LIBERAÇÃO FOTOQUÍMICA DE ÓXIDO NÍTRICO A PARTIR DA S-NITROSOGLUTATIONA EM SOLUÇÃO AQUOSA E EM MATRIZ DE POLI (ETILENO GLICOL)


Amedea Barozzi Seabra* (PG), Marcelo Ganzarolli de Oliveira** (PQ)

* amedea@iqm.unicamp.br, ** mgo@iqm.unicamp.br


Departamento de Físico-Química - Instituto de Química – UNICAMP


Palavras-chave: óxido nítrico, nitrosotióis, poli(etileno glicol)



O óxido nítrico (NO) desempenha uma série de funções fisiológicas no corpo humano, tais como: vaso dilatação, ação no sistema imunológico, neurotrasmissão, relaxamento muscular e agregação da plaquetas, entre outras. Compostos que liberam NO, como os nitrosotióis, possuem muitas das funções biológicas atribuídas ao NO livre. A nitrosoglutationa (GSNO), é um nitrosotiol considerado como um dos possíveis transportadores e doadores endógenos de NO no organismo. Porém, soluções aquosas de GSNO sofrem decomposição térmica e são fotosensíveis. A incorporação de GSNO em matriz de poli(etileno glicol) (PEG) pode proporcionar um efeito estabilizador importante para o manuseio e estocagem destes doadores de NO1.

O objetivo deste trabalho foi analisar o efeito da irradiação com luz UV e visível e o efeito de uma matriz de PEG-200 sobre a liberação de NO a partir da GSNO.

A GSNO foi sintetizada a partir de uma solução de glutationa (GSH) em água e em PEG-200, nas quais foi borbulhada uma mistura nitrosante de NO e O2. A estabilidade da GSNO em solução aquosa e em PEG-200 foi analisada através do monitoramento da variação espectral da banda em 545 nm (nN ® p* ), associada à quebra homolítica da ligação S-N. As irradiações foram realizadas com uma lâmpada de vapor de mercúrio de 125 W utilizando-se duas condições de irradiação: com lirr > 480 nm selecionada com um filtro de vidro, e com lirr = 333 nm selecionada por um monocromador prismático. A figura 1 apresenta as variações espectrais das bandas da GSNO em 340 nm (nO ® p*) e 545 nm, durante a sua fotodecomposição o com lirr > 480 nm.

Os resultados mostram que a irradiação das soluções de GSNO em água e em PEG-200 leva a uma aceleração na liberação de NO em relação à decomposição térmica2. A figura 2 mostra as curvas cinéticas correspondentes ao desaparecimento da banda em 545 nm, durante a fotólise da GSNO em solução aquosa e em PEG-200. Essas curvas mostram que a matriz de PEG-200 reduz significativamente a velocidade de liberação fotoquímica de NO da GSNO. Esse efeito estabilizante do PEG-200 pode ser atribuído a um aumento na velocidade de recombinação dos radicais GS· e ·NO produzidos na quebra homolítica da ligação GS-NO. Esta recombinação é favorecida pela maior viscosidade do PEG-200 em relação à agua (efeito gaiola).


Figura1. Variação espectral da decom-

posição da GSNO em água e PEG

Figura2. Cinética de decomposição de GSNO em 545 nm sob irradiação (l > 480nm) em : (a) PEG; (b) água


Em meio aquoso, os radicais formados conseguem escapar da gaiola do solvente em uma velocidade muito maior do que em PEG-200. Cinéticas de irradiação com lirr = 333 nm em água e em PEG permitiram o cálculo do rendimento quântico na fotólise de GS-NO. Os valores obtidos em água: (f = 0.14), e em PEG : (f = 0.0014) confirmam o grande efeito esbilizante do PEG-200.

Devido ao fato dos poli(etileno glicóis) serem polímeros solúveis em água e de baixa toxidade, o PEG-200 pode ser usado como veículo em várias aplicações farmacêuticas. Observamos que soluções de GSNO em PEG-200, protegidas da luz podem ser armazenadas a baixas temperaturas, permanecendo estáveis por longos períodos de tempo. Essa estabilização representa uma opção viável de armazenagem de GSNO para aplicações biomédicas.



[1] Shishido, S.M.; de Oliveira, M. G. Photochem. Photobiol. (2000). 71 (no prelo).

[2] Singh, R.J.; Hogg; N., Joseph; J.; Kalyanaraman; B. FEBS Letters (1995) 360, 47-51.


CAPES, FAPESP