INTEGRAÇÃO ENTRE A UNIVERSIDADE E A INDÚSTRIA:

COMO PREPARAR PROFISSIONAIS PARA O SETOR PRODUTIVO?


Pedro Faria dos Santos Filho (PQ) e Wilson Sueoka (PG)

Departamento de Química Inorgânica, Instituto de Química

Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP – C.P. 6154 CEP: 13083-970


palavras-chave: educação em química, ensino, indústria



Atualmente, o curso de graduação em química enfatiza o ensino voltado a temas essencialmente acadêmicos, tais como modelagem teórica, práticas laboratoriais envolvendo experimentos clássicos e rigor científico. Com este tipo de perfil, centenas de recém-formados são anualmente colocados à disposição do setor produtivo, cujas atividades diferem em muito daquilo que o recém-formado obteve durante sua graduação. Muito pouco ou nada é transmitido ao aluno sobre, por exemplo, redução de custos, competitividade de produtos, inovação mercadológica, adaptação de produtos para torná-los comercialmente viáveis, etc...

O trabalho conjunto entre a indústria e a Universidade gera benefícios para ambas as partes em termos de trabalho em equipe, gerenciamento e habilidade profissional. A aproximação com o setor produtivo fornece aos educadores informações úteis para serem repassadas aos seus pares e aos alunos, aumentando a adequação do ensino com a prática real das empresas do setor; além disso, esta interação gera profissionais em sintonia com as necessidades do setor produtivo. Isto pode criar oportunidades de desenvolvimento de projetos conjuntos em busca de soluções para processos industriais e aprimorar o senso investigativo voltado à realidade das empresas, as quais, normalmente, procuram soluções para situações bem definidas.

A associação Universidade/Indústria pode também formar professores com melhores conhecimentos a respeito das indústrias e de suas necessidades, além de associar o ensino de química às práticas industriais, enriquecendo o currículo com maior variedade de conhecimentos práticos.

Neste contexto, nos propusemos a mostrar aos alunos as atividades das indústrias químicas da região de Campinas (SP), com exemplos práticos do modo como o tratamento adequado do conteúdo científico pode servir como poderosa ferramenta para impulsionar o progresso e melhorar a produção local, levando conseqüentemente, à melhoria social.

Além de desenvolver as capacidades de abstração e experimentação, desejamos ainda acrescentar, as de integração das diversas áreas do conhecimento e visão empreendedora, indicar o potencial dos processos industriais locais como uma fonte de trabalho prático de investigação científica, utilizando os conceitos adquiridos anteriormente, enfatizando as inter-relações entre os princípios científicos e suas aplicações e, finalmente, melhorar os contatos com as empresas, visando futuras parcerias.

A justificativa para uma proposição desta natureza se deve à necessidade de adaptar os paradigmas do ensino de química a atual conjuntura econômica brasileira, assim como ao chamado processo de globalização da economia, tornando-se importante algumas mudanças na área de educação, com retorno quantitativo e qualitativo na forma de profissionais capacitados e adaptados a exercer de imediato as suas atribuições profissionais no setor produtivo.

Para alcançar estes objetivos, estamos realizando visitas às empresas do setor químico da região de Campinas (SP) e entrevistando seus profissionais químicos, com a intenção de levantar um quadro geral das práticas químicas envolvidas no dia-a-dia destas empresas, bem como das necessidades reais das mesmas com relação ao profissional de química de nível superior.

Atualmente estamos coletando dados junto às empresas da região, com o intuito de adquirir uma idéia bem significativa acerca desta realidade. Contudo, nossos resultados preliminares indicam que os profissionais atuantes na Indústria Química apontam como principais deficiências no ensino superior, a falta de disciplinas com conteúdo de legislação, tópicos em economia, noções de administração, elaboração de projetos e ISO 9000;

De modo geral, pequenas indústrias, que são em maior número, agregam pouco valor ao produto oferecido; e as soluções dos problemas do dia-a-dia nestas empresas são obtidas de modo empírico, com pouca base científica (causa/efeito), enquanto as grandes empresas oferecem produtos com alto valor agregado, exigem profissionais altamente qualificados, possuidores de capacidade de solucionar rapidamente os problemas que surgem e criação de produtos de produção imediata.

Uma outra constatação foi que há uma significativa procura, por parte da Indústria, por serviços prestados pelo Instituto de Química da nossa Universidade, através de sua Central Analítica, sendo esta uma importante fonte de captação de recursos. Entretanto, na maioria dos casos esta interação se limita apenas a análise de problemas específicos e isolados de qualquer contexto.

Como conclusão, podemos afirmar que o conhecimento químico adquirido na Universidade é adequado para o exercício da profissão no setor produtivo. Contudo, há uma grande necessidade de motivar os alunos com exemplos praticados no setor produtivo e para isso, é fundamental que a Universidade conheça as práticas e os problemas existentes na Indústria, para poder adequar as suas disciplinas, incorporando este conteúdo às mesmas.

Acreditamos também, que se deva aumentar os laços da Universidade com o setor produtivo, tanto na forma de parcerias em projetos, como em troca de informações. Desta forma, pode-se adequar o ensino à necessidade do mercado vigente, implementando assim, um maior desenvolvimento tecnológico e social para o país.

Agradecimentos: Ao CNPq, pelo apoio financeiro