REDUÇÃO
DA DISTÂNCIA INTERLAMELAR DE SÍLICA INDUZIDA POR
APLICAÇÃO DE PRESSÃO
Leandro
Martínez1 (IC), Robson F. de Farias2 (PQ),
Claudio Airoldi1 (PQ)
1Instituto
de Química, Unicamp.
2Departamento
de Química, Universidade Federal de Roraima.
Palavras-chave:
sílica lamelar, distância interlamelar, pressão.
Mudanças
estruturais de sílicas organo-funcionalizadas vêm sendo
extensivamente estudadas já que materiais estruturalmente
organizados podem ser utilizados para a adsorção
seletiva de substâncias tóxicas ou imobilização
de espécies foto-ativas [1]. Podem ser promovidas pela
quantidade de água [2], pelas variações do pH do
meio reacional [3], pela variação de temperatura do
material [4] ou pela adição de sais de metais de
transição [5,6]. Os metais provocam uma diminuição
na distância interlamelar que indica um rearranjo das moléculas
no espaço interplanar. Neste trabalho mostra-se que a variação
da pressão externa provoca uma redução da
distância interlamelar da sílica e que esta variação
pode ser controlada pelo tempo de aplicação de pressão.
A
sílica lamelar foi preparada por um processo sol-gel, como
descrito anteriormente [5,7]. De cada um dos materiais separaram-se
amostras de 0,10 g que foram prensadas uniaxialmente a 10 ton por
tempos que variaram de 5 a 45 minutos. Foram obtidos espectros de
difração de raios X para todas as amostras.
A
aplicação de pressão provocou um decréscimo
da distância interlamelar muito significativo: a sílica
não prensada apresenta uma distância interlamelar de 2,3
nm que passa para 2,00 nm quando prensada a 10 ton por 20 minutos. As
distâncias interlamelares das amostras dopadas com cádmio
e mercúrio dimuiniram em torno de 15% antes de atingirem a
faixa de variação linear.
Após
os primerios 5 minutos de prensagem, a variação da
distância interlamelar passa a ser constante. A figura 1 mostra
a relação obtida entre a distância interlamelar,
calculada pela reflexão dos planos 001 e o tempo de prensagem
para a sílica lamelar pura. Nota-se claramente a relação
linear entre os parâmetros, sendo que as retas obtidas para as
três amostras e os respectivos coeficientes de correlação
estão listados na tabela 1.
Comparando-se
o tamanho da cadeia orgânica, 1,15 nm, e a distância
interlamelar da sílica lamelar pura não prensada,
conclui-se que deve haver duas moléculas ligadas por um dos
grupos amino a faces inorgânicas opostas. Para a sílica
lamelar prensada a 10 ton por 45 min, a distância interplanar é
1,96 nm, o que representa uma redução de 15% em relação
à sílica não prensada. Esta variação
sugere que as diaminas assumiram uma disposição
inclinada, como mostra a figura 2. Este resultado mostra que a
disposição das moléculas neste tipo de estrutura
não depende apenas da densidade de carga da camada de sílica
[1], mas também da pressão externa.
Tabela 1. Relação entre distância
interlamelar (d / nm) e tempo de prensagem (t / min) e
coeficeinte de correlação (R).
|
Material
|
Reta d = f(t)
|
R
|
Sílica
lamelar pura.
|
d
= -0,002t + 2,0443
|
0,9999
|
Sílica
lamelar dopada com cádmio.
|
d
= -0,007t + 1,917
|
0,9999
|
Sílica
lamelar dopada com mercúrio.
|
d
= -0,001t + 1,822
|
1,0000
|
A
coordenação dos íons cádmio e mercúrio
na sílica lamelar causam efeitos diferentes na capacidade de
deformação da estrutura. A sílica lamelar dopada
com cádmio sofre uma redução da distância
interplanar maior que a da sílica lamelar pura, o que se
observa pelo coeficiente angular da reta d=d(t). A sílica
lamelar pura, porém, é mais afetada pela pressão
que a sílica dopada com mercúrio. Isto indica que a
coordenação dos átomos de mercúrio
modificam a estrutura, resultando em um arranjo mais rígido. A
maior redução da distância interplanar para a
sílica dopada com cádmio indica que sob pressão
a esfera de coordenação do metal pode ser modificada,
adotando uma conformação termodinamicamente mais
estável. O mercúrio deve atingir sua conformação
mais estável na reação à pressão
atmosférica, o que explicaria a rigidez da estrutura.
[1]
M. Ogawa, K. Kuroda, Bull. Chem. Soc. Jpn., 70 (1997) 2593. [2] N.
Ulagappan, Neeraj, B.V.N. Raju, C. N. R. Rao, Chem. Commun. (1996),
2243. [3] A. Matijasic, A. C. Voegtlin, J. Patarin, J.L. Guth, L.
Huve, Chem. Commun. (1996) 1123. [4] Neeraj, C.N.R. Rao, J. Mater.
Chem. 8 (1998) 1631. [5] R.F. de Farias, An. Assoc. Bras. Quim. 48
(1999) 112. [6] R.F. de Farias, C. Airoldi., J. Non-Cryst. Solids, no
prelo. [7] R.F. de Farias, C. Airoldi, J. Solid. State. Chem., no
prelo.
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