ESTUDO DOS COMPLEXOS DE CHUMBO (II) COM AMINOÁCIDOS E DIPEPTÍDEOS SULFURADOS.


ANETE CORRÊA ESTEVES (PQ)1,2, JUDITH FELCMAN (PQ) 2 E CRISTIANE MARIA DE MELLO ALVES PORTELLA (PG)2.


1- DEPARTAMENTO DE QUÍMICA -PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA (RJ).

2- INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E AMBIENTAIS – UNIVERSIDADE SANTA ÚRSULA (RJ).


“palavras chaves”: chumbo, aminoácidos, dipeptídeos


INTRODUÇÃO:

Os metais pesados são cumulativos no organismo, principalmente no tecido adiposo, lá ficam armazenados sob forma orgânica ou elementar, prontos a se combinarem com proteínas e lipídios circulando pelo sangue e danificando os rins, pulmões e aparelho cardiovascular.

O chumbo interfere com a função de minerais essenciais: cálcio, ferro, cobre e zinco. Além disso o metal diminui a síntese de hemoglobina e interrompe a atividade de várias enzimas eritrocitárias incluindo a d-aminolevulínico dehidratase e a ferroquelase. O chumbo é considerado como neurotoxina, capaz de provocar sérias alterações nervosas e cerebrais de caráter irreversível. Sobre o tecido ósseo o chumbo age deslocando o cálcio e provocando osteosporose.

Os mecanismos bioquímicos pelos quais o chumbo provoca os malefícios ao organismo são: ligação com aminoácidos sulfurados, inativação de várias enzimas plasmáticas e intracelulares, imunossupressão, aumento do risco de carcinogênese, ligação a grupos carboxil e fosforil e agressão do trato gastrointestinal. (Baran,1995).

Estudos recentes demonstram que o Pb(II) liga-se fortemente a locais ricos em cisteína mas que este íon não estabiliza os compostos respectivos com a mesma geometria do Zn(II). Estes estudos sugerem que os problemas associados com a toxicidade do Pb(II) seja por sua ligação com estes locais de ligação Zn-cisteína (Godwin,1998).

OBJETIVO:

O objetivo de nosso trabalho foi determinar as constantes de formação dos complexos de chumbo e os aminoácidos sulfurados metionina, cisteína e os dipeptídeos glicilglicina, metionilglicina, glicilmetionina e cisteilglicina e os não sulfurados glicina e glicilglicina para comparação. Foram também obtidos da literatura alguns dados das constantes de formação dos complexos de chumbo e a penicilamina (Nag,1974).

MÉTODOS:

A metodologia usada para atingir este objetivo foi a titulação potenciométrica

nas proporções 1:1, 2:1 e 3:1 metal:ligante respectivamente usando-se KNO3 0,1mol.dm-3 para manter a força iônica constante, à temperatura de 25ºC e KOH 0,1 mol.dm-3 como solução titulante.

Os valores das constantes dissociação dos ligantes e as constantes de formação dos complexos entre o metal e os ligantes foram calculadas com o programa SUPERQUAD, e a distribuição das espécies em função do pH foram

determinadas pelo programa SPE.



RESULTADOS:

Os valores obtidos para as constantes de formação entre o chumbo e os ligantes estudados podem ser vistos na tabelas abaixo:


Tabela 1 - Logaritmo das constantes de formação dos complexos de chumbo (II) com os aminoácidos

COMPLEXOS

GLICINA

METIONINA

CISTEÍNA

PENICILAMINA*

ML


5,38 ± 0,02


4,38 ± 0,01


11,70 ± 0,02


14,32 ± 0,02


MHL

12,50 ± 0,02 00,020,02


13,80 ± 0,02

16,19 ± 0,02


17,72 ± 0,05

MHL2

17,46± 0,02 0,02

00,02000,02


-

-

27,98 ± 0,07

MH2L2

24,05± 0,02


-

-

34,03 ± 0,08

ML2

8,99 ± 0,02


8,66 ± 0,02


17,72 ± 0,02

19,04 ± 0,05

MHL3

-


-

32,74 ± 0,02


-

ML3

-


-

26,73 ± 0,02

-

MLOH


-3,40 ± 0,05


-1,70 ± 0,03

1,98 ± 0,02

-

ML(OH)2


-


-

-7,47 ± 0,04

-

* Valores obtidos com I=3,00M (NaClO4) (Corrie,1976).


Tabela 2 - Logaritmo das constantes de formação dos complexos de chumbo (II) com os dipeptídeos

COMPLEXOS

GLIGLI

METGLI

GLIMET

CISGLI

ML

3,74 ± 0,02


3,64 ± 0,01

2,76 ± 0,02

12,43 ± 0,00

MHL

10,17 ± 0,02


11,05 ± 0,04

11,18 ± 0,02

18,73 ± 0,00

ML2

5,37 ± 0,02


6,87 ± 0,03

5,39 ± 0,02

-

MOHL

-7,90 ± 0,02

-4,05 ± 0,06

-4,16 ± 0,04

4,02 ± 0,04

ML(OH)2

-

-

-

-3,11 ± 0,03

*Valores extraídos de Nag (1974).


CONCLUSÂO:

Os valores mais baixos e semelhantes entre si, referentes aos ligantes: glicina, metionina, glicilglicina, metionilglicina e glicilmetionina indicam que somente o grupo amina e carboxilato estão envolvidos na ligação com o chumbo. Os resultados bem mais elevados encontrados para as constantes de formação dos complexos de cisteína, penicilamina e cisteilglicina indicam nestes casos o envolvimento também do grupo tiol.


BIBLIOGRAFIA:

  1. Baran, E. J., “Quimica Bioinorganica”, McGraw Hill, Interamericana de España. Madrid (1995).

2- Corrie, A. M.; Walker, M. D. e Williams, D. R.; J. Chem. Soc. Dalton Trans. 1012-1015 (1976).

3- Godwin, H. A.; Payne, J. C.; Horst, M. A. e Padia, S.; Resumos da Reunião Anual da American Chemical Society, Seção Inorgânica. nº 648 (1998).

4- Nag, K. e Baneryee, P.; J. Inorg. Nucl. Chem. 36: 2145- 2154 (1974).

(CNPq)