PROCEDIMENTO PARA CALIBRAÇÃO DE FORNO DE MICROONDAS PARA SISTEMA DE INJEÇÃO EM FLUXO COM RADIAÇÃO MICROONDAS FOCALIZADA
André F. Oliveira*(PQ)1 Joaquim A. Nóbrega(PQ)2 Orlando Fatibello-Filho(PQ)2
1 Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia- Universidade de Mogi das Cruzes UMC/OMEC Av. Cândido X. Almeida Souza, 200, 08780-911; Mogi das Cruzes SP
2Grupo de Química Analítica/DQ, Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia, Universidade Federal de São Carlos, CP 676, 13560-970, São Carlos SP
* e-mail: aferoliv@zaz.com.br
palavras-chave: calibração, forno de microondas de uso doméstico; sistema de injeção em fluxo
Desde o início do uso de forno de microondas em química analítica, tem havido a preocupação de evitar o retorno da radiação microondas não absorvida para o magnetron (fonte dessa radiação no forno) e assim não diminuir seu tempo de vida útil. No caso do acoplamento de fornos de microondas com sistemas de injeção em fluxo, esta situação é mais crítica, devido o pequeno volume do reator (cerca de 500 mL) em relação à cavidade do forno (cerca de 22 L).
Para minimizar este problema, algumas alternativas têm sido propostas na literatura. Dentre elas, a mais comum é o reator ser colocado ao redor de um frasco com água, cujo inconveniente é a ebulição e evaporação da água após algum tempo de trabalho.
Em trabalhos anteriores1,2 foi proposto o uso da bobina reacional posicionada frontalmente à ponta da antena de um forno de microondas de uso doméstico, focalizando a radiação nessa bobina, aumentando significativamente a eficiência de absorção de microondas e levando à formação de duas fases (líquida e vapor) não segmentadas entre si. Nesse sistema, o magnetron irradia continuamente na potência máxima e manteve-se estável por horas, necessitando de um sistema de absorção do excesso de radiação mais adequado. Foi então utilizado um sistema com circulação de água, em vazões elevadas (300 500 mL min-1), dentro da cavidade do forno. O uso deste sistema tornou difícil a calibração do forno de forma convencional, de forma que buscou-se um procedimento alternativo para essa calibração.
Como não é possível variar a potência do magnetron, o artifício utilizado nos fornos de microondas para obter esse efeito é variar o tempo em que o magnetron é ligado (na potência máxima) e desligado, num ciclo, usualmente de 30 s. Ainda que neste sistema de injeção em fluxo não seja possível o uso de outras potências que não a máxima, devido o reduzido tempo de contato da radiação com um elemento de fluido (cerca de 6 s), a calibração nas potências disponíveis foi realizada para verificar o comportamento do magnetron.
EXPERIMENTAL
O sistema de injeção em fluxo com microondas focalizada no reator utilizado foi descrito anteriormente1,2. Foi utilizado uma bomba peristáltica Ismatec, mod. IPC-8, um injetor comutador manual, de acrílico, tubos de polietileno e PTFE. Um forno de microondas Panasonic, mod. NN5556B, com cavidade de 22 L e magnetron emitindo a 2,54 GHz com uma potência nominal de 700W teve pequenas modificações. O prato giratório e seu motor foram retirados e em seu lugar foram introduzidos tubos para entrada e saída de água da torneira.
Imediatamente na saída da cavidade, foi colocado um termístor na tubulação de saída de água e a temperatura nesse ponto foi relacionada com a resistência do termístor, medida com um multímetro. A calibração desse termístor foi realizada acoplando-o a um banho termostatizado e medindo-se a sua resistência em diversas temperaturas.
Foram testados três tipos de sistemas de absorção de radiação (dummy load): um recipiente de vidro de 500 mL com entrada e saída de água; dois recipientes de vidro de 500 mL ligados em série; e 30 m de tubos de polietileno de 3,5 mm de diâmetro (~290 mL) e foram comparados com o método convencional.
A potência relativa efetiva (PRE) emitida pelo magnetron foi obtida registrando-se o ruído causado no espectrofotômetro no modo standby e no registrador, com um fundo de escala de 20 mV.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Para
realizar a calibração do forno, foi medida a vazão
da água de circulação e a temperatura na entrada
e na saída do forno. Considerando-se que a temperatura da água
na saída foi mantida abaixo da temperatura de ebulição,
a potência P do magnetron é dada pela equação
, onde Cp, d e F é
a capacidade calorífica, a densidade e a vazão da água,
respectivamente; DT, é a
diferença entre a temperatura da água na saída
e na entrada do sistema e DL são
perdas de energia térmica da água para o ambiente.
As potências relativas efetivas foram inferiores às nominais com exceção de 100 % e 10%. A calibração do forno foi realizada utilizando esses valores.
Os modelos de regressão obtidos para cada dummy load foram: a) recipiente de 500 mL, P/W = -42 + 6,7*PRE, r2=0,9980; b) recipientes em série, P/W = 18 + 6,79* PRE, r2=0,9984; c) tubulação de 30 m, P/W = -25 + 7,05*PRE, r2 = 0,9998; d) método convencional, P/W = 1,7 + 6,4*PRE, r2=0,9929.
Observou-se capacidades de absorção (coef. angular) próximas entre si (ao redor de 6,8 W/%). Os valores de intercepto diferentes entre si estão relacionados com os materiais dos recipientes e da tubulação, que têm diferentes capacidades caloríficas e coeficientes de transferência de calor, assim como devido a correntes de convecção dentro dos recipientes.
CONCLUSÃO
Assim, o procedimento utilizado mostrou-se satisfatório, quando comparado com o método convencional, podendo ser utilizado qualquer um os três sistemas para a calibração, embora aquela utilizando a tubulação seja um pouco mais eficiente para a absorção do excesso da radiação microondas. Uma vantagem desse procedimento é poder obter informação sobre o estado do magnetron sem a necessidade da interrupção do trabalho no sistema de injeção em fluxo
(1)Oliveira; A.F.; Fatibello-Filho, O. Talanta , 50(1999)899-904; (2) Oliveira; A.F.; Fatibello-Filho, O. 10o ENQA, Santa Maria, RS AF31.