DESENVOLVIMENTO DE UM ELETRODO ÍON SELETIVO PARA DETERMINAÇÃO DE IODETO POR ANÁLISE DE INJEÇÃO EM FLUXO
Karin Y.Chumbimuni Torres a (PG), Julio C.B.Fernandes a (PG), Carlos A.B.Garcia b (PQ), Graciliano de Oliveira Neto c (PQ), Lauro T. Kubota a (PQ)
a Instituto de Química UNICAMP CP 6154,13083-970.
b Universidade Federal de Sergipe
c Faculdade de Ciências Farmacêuticas USF
Palavras-chave: eletrodo tubular, aliquat 336S, EVA.
Um dos métodos mais satisfatórios para detecção de espécies iônicas em amostras complexas é através de eletrodo íon seletivo (ISE). A construção destes, permite a determinação direta da espécie de interesse sem um tratamento prévio da amostra, e assim, têm sido aplicados para determinações analíticas com resultados satisfatórios1. Os eletrodos íon-seletivos de membranas poliméricas, contendo carregadores neutros, têm tido grande interesse nos últimos anos, principalmente no desenvolvimento de microeletrodos destinados a determinações analíticas de glicose, uréia, ácido úrico, bem como os já usados universalmente em análises clínica para medir íons como Na+, K+, Li+ , Ca+2, Mg+2 e Cl-, além de pH e níveis de CO2 em amostras de sangue não diluídas2.
Vários artigos descrevem a construção de ISE usando como membrana polimérica o cloreto de polivinila (PVC). Contudo, na preparação da membrana com PVC é imprescindível o uso de plastificantes, de modo a tornar a membrana mais flexível. Como alternativa, alguns trabalhos têm utilizado o copolímero poli(etileno co-acetato de vinila) (EVA), desde que este apresenta uma temperatura de transição vítrea baixa (28 à 30°C), com a vantagem de ter uma ampla gama de solventes que podem ser usados para dissolvê-lo, assim como não é necessário o uso de plastificante, aumentando o tempo de vida do eletrodo. Neste trabalho se descreve a construção de um eletrodo tubular com Aliquat 336S (câtion lipofílico) dissolvido em EVA, o qual fornece um sítio atrativo para ânions na fase aquosa adjacente (solução em análise) 3, principalmete iodeto. Compostos iodados são bastante empregados em xaropes, pelo efeito estimulante do iodeto sobre a secreção brônquica4, daí o interesse em desenvolver metodologias análiticas para monitorar este íon. Na avaliação do sensor foram desenvolvidos ensaios para determinar as características operacionais de funcionamento do eletrodo em fluxo, assim como a influência do pH, tempo de resposta e de vida útil do eletrodo.
Na elaboração do sensor para iodeto, preparou-se uma mistura homogênea do trocador iônico, aliquat 336S (0,23 g), com EVA 40% (0,36 g), dissolvido previamente em 6 mL clorofórmio. A solução resultante foi gotejada diretamente dentro do suporte condutor do eletrodo tubular, constituído de uma mistura de araldite (resina epóxi) tornada condutora com grafite em pó na proporção de 1:1. Após a secagem do solvente por aproximadamente 24 horas , a membrana
polimérica contendo o íon trocador ficam aderida nas paredes do eletrodo.
As medidas de diferença de potencial foram feitas em um analisador de íons da Radiometer, modelo PHM250 (±0,1 mV), usando um eletrodo de dupla junção Ag/AgCl, com solução de preenchimento de LiNO3 (1M), como referência. O sistema FIA consistiu de uma bomba peristáltica da Ismatec modelo IPC-8, tubos de Tygon e polietileno, um injetor manual para as injeções de soluções. Os dados foram registrados com o auxílio de um microcomputador, Pentium 100 Mhz, usando uma placa de aquisição ACL-811 e um programa de aquisição de dados elaborado no próprio laboratório.
O estudo da influência do pH foi feita de acordo com o diagrama de Reilley, nas concentrações de I- de 1,0 10-2 e 1,0 10-1 mol L-1. Observou-se que o potencial não apresenta variações significativas na faixa de pH entre 5,0 a 8,2, para um volume de injeção de amostra de 75mL e uma vazão de 1,5 mL min-1. A freqüência analítica do sistema foi de 66 amostras por hora com um tempo de resposta de 7 segundos. Construiu-se uma curva típica de calibração para o eletrodo proposto fazendo-se 3 injeções sucessivas para cada solução de iodeto em tampão Hepes 0,1 mol L-1 (pH=7),verificando-se a repetibilidade dos valores de potencial. O efeito de memória foi praticamente nulo para as soluções mais concentradas e um tanto apreciável, mas não significativo, para as soluções mais diluídas. O eletrodo apresentou o comportamento Nernstiano, em um intervalo de concentrações de I- de 5,0 10-4 a 1,0 10-1 mol L-1, com um coeficiente angular de 60,2 mV por década de concentração, apresentando uma correlação de 0,9989 para n=6.
Experimentos feitos na análise de expectorante mostraram bom resultado os quais estão apresentados na Tabela 1.
Tabela 1. Resultados obtidos na determinação de iodeto em xarope expectorante.
Amostra
Valor Nominal FIA-Potenciometria
Metodo de referência
[I-] (mol L-1) [I-](mol L-1) Desvio relativo(%) [I-] (mol L-1) Desvio relativo(%)
Xarope 0,121 0,125(±0,001) 3,3 0,127(±0,003) 4,72
O eletrodo íon-seletivo desenvolvido para iodeto é de fácil uso e manutenção, estável ao ambiente e com resposta rápida, apresentando estabilidade de até dois meses, com 400 determinações. O sistema FIA acoplado permite análise em fluxo permitindo a implementação deste sensor em análise de rotina.
1. A. S.C. Machado, Analyst 119 2263(1994)
2. M. E. Meyerhoff, B. Fu, E. Bakker, J. Yun, V. C. Yang, Anal.Chem. 68, 168A (1996)
3. D. M. Pratinis, M. Telting-Diaz, M. E. Meyerhoff, Crit. Rev. Anal. Chem. 23, 63 (1992)
4. L.S.Goodman, A. Gilman. As Bases Farmacológicas da Terapêutica Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro 1967, pag. 737.
CAPES, CNPq e FAPESP