SÍNTESE FORMAL DO ADOÇANTE NATURAL (-)-MONATINA

Davi de Jesus Oliveira (PG) ) e Fernando Coelho (PQ

Depto de Química Orgânica – IQ – UNICAMP – 13083-970 – Campinas, SP


palavras-chave: monatina, ácido L-glutâmico, indol


1. Introdução: A busca por substâncias que apresentem um alto teor dulcífero e que possam ser utilizadas ou como adoçantes sintéticos, ou que sirvam de protótipo para o desenvolvimento de novos adoçantes continua a despertar um grande interesse. Dentre as substâncias de origem natural dotadas de alto potencial dulcífico descobertas recentemente, podemos destacar a (-)-MONATINA, que apresenta uma doçura relativa de 1200 a 1400 vezes maior do que a sucrose. Essa substância, um aminoácido natural presente nas raízes da planta africana Schlerochiton ilicifolius, foi isolada em 1992 por Vleggaar e cols1.


2. Objetivo: Dando continuação a um estudo iniciado em nosso laboratório, o nosso trabalho visa estabelecer uma estratégia sintética para a obtenção da (-)-MONATINA (1) (esquema 1).








Esquema 1: Análise Retrossintética


Como apresentado na análise retrossintética, no nosso entender a obtenção da (-)-MONATINA passa por duas etapas críticas: oxidação e alquilação diastereosseletivas de enolatos da lactama 3, visando gerar o centro quaternário 4S. A estereoquímica desse centro pode em principio, ser controlada pelo substituinte volumoso presente no carbono 2S.


3. Resultados e Discussão: O brometo 2 foi preparado em 5 etapas com rendimento global de 59% a partir do indol. A lactama 3 foi preparada em 4 etapas com rendimento global de 65% a partir do ácido L-glutâmico. As metodologias utilizadas na preparação dos dois intermediários já foram alvo de trabalho apresentado anteriormente2a.

3.1. Oxidação do Enolato da Lactama 3: Realizamos várias ensaios visando realizar essa oxidação. Testamos oxidantes de enolatos tais como, oxaziridina, MoOPh e MoOPD e peróxido de dicarbonato de benzila. O melhor resultado foi obtido com o uso do último. Utilizando a condição descrita no esquema 2 conseguimos obter o produto 4 (trans), como único diastereoisômero detectado em 45% de rendimento (esquema 2). Todavia fomos incapazes de recuperar a lactama de partida. A alta diastereosseletividade alcançada foi avaliada por HPLC e RMN 1H.













Reagentes e Condições:(a): i. LHMDS, -78oC, THF, 30 min, TMSCl; ii. (BnOCOO)2, -78oC, 30 min, CCDC; iii. AcOH, -78oC®0oC, H2O, 0oC®T.A, 45% (CC); (b): i. LHMDS, -78oC, THF, 30 min; ii. DMPU, -78oC, THF, 30 min; iii. Brometo 1, -78oC, THF, CCDC, 5h, 75% (CC); (c): i. LiOH (THF/H2O), 100%; ii. Oxidação de Jones, 65% (d): TFA.


Esquema 2


3.2. Alquilação de 4: As condições de alquilação diastereosseletiva do enolato da lactama 2 já haviam sido otimizadas anteriormente.2b Baseado neste resultado executamos a alquilação do enolato da lactama 4 com brometo 2. A análise por HPLC quiral e 1H RMMN detectou a presença de 5, como um único diastereoisômero. A obtenção do centro quaternário, através dessa etapa de alquilacão foi efetuada com um rendimento químico de 75% (esquema 2). O produto alquilado foi caracterizado pela análise combinada dos espectros 1D e 2D de RMN 1H e a configuração 4S confirmada por análise de NOESY 1D.


3.3. Hidrólise Básica e Oxidação de 5: A abertura do anel lactâmico e a clivagem do grupo CBz foram realizadas em uma só etapa, pelo tratamento do intermediário 5 com uma mistura de LiOH (1M) e H2O-THF. O produto hidrolisado foi oxidado com reagente de Jones para fornecer o diácido 6, o qual foi caracterizado por RMN 1H. O rendimento global a partir do intermediário 5 foi de 65%. A clivagem dos grupamentos de proteção dos nitrogênios com TFA resultará na (-)-MONATINA (esquema 2).


4. Conclusões: A alquilação do enolato da lactama 4 permitiu a formação do centro quaternário em C4 (os dados de RMN 1H sugerem configuração S) com rendimento de 75% e excelente diastereosseletividade. Essa estratégia sintética nos permitiu desenvolver uma nova metodologia de geração de um centro quaternário oxidado, sem precedentes na literatura. O sucesso na etapa de desproteção nos permitirá descrever a primeira síntese assimétrica da Monatina. A metodologia desenvolvida deve permitir preparar outros derivados assimétricos, visando um futuro estudo da relação estrutura-atividade adoçante.


5. Bibliografia: 1. Vleggaar, R., Ackerman, L.G.J. and Steyn, P.S., J.C.S. Perkin Trans. I, 1992, 3095; 2.a. Oliveira, D. J. and Coelho, F. A. S. 8th BRAZILIAN MEETING ON ORGANIC SYNTHESIS, P-075, 7-11 September, 1998, São Pedro-SP; b. Oliveira, D. J. and Coelho, F. A. S. Synth. Comm., 2000, 30(12), 0000.

[CNPQ, FAPESP]