RETENÇÃO DO HERBICIDA ATRAZINA EM UM SOLO CAMBISSOLO HÚMICO
Juliana Gomes (IC), Deborah Pinheiro Dick (PQ), Roberto Fernando de Souza (PQ).
Departamento de Físico-Química, Instituto de Química, UFRGS.
Palavras-chave: ATRAZINA, SORÇÃO, FREUNDLICH
A atrazina (2-cloro-4-etilamino-6-isopropilamino-s-triazina) é um dos herbicidas mais utilizados no mundo. Devido ao uso intenso, tem-se encontrado quantidades significativas desse herbicida, no ambiente principalmente em águas e solos.
Estudos realizados mostraram que a retenção da atrazina no solo depende do teor de matéria orgânica presente, e que as interações entre atrazina e matéria orgânica podem ocorrer através de pontes de hidrogênio, mecanismo de transferência de carga e interação hidrofóbica.1
O objetivo deste trabalho foi avaliar a influência da matéria orgânica e da fração mineral do solo na sorção da atrazina em um solo Cambissolo Húmico (RS), empregando isotermas de adsorção.
Os adsorventes utilizados foram o solo Cambissolo Húmico na sua forma natural (CBNAT) e oxidado (CBOX), obtido pelo tratamento com H2O2 (15%, v/v) para remoção da matéria orgânica.
Ambos os adsorventes foram caracterizados por análise elementar (Perkin Elmer 4000), medidas de pH em água (pHH2O) e em KCl 1N (pHKCl)2, área superficial específica (ASE)3 e espectroscopia de infravermelho com transformada de Fourier por Refletânica Difusa (DRIFT) na região de 4000 a 400 cm-1, 300 scans e resolução 4 cm-1 (Win-Bomen & Michelson).
Utilizou-se como adsorbato atrazina comercial (Gesaprim 500, Novartis ) que contém 500 g/L de ingrediente ativo.
As isotermas de adsorção foram realizadas utilizando 20 mL de solução de atrazina com concentrações 0, 1, 5, 10, 16, 20, 26 ou 30 mg/ mL e 2 g de solo, agitando-se 6 horas no escuro. A atrazina em solução antes e após adsorção foi quantificada por HPLC (LDC Analitical-Consta Metric 3200). Utilizou-se detector de UV em 222 nm, coluna de fase reversa RP-18 (Spheri-5) (250 x 4,6 mm), solução metanol-água (70/30, v/v) como fase móvel e volume injetado de 20 mL.
Aos dados obtidos foi aplicado a isoterma de Freundlich e a constante Kf foi calculada por:
onde Qads= atrazina adsorvida (mg AT/g solo), Ceq =concentração de atrazina na solução de equilíbrio (mg AT/mL), Kf = constante de Freundlich (mL/g solo), nf (mL/ g de solo).
Calculou-se o coeficiente de distribuição Kd (Qads/ Ceq) e o coeficiente KOC (Kd/ %C .100).
A aplicação da isoterma de Freundlich para o solo natural forneceu resultado satisfatório, com um alto coeficiente de correlação (R2= 0,963). Para o solo oxidado o coeficiente de correlação obtido foi menor do que no solo natural (R2=0,876).
Tabela 1. Característica dos solos e parâmetros obtidos através da isotermas de adsorção.
Característica |
Solo Natural |
Solo Oxidado |
pHH2O |
5,0 |
5,2 |
pHKCl |
4,0 |
4,6 |
%C |
4,52 |
0,66 |
ASE (m2/g de solo) |
100 |
75 |
Kd (mL/g) |
2,44 |
0,54 |
Kd/ASE (mL/m2) |
0,024 |
0,0072 |
KOC (mL/g C) |
54 |
* |
Kf (mL/ g) |
1,26 |
0,83 |
*não calculado devido ao baixo teor de matéria orgânica
A remoção da matéria orgânica com H2O2 causou uma diminuição da ASE, mostrando a contribuição da fração orgânica na superfície reativa do solo. A diferença entre as medidas de pHKCl e pHH2O foi maior para o solo natural, indicando um maior excesso de cargas negativas neste. A remoção dos ânions carboxilatos da matéria orgânica, provavelmente causou uma diminuição de cargas negativas na superfície.
O solo oxidado apresentou aproximadamente 8% de atrazina adsorvida enquanto que o solo natural adsorveu 49% do herbicida adicionado. Os valores de Kf e Kd para o solo natural foram superiores que os do solo tratado. Esses resultados indicam que a matéria orgânica do Cambissolo Húmico foi o principal constituinte responsável pela adsorção da atrazina ,enquanto que a fração mineral contribuiu muito pouco para a sua retenção.
A adequação do modelo de Freundlich aos dados obtidos, sugerem que o processo de retenção da atrazina no solo envolve adsorção física.
Bibliografia:
1)Santos, G. A.; Camargo, F.A. O., Fundamentos da matéria orgânica do solo: ecossistemas tropicais e subtrpopicais, pp.75-82, Porto Alegre, 1999.
2)Embrapa, Manual de métodos de análises de solo Centro Nacional de Pesquisas de Solos, pp.83-.84, Rio de Janeiro, 1997.
3)Quirk, A. Soil Sci., vol.80, pp.423-430, 1995.
Agradecimentos: CNPq, FAPERGS e PROPESQ/ UFRGS