Análise por injeção em fluxo para Dosagem de ácido ascórbico com medidas espectrofotométricas


Thyago Vieira Alves (IC), Adriana Vitorino Rossi (PQ)


Departamento de Química Analítica, Instituto de Química - UNICAMP


palavras-chave: vitamina C, injeção em fluxo, DCFI


O ácido ascórbico é um importante nutriente para o organismo humano que, como outros animais e ao contrário de muitas plantas, não pode sintetizá-lo e vem sendo estudado desde a década de 30, quando foi devidamente caracterizado.

O escorbuto é uma doença causada pela ausência de ácido ascórbico na dieta humana que vitimou muito marinheiros na época das grandes navegações, devido à escassez de alimentos vegetais frescos. No século XVIII, dietas a base de frutas cítricas passaram a ser recomendadas como forma de prevenir o escorbuto e vem daí o nome ácido ascórbico, geralmente considerado sinônimo de vitamina C 1. Atualmente, sabe-se que a vitamina C contribui para o fortalecimento de tecidos conjuntivos, vasos sangüíneos e anticorpos responsáveis pelo combate a infecções e vem sendo usada contra gripe, tuberculose, pneumonia, hepatites, poliomielite e outras doenças 2 e até para retardar o envelhecimento. A despeito da comprovação de alguns efeitos benéficos, o consumo de alimentos industrializados, sucos, polpas de frutas e comprimidos contendo vitamina C é crescente. Portanto, há grande interesse no desenvolvimento de métodos de análise confiáveis, sensíveis e rápidos.

O método oficial da AOAC 3 para a análise da dosagem de vitamina C é a titulação com 2,6-Diclorofenol Indofenol (DCFI), um indicador colorido que é reduzido pelo ácido ascórbico (AA), conforme representado abaixo:

A reação é realizada na presença de solução de ácido oxálico 1 % para evitar a auto-oxidação do AA em pH elevado. O ponto final da titulação é detectado pelo aparecimento da coloração rosada no titulado, que caracteriza o excesso de DCFI não reduzido em solução ácida 3.

Neste trabalho, procedeu-se a adaptação deste método volumétrico para análise por injeção em fluxo, com detecção espectrofotométrica, visando aumentar a velocidade de análise e baixar o consumo de reagentes. O sistema FIA, descrito na seqüência, é constituído por um espectrofotômetro Zeiss PM 2D, com cela de fluxo (C) em quartzo com 2 vias e caminho óptico de 1cm; um misturador (M) em forma de T; um registrador Linear; uma bomba peristáltica (B) Masterflex Digital Console Drive e um injetor de acrílico, utilizando-se um banho Lauda RCS-6 para termostatizar as soluções a 25,0±0,1 °C.

Para a realização das medidas, preenche-se totalmente o sistema com água destilada para o acerto de 0 e 100 % de transmitância. Após estu-dos para otimizar as con-dições, foi estabelecido intervalo de 1 min para inje-ção da amostra, seguido de 2,5 min para de limpeza do sistema, antes da próxima injeção. Neste intervalo, a mistura reacional atinge a cela de reação, ocorrendo a medida de absorbância em 515 nm que é registrada sob a forma de pico.

Foram construídas curvas de calibração relacionando os sinais registrados com a concentração de AA. Obteve-se linearidade no gráfico da altura relativa do pico em função da concentração, com coeficiente de correlação superior a 0,99 e elevados coeficientes angulares para soluções de AA entre 7´10-5 a 4´10-4 mol L-1, em ácido oxálico 1 % (m/v), usando-se solução de DCFI 3,38´10-4 mol L-1. Para medidas realizadas com 5 replicatas, a estimativa de desvio foi da ordem de 3,0 %.

Foram realizadas análises de tabletes de comprimidos de vitamina C e comprimidos efervescentes de acordo com método descrito por Baccan e seus colaboradores 4, usando titulação com iodo para comparação dos resultados (TIT) com os resultados obtidos com o método FIA (FIA). Em ambos os casos, procedeu-se à dissolução dos comprimidos em água destilada, seguindo-se de filtração e  diluição em ácido oxálico 1 % (m/v) para a análise com o método FIA. Na tabela abaixo apresentam-se as médias de análises em triplicata e medidas em 5 replicatas com o método FIA, sendo D = [(TIT - FIA)/TIT] ´100 .



% de ácido ascórbico (m/m)


Amostra

Valor de rótulo

TIT

FIA

D (%)

Tablete

75,8

71,3

68,6

3,8

Comprimido Efervescente

22,6

22,8

22,2

2,6


Esses resultados podem ser considerados satisfatórios, indicando que o método foi adaptado com sucesso. Isto demonstra sua eficácia para determinação de vitamina C, sendo que 17 amostras podem ser analisadas por hora.

1) U. Molster, A. Bendich; “Handbook of Vitamins”, Marcel Dekker, New York, 1990.

2) M. Briggs; “Recents Vitamin Research”, CRC Press, Boca Raton, 1984.

3) “Official Methods of Analysis of AOAC International”, AOAC International, Vol II, 1997.

4) N. Baccan; J.C. Andrade; O.E.S. Godinho; J.S. Barone; “Química Analítica Quantitativa Elementar”, 2a Edição, Editora da UNICAMP, Campinas, 1985.

(CNPq)