasi-reversíveis em E1/2 = -1,41 V, DE = 103 mV, atribuído à redução do fragmento metálico e um pico de reoxidação de fragmentos eletrogerados em Ep = -0,78 V. O complexo 3 apresenta praticamente o mesmo comportamento eletroquímico. Podem ser observados um par de picos quasi-reversíveis em E1/2 = -1,19 V, DE = 150 mV, atribuído à redução do ligante orgânico nitro no cluster, um pico irreversível em Ep = -1,77 V correspondendo à redução do complexo metálico e um pico de reoxidação em Ep = -0,77 V que corresponde à reoxidação de fragmentos eletrogerados. O número de elétrons transferidos na redução do centro metálico que era originalmente de um elétron no complexo insaturado 1 passa a dois elétrons nos complexos saturados 2 e 3, como observado nos experimentos de voltametria de pulso normal.

O comportamento eletroquímico do complexo insaturado 1 e dos compostos saturados 2 e 3 leva às seguintes considerações:

  1. a complexação do ligante orgânico nitro na base metálica faz com que o seu potencial de redução seja diminuído de E1/2 = -1,00 V (ligante livre), para E1/2 = -0,84 V (ligante coordenado), comprovando a complexação da espécie.

  2. a resposta eletroquímica da adição de CO ao complexo insaturado 1, originando 2, mostra que há um pequeno deslocamento no potencial de redução para potenciais catódicos de –1,39 para -1,41 V do centro metálico e de –0,84 para -1,13 V no ligante orgânico.

  3. quando é adicionada PPh3 ao complexo 1, resultando no complexo saturado 3, o potencial de redução do centro metálico passa de –1,39 para um potencial mais catódico de –1,77 V e o potencial do ligante orgânico vai de –0,84 para –1,19 V.

  4. a adição das bases de Lewis CO e PPh3 ao complexo insaturado 1 leva aos complexos 2 e 3, respectivamente, que apresentam processos de redução mais irreversíveis que os do composto original e a potenciais mais negativos.

  5. os potenciais de redução no complexo 3 são mais negativos do que no complexo 2, o que está de acordo com a ordem de basicidade dos ligantes, CO < PPh3.

  6. quando são adicionados os ligantes CO ou PPh3 ao complexo insaturado 1, o potencial de redução do ligante orgânico passa de –0,84 V para –1,13 V em 2 e –1.19 V em 3, demonstrando que o ligante PhC2PhNO2 complexado é muito sensível à basicidade dos grupos CO e PPh3, devido à capacidade do grupo substituinte NO2 retirar elétrons.

1 J.Heck, S.Dabek, T.M-Friedrichsen, H.Wong, Coord.Chem.Rev., 1999, 190, 1217.

2 W-Y.Wong, W-T.Wong, J.Chem.Soc.,Dalton Trans.,1996, 3209.

3 R.Rosseto, M.D.Vargas, 22a Reunião Anual da SBQ, QI-58.

4 S.Rivomanana, G.Lavine, N.Lugan, J-J.Bonnet, Organometallics, 1991, 10, 2285.

[CAPES]