DETERMINAÇÃO DE CLORANFENICOL EM MEDICAMENTOS


Zaine Teixeira1 (IC), Susanne Rath1 (PQ) e Felix G. R. Reyes2 (PQ)


  1. Departamento de Química Analítica, Instituto de Química, UNICAMP.

  2. Departamento de Ciência de Alimentos, Faculdade de Engenharia de Alimentos, UNICAMP.


Palavras-chave: cloranfenicol, cromatografia líquida de alta eficiência, medicamentos.



Cloranfenicol, (D(-)-treo-1-(p-nitrofenil)-2,2-dicloroacetamido-1,3-propanodiol), é um antibiótico de amplo espectro, sendo eficaz contra bactérias Gram-negativas, Gram-positivas e riquétsias. Em 1947, o cloranfenicol foi isolado de culturas de Streptomyces venezuelae, sendo que dois anos mais tarde foi obtido por síntese em escala industrial.

Devido aos diversos efeitos colaterais provocados pelo cloranfenicol, entre os quais incluem-se distúrbios gastrintestinais, distúrbios da medula óssea e toxicidade em recém nascidos, o emprego do antibiótico tem sofrido restrições de uso, sendo principalmente indicado para infecções por Salmonella (febre tifóide) e H. influenzae (meningite, epiglotite ou pneumonia), infecções meningocócicas ou pneumocócicas do sistema nervoso central em pacientes sensíveis a antibióticos b-lactâmicos e infecções anaeróbicas ou mistas do sistema nervoso central. Apesar da disponibilidade de outros antibióticos, devido a seu baixo custo, o cloranfenicol é utilizado de maneira indiscriminada(1). No Brasil, mais de 80 formulações com cloranfenicol estão disponíveis comercialmente. No entanto, não existem informações disponíveis a respeito da qualidade desses medicamentos. Assim, o presente trabalho tem por objetivo implantar e otimizar metodologia analítica para a determinação de cloranfenicol em soluções otológicas e oftálmicas, empregando a cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE)(2), visando o controle de qualidade de medicamentos a base deste antibiótico.

As determinações cromatográficas foram realizadas em um cromatógrafo Waters 510 e detetor UV/VIS com comprimento de onda selecionado em 280 nm. A separação do cloranfenicol foi realizada em coluna analítica octadecil (125 mm x 4 mm, Merck), sendo que as melhores condições para a separação do cloranfenicol de outros componentes presentes nas formulações como lidocaína, tetracaína, dexametasona e outros, foram obtidos mediante emprego de uma fase móvel de composição ACN + água (20 + 80 v/v). Nessas condições experimentais obteve-se uma curva analítica linear na faixa de concentração de 0,01 a 0,1 mg de cloranfenicol/mL. O limite de determinação do método foi calculado em 0,012 mg/mL.

A exatidão do método foi avaliada mediante comparação de resultados obtidos na determinação simultânea de cloranfenicol em uma solução oftálmica por CLAE e por polarografia de pulso diferencial(3), onde foram determinados valores de 4,02 ± 0,13 e 3,80 ± 0,11 mg/mL, respectivamente. Mediante teste “t-pareado” verificou-se que os valores médios obtidos pelas duas técnicas não diferiram significativamente a um nível de confiança de 95 %.

Quinze amostras (6 soluções oftálmicas e 9 soluções otológicas), obtidas em farmácias na região de Campinas, SP, foram analisadas por CLAE.







Figura 1: Percentagem de cloranfenicol determinada em função do valor declarado
na bula do medicamento.



Pelos dados apresentados na figura 1 verifica-se que, das amostras analisadas, 7 apresentaram uma concentração de cloranfenicol 80 % inferior ao valor declarado na bula do medicamento. Cabe ressaltar que as amostras de número 11 a 14 foram amostras grátis.

Os resultados obtidos indicam que o método cromatográfico estabelecido apresentou sensibilidade e seletividade adequada para o controle da qualidade de soluções oftálmicas e otológicas a base de cloranfenicol. As substâncias anestésicas, conservantes e antiinflamatórias, veiculadas comumente em associação ao antibiótico, não interferem na determinação do mesmo. Ainda, sugerem a necessidade de fiscalização e monitoramento dos níveis de cloranfenicol em soluções oftálmicas e otológicas, afim de assegurar a qualidade de medicamentos a base desse antibiótico.


Referências

  1. Katzung, B.G., Farmacologia Básica e Clínica, 6a ed., Guanabar Koogan, RJ, 1998, p. 528.

  2. Sadana, G. & Ghogare, A .B., J. Chromatogr., 542(2), 515, 1991.

  3. Joshi, D.M. & Joshi, A .P., J. Indian Chem. Soc., 74, 585, 1989.


[SAE, UNICAMP]