OBTENÇÃO DE UM ANEL AZEPÂNICO A PARTIR DO D-GLUCITOL
Marcelo Siqueira Valle (PG) e Raquel Marques Braga (PQ)
Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química, Universidade Estadual de Campinas. CEP 13083-970, Caixa Postal 6154, São Paulo, Brasil.
Palavras-Chave: D-glucitol, Iminoaçúcares, glicosidases
1. Introdução
Nos últimos anos têm sido crescente o interesse de se investigar novas rotas sintéticas para a obtenção de várias classes de alcalóides com atividade biológica pronunciada. Como exemplo, muitas piperidinas e pirrolidinas poliidroxiladas (também conhecidos como iminoaçúcares) são potenciais inibidores de glicosidades1. São usadas no tratamento de várias desordens metabólicas, como a diabetes, aplicadas no bloqueamento de infecções microbiais, metástases e como agentes anti-virais, em particular contra o vírus da imuno-deficiência humana (HIV).
2. Objetivos
Devido a grande potencialidade terapêutica destes compostos, propomos a obtenção de uma amino-piperidina (1), análoga à 1-desoxinojirimicina (2), substância inibidora de enzimas glicoprocessantes2 (Esquema 1). Iniciamos a nossa rota sintética a partir do D-glucitol (3) (material de partida comercialmente acessível) numa seqüência de reações semelhante a que foi realizada em nosso grupo para a síntese formal da 1-desoxinojirimicina (2).3
3. Resultados
Através de reações de proteção, desproteção seletiva e substituição nucleofílica acessamos a diazida (9), intermediário-chave para a obtenção do composto-alvo (1) (Esquema 1). A etapa crucial, que consiste na reação da diazida (9) com trifenilfosfina, envolve a formação de vários intermediários: redução do grupo azida ao iminofosforano (9a); formação de aziridina (9b) e ciclização intramolecular (9c). Nesta ciclização, a amina formada no carbono 1 pode fazer ataques nucleofílicos nos carbonos 5 ou 6, levando a estruturas cíclicas de seis membros, composto (10), e/ou sete membros, composto (11). Ao final desta reação foi isolada, de uma mistura de compostos polares, uma substância com 29% de rendimento, que foi em seguida submetida a análises espectroscópicas (IV, RMN-1H, RMN-13C, DEPT, gCOSY, HSQC e NOESY) e espectrométrica (EM por inserção direta).
4. Conclusão
Após a análise dos dados obtidos, pôde-se elucidar inequivocamente sua estrutura, onde se verificou que a substância desconhecida se tratava de um anel azepânico (11). Com este produto obtido, verificou-se que o ataque nucleofílico, indicado em (9c), realizou-se principalmente ao carbono 6 (caminho b), não se observando desta forma a piperidina (10) desejada. Azepanos poliidroxilados, contudo, têm demostrado atividade biológica como potentes inibidores de glicosidases.4
5. Bibliografia
1- Johnson, C. R. e Johns, B. A. J. Org. Chem. 1997, 62, 6046-6050.
2- Kilonda, A.; Compernolle, F. e Hoornaert, G. J. J. Org. Chem. 1995, 60, 5820-5824.
3- Kato, L. e Braga, R. M. Magnetic Ressonance in Chemistry 1999, 37, 447-449.
4- Fuentes, J.; Olano, D. e Pradera, M. A. Tetrahedron Letters, 1999, 40, 4063-4066.