A CONTEXTUALIZAÇÃO E A CONSTRUÇÃO DO CONCEITO DE SAIS
Flávia Jorlane Rodrigues de Oliveira1 (IC), Adilson Costa Santos2(PG), Patrícia Soares de Lima3 (PQ), Djalma Andrade1(PQ)
1Departamento de Química - Universidade Federal de Sergipe
2Departamento de Educação - Universidade Federal de Sergipe
3Secretaria de Estado de Educação/Escola de 1º e 2º grau Dr. "Milton Dortas"
E-mail: geq@sergipe.ufs.br
palavras chaves: concepções dos alunos, sais, aprendizagem
Tem-se, através da pesquisa, legitimado e provado que os alunos não chegam com as mentes vazias a cada nova situação de aprendizagem escolar, mas que possuem esquemas de conhecimentos prévios. Esses esquemas constituem representações da realidade e neles articulam-se tanto conceitos construídos no meio escolar como outros construídos espontaneamente na prática extra-escolar cotidiana.
Apesar de ser o aluno quem constrói, enriquece, modifica e coordena os seus esquemas, no caso da aprendizagem escolar, a atividade construtiva do aluno não aparece como uma atividade individual e sim como parte de uma atividade interpessoal que envolve a interação professor-aluno, como também a interação aluno-aluno. Na interação entre alunos podem surgir situações de conflito sociocognitivo, como resultado da confrontação de pontos de vistas divergentes entre os participantes de uma tarefa, ou as que caracterizam o trabalho cooperativo, como divisão de papéis e distribuição de responsabilidades. Na interação professor-aluno, a ação educacional deve criar condições favoráveis para que os esquemas do conhecimento se orientem na direção que leve o aluno a desenvolver a capacidade de realizar aprendizagens significativas
Sustenta-se que os conhecimentos prévios constituem sistemas de interpretação e de leitura a partir dos quais os aprendizes conferem significado às situações de aprendizagem escolar. Em todos os casos procura-se modificar esses conhecimentos prévios para aproximá-los dos conhecimentos científicos que se pretende ensinar, utilizando-se de diferentes estratégias didáticas para consegui-lo.
Embora nas últimas décadas as pesquisas para melhoria do ensino de química tenham avançado consideravelmente, é comum encontrarmos professores de química com uma prática encaminhada quase exclusivamente para a retenção de enormes quantidades de informações, por parte do aluno, estabelecendo-se de forma acabada e com tarefas padronizadas. Uma das propostas mais recentes no ensino de química discute a possibilidade de programas centrados em contextos de interesse social, visando desenvolver um ensino de química mais dinâmico, pois discute em sala de aula as implicações e aplicações do conhecimento tecnológico e científico na sociedade, visando com isso formar o cidadão.
Dentro dessa nova abordagem, o ensino de sais foi desenvolvido apresentando ao aluno os sais nos fertilizantes e sua importância para o desenvolvimento dos vegetais; os sais minerais como fonte de íons essenciais ao nosso organismo e como componentes principais de alguns matérias do cotidiano, como alvejantes, gesso, medicamentos, dentre outros. Detectou-se que na identificação das concepções prévias apresentadas pelos alunos as mesmas estavam restritamente ligadas ao cotidiano, como "indispensável à saúde, presente nos alimentos e na água do mar", sendo que apenas alguns expressaram a concepção quimicamente aceita, citando os sais como "produto de uma reação entre um ácido e uma base". Outros ainda expressaram o conceito de sais usando termos químicos, porém sem clareza, demonstrando pouco entendimento sobre o tema.
O estudo foi realizado numa classe de 1ª série do ensino médio de uma Escola da Rede Estadual de Ensino no município de Simão Dias (Sergipe). Tivemos por objetivos: modificar as concepções do alunos sobre os sais a partir de um texto motivador, levando o aluno a compreender a importância dos mesmos na nossa vida e a construir o conceito de sais através da reação de neutralização.
As atividades foram desenvolvidas nas seguintes etapas: a) Leitura interativa do texto e identificação das idéias principais do mesmo; b) discussão do processo extrativo de sais de potássio pela Vale do Rio Doce em Sergipe; c) fundamentação teórica; d) realização de experimentos; e) aplicação de questionários, em grupos; f ) fechamento das discussões, pelo professor, retomando alguns pontos importantes.
Os resultados da pesquisa evidenciaram que para o conceito de sais, antes do estudo, os alunos apresentaram varias categorias de respostas associadas ao cotidiano e depois, apenas duas categorias de respostas sendo que 85% delas eram quimicamente aceitas. Constatou-se, ainda, ações interativas durante a leitura do texto, bem como na discussão sobre o processo extrativo de sais de potássio e na realização de experimentos. Tais ações revelaram a metodologia conduzindo o aluno a uma ação construtiva, o entendimento do conhecimento como construção, o professor como mediador da aprendizagem.
Tendo em vista os aspectos considerados, pudemos concluir que a atividade de leitura não é apenas de decodificação, nem apreensão de um único sentido pré estabelecido. Seu uso esteve sempre associado a um objetivo mais amplo: a sua significação, levando a uma visão de conjunto do tema. A atividade experimental influencia significativamente o nível de manifestação dos alunos para evolução dos conceitos químicos. Finalmente, concluiu-se que a promoção de vínculos reflexivos e questionadores com os objetos, partindo do problema, ocasionou a construção do conceito de sais.
Referências Bibliográficas
SALVADOR, C. C. Aprendizagem escolar e construção do conhecimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1994,130-131p .
SCHNETZLER, R. P., ARAGÃO, R. R. Importância, sentido e contribuições de
pesquisas para o ensino da química. Química Nova na Escola, vol. 1, 1995, 27-31 p.