CARACTERIZAÇÃO POR RMN DE 27Al DAS ESPÉCIES DE ALUMÍNIO NO SISTEMA Al3+/ URÉIA / H2O E OS TEMPOS DE RELAXAÇÃO SPIN-REDE


Maria Iaponeide Fernandes Macêdo (PQ) e Celso Aparecido Bertran (PQ)

Instituto de Química - Universidade Estadual de Campinas


palavras-chave: espécies de íon Al, tempo de relaxação spin-rede, RMN


O estudo das espécies hidrolíticas de alumínio tem despertado grande interesse por elas desempenharem um papel fundamental nos processos de síntese de alumina em suas diversas morfologias, nos processos que o íon alumínio toma parte da síntese de cerâmicas avançadas por rotas úmidas, assim como nos processos de solubilização deste cátion em águas naturais.

Nosso grupo de pesquisa tem estudado a influência da uréia sobre os processos de hidrólise do íon Al3+ e os seus efeitos em processos de síntese por sol-gel das cerâmicas Mulita e Cordierita, Entretanto, até o momento, não está bem estabelecido como a presença de uréia nos processos iniciais da síntese sol-gel (formação do sol, gelatinização e secagem do gel) modifica as características dos precursores amorfos da Mulita (3Al2O32SiO2) e da Cordierita (Mg2Al4Si5O18).

Neste trabalho procuramos investigar a presença de diferentes espécies de íon Al3+ em soluções aquosas concentradas deste íon e uréia, empregando a técnica de RMN de 27Al e os tempos de relaxação spin-rede associados a estas espécies. A figura 1 mostra o espectro de RMN de 27Al correspondente às espécies presentes na solução de Al(NO3)3/CON2H4 preparada pela adição de 70g de Al(NO3)3.9H2O e de 152g de CON2H4 em 100 mL de água destilada (solução próxima da saturação à 22°C e pH = 3).



Figura 1. Espectro de RMN de 27Al com a deconvolução gaussiana dos picos referentes as espécies de alumínio presentes na solução de Al(NO3)3 / CON2H4


Neste espectro observam-se quatro picos bem definidos em 0,4; -2,3; - 4,2; e - 5,8 ppm e um quinto pico pouco definido em -7,4 ppm. O pico em 0,4 ppm corresponde ao íon [Al(H2O)6]3+, os picos em -2,3; e -4,2 correspondem aos complexos de Al com uréia [Al(ureia)]3+ e [Al(ureia)2]3+ respectivamente, como já observados por Wood e colaboradores [1]. Os outros picos em 5,8 e -7,4 ppm foram atribuídos às possíveis substituições sucessivas da água de coordenação do íon alumínio pela uréia, sugerindo a existência de cinco espécies de íons alumínio.

Uma estimativa do cálculo das concentrações relativas das espécies presentes na solução de Al(NO3)3/CON2H4 foi feita pela deconvolução gaussiana dos picos do espectro como mostrado na figura 1 resultando nas percentagens relativas: 8,9; 8,5; 27,2; 33,1 e 12,3% para as espécies identificadas pelos números 1, 2, 3, 4 e 5 respectivamente.

Na tentativa de caracterizar melhor as espécies mostradas no espectro de RMN de 27Al foi determinado para cada delas o tempo de relaxação spin-rede, T1. Para o íon alumínio, o mecanismo de relaxação spin-rede predominante é a relaxação de interação quadrupolar expressa pela equação abaixo:

sendo: T1Q = tempo de relaxação quadrupolar; = número de spin = 5/2; = parâmetro de assimetria quadrupolar; (e2qQ/h) = constante de acoplamento quadrupolar = tempo de correlação = 4phr3/3kT; h= viscosidade da solução; = raio molecular do íon Al; k= constante de Boltzmann e T= temperatura em Kelvin.

A análise da equação mostra que o tempo de relaxação para o íon Al depende dos parâmetros de assimetria quadrupolar e do raio molecular do íon alumínio sendo os demais parâmetros constantes em nossas medidas. Desta forma a substituição de H2O por CON2H4 na esfera de coordenação do íon [Al(H2O)6]3+ deve resultar em um aumento desses parâmetros, diminuindo conseqüentemente o valor de T1. Os resultados de T1 estão apresentados na tabela 1.

Tabela 1. Valores do tempo de relaxação spin-rede, T1, do 27Al

Pico

T1 para 27Al / (segundo)

1

0,0180 ± 0,00053

2

0,0135 ± 0,00053

3

0,0141 ± 0,00035

4

0,0142 ± 0,00022

5

0,0125 ± 0,00160


Os valores de T1 apresentados na Tabela 1 mostram uma diferença do valor de T1 do pico 1 referente ao íon [Al(H2O)6]3+ para os demais valores de T1 dos picos 2, 3, 4 e 5. Esta diferença pode ser atribuída aos complexos de Al por substituição de parte da H2O de coordenação do íon alumínio por moléculas de CON2H4.

Apesar de não conclusiva, a diminuição dos valores de T1 dentro da faixa de erro experimental para os picos 2 a 5, pode ser atribuída também à possíveis quebras de simetria do íon [Al(H2O)6]3+ pela substituição sucessiva de moléculas de H2O por moléculas de CON2H4 na camada de hidratação, hipótese que pode ser correlacionada com as observações feitas na figura 1 e que indicam a existência de pelo menos cinco espécies de alumínio diferentes na solução.

Os autores agradecem ao Prof. Fred Fugiwara do IQ/ UNICAMP pelas profícuas discussões sobre T1 e sua aplicabilidade neste sistema.

[1]. T. E. Wood, A.R Siedle, J. R. Hill, R. P Skarjune, and C. J. Goodbrake, Mater. Res. Soc. Symp. Proc., 180 (1990) 97.

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