DETERMINAÇÃO
DE SALICILATO EM SORO POR ANÁLISE ENZIMÁTICA
ESPECTROFOTOMÉTRICA E SISTEMA FIA
Marta
Maria Duarte Carvalho Vila (PG)*, Matthieu Tubino (PQ)*,Graciliano de
Oliveira Neto (PQ)**
* Departamento
de Química Analítica - Instituto de Química -
Unicamp
**Centro
de Ciências Biológicas e da Saúde - Universidade
São Francisco
"palavras
chave" : enzima , salicilato , FIA
Introdução: O
ácido acetilsalicílico foi sintetizado, pela primeira
vez, em 1897 e introduzido na clínica médica em 1899
com o nome de (aspirinaâ).
Suas características analgésicas, antitérmicas e
antiinflamatórias fizeram deste fármaco um sucesso, que
perdura até os dias de hoje. No Brasil ocupa a terceira
posição no mercado de analgésicos com consumo de
2,8 bilhões de doses anuais o que equivale a 300 milhões
de dólares/ano. Atualmente, tem prescrições
variadas que vão do tratamento da dor de cabeça a
prevenção de doenças cardíacas (1). A
absorção do ácido acetilsalicílico
ocorre no estômago e na porção proximal do
intestino delgado, sendo hidrolisado em sua maior parte em ácido
salicílico. A faixa de concentração no plasma
ou soro para ótimo efeito antiinflamatório situa-se
entre 150 a 300mg/mL. Entretanto, é
estreita a margem terapêutica, pois os primeiros sinais de
intoxicação estão próximos a 300 mg/mL.
Além do mais, casos de intoxicação por ingestão
acidental, bem como superdosagens em pacientes com enfermidades
crônicas não são raros (2). Deste modo, existe a
preocupação do monitoramento do nível de
salicilato no soro sangüíneo desde a década de 40.
Diversas formas de dosagem são descritas na literatura,
podendo-se citar: técnicas cromatográficas,
colorimétricas, potenciométricas, fluorimétricas,
entre outras. Os maiores problemas, geralmente, residem na
necessidade de separação da espécie analisada,
interferência de outros compostos presentes na matriz e uso de
sistemas de detecção sofisticados. Os métodos
enzimáticos tem surgido como uma opção de
análise rápida, com especificidade e que podem ser
realizados diretamente na amostra. Soma-se a isto, a possibilidade da
imobilização enzimática sobre suporte insolúvel
o que permite o emprego das reações enzimáticas
integradas em sistema contínuos para a automatização
do processo (3).
Objetivo:
O trabalho
visou desenvolver metodologia enzimática espectofotométrica
automatizada para a determinação de salicilato em
amostras de soro sangüíneo .
Métodos:
A determinação de salicilato via reação
enzimática, envolve a enzima salicilato hidroxilase
(E.C. 1.14.13.1) de acordo com a seguinte reação:
salicilato + NADH +O2 ®
catecol + NAD+ + H20 + CO2
A
dosagem de salicilato foi feita pela determinação
espectofotométrica do produto da reação do
catecol gerado com o reagente 4-aminofenol em meio básico e
comprimento de onda de 565 nm (4). A adsorção
enzimática foi feita em meio orgânico sobre pérolas
de vidro de porosidade controlada. A enzima imobilizada é,
então, empacotada
em tubos de polietileno constituindo o reator enzimático que é
integrado em sistema de injeção em fluxo
espectrofotômetrico.
Resultados e Conclusão:
Verificou-se para a otimização do processo as
seguintes variáveis: temperatura, pH, proporção
de salicilato/cofator e velocidade de fluxo. Optou-se pela
temperatura ambiente (25°C)
pela facilidade de trabalho e por considerar que os resultados a esta
temperatura, correspondem a cerca de 70% dos da temperatura mais
eficiente (35°C). O pH de 7,6
foi escolhido por ser este o recomendado para a enzima na forma livre
e por apresentar os melhores resultados. Das relações
salicilato/cofator pesquisadas a de 1/3 foi considerada a melhor,
pois obteve-se máxima eficiência com o menor consumo de
cofator. A velocidade de vazão escolhida foi de 0,6mL/min. A
velocidade de fluxo é uma variável de significativa
importância nas reações enzimáticas, uma
vez que, o maior contato entre enzima e substrato permite maior
eficiência. Após determinadas as melhores condições,
a aplicação em amostras reais foi testada utilizando-se
o método da adição de padrão. Empregou-se
amostras de soro sangüíneo gentilmente cedidas pelo
Hospital de Clínicas da Unicamp dopados com salicilato de
sódio numa faixa de concentração de 0,5.10-3
a 5.10-3 mol/L, procurando atingir valores próximos
aos terapêuticos. Os resultados obtidos, apresentados na tabela
abaixo indicaram uma faixa de recuperação de 93,0 % a
107,5%.
Tabela-1
Teste de recuperação de salicilato em amostras de soro.
Adicionado[10-3
mol/L]
|
Altura de sinal/
(cm)
|
Encontrado[10-3
mol/L]
|
Recuperação/%
|
5,0
|
11,5
|
5,1
|
102,0
|
4,5
|
10,8
|
4,8
|
106,6
|
4,0
|
9,9
|
4,3
|
107,5
|
3,5
|
8,7
|
3,7
|
105,7
|
3,0
|
7,6
|
3,2
|
106,6
|
2,5
|
6,8
|
2,4
|
96,0
|
2,0
|
5,7
|
1,9
|
95,0
|
1,5
|
4,0
|
1,4
|
93,0
|
1,0
|
3,1
|
1,0
|
100,0
|
0,5
|
1,6
|
0,5
|
100,0
|
Pelos
resultados observados pode-se concluir que o método
desenvolvido é perfeitamente aplicável para análise
de salicilatos em soro. Além disto, somam-se as vantagens
inerentes ao processo FIA, como o consumo reduzido de reagentes e
amostra (150mL) e a possibilidade
de analisar um grande número de amostras num curto período
de tempo. A imobilização em pérolas de vidro em
meio orgânico mostrou-se adequada, permitindo até 60
determinações por hora e uma vida útil de 1 mês,
possibilitando análise seletiva, sem pré-tratamentos da
amostra. O emprego de metodologia espectrofotométrica
proporcionou boa qualidade de resultados e simplicidade
operacional.
Referências Bibliográficas:1-
Fontes, L. L. Sagra e Cia 1:24-25,1998; 2-NIETSCH, P. Therapeutic
applications of aspirin. Germany. Bayer, 1989,69p.; 3-SCHMIDT,
H.; BECKER, T.; OGBOMO, I. et al. Talanta 43:937-942, 1996.;
4-CHUBB, S. P. A ;CAMPBELL, R. S.; RAMSAY, J. R. et al. Clin.
Chem. 155:209-220,1986.
CNPq, FAPESP