COMPORTAMENTO POTENCIODINÂMICO da 1,3-dIFENIL-2-PROPEN-1-ONA (Chalcona) e 1,3-difenil-3-feniltio-2-propen-1-ona em DMF

Nara A. Zacarias (IC); Carlos Eduardo da Costa (IC) Décio A. Campioti (PG);

Hans Viertler (PQ); Paulo T. A Sumodjo (PQ)

Departamento de Química Fundamental - Instituto de Química

Universidade de São Paulo, C.P. 26077, 05513-970 São Paulo, SP.


Palavras-chave: chalcona, voltametria cíclica, redução.


Introdução

Vários estudos são feitos atualmente sobre a chalcona e seus derivados. Isso se deve, principalmente, às suas aplicações na medicina e farmácia, devido às suas propriedades antiinflamatória[1] e anticancerígena[2], destacando-se no tratamento do câncer do estômago. Sobre o ponto de vista químico, há muitos trabalhos de caracterização desses compostos, através das espectroscopias no UV e IR e RNM. Contudo, poucos são os estudos relativos à reatividade eletroquímica dessa classe de compostos.

Este trabalho descreve resultados preliminares do estudo do comportamento eletroquímico da chalcona e de um derivados sulfurado, a 1,3-difenil-3-feniltio-2-propen-1-ona em DMF, mostrando os dados obtidos através da voltametria cíclica.


Materiais e Métodos

O eletrodo de trabalho foi um disco de platina e uma folha de platina de grande área foi usado como eletrodo auxiliar. O eletrodo de referência foi o de Ag|AgI(DMF). A solução eletrolítica consistiu de perclorato de tetraetilamônio 0,1 M em DMF seco. As chalconas, sintetizadas em nossos laboratórios, foram adicionadas à solução para se obter uma concentração de 5mM e 60mM. A solução foi desaerada pelo borbulhamento de nitrogênio ultrapuro por 30 minutos antes das experiências. Os experimentos foram realizados à temperatura ambiente e os potenciais são referidos ao eletrodo de referência usado.


Resultados e Discussão

EMBED Origin50.Graph Figura 1. Voltamogramas cíclicos a 100 mVs-1 para a chalcona e chalcona sulfurada, 5 mM em DMF.

A Figura 1 mostra os voltamogramas cíclicos típicos obtidos pela aplicação do programa de perturbação esquematizado, a 100mVs-1, para os dois compostos estudados na concentração de 5 mM. Observa-se que, para a chalcona, durante a varredura inicial no sentido catódico surge um pico largo de corrente catódica de baixa intensidade em torno de –1,1 V seguido por um pico de corrente catódica, (C1) em –1,63 V. Durante a varredura anódica surge um pequeno pico de corrente anódica, (A1) em c.a. –1,45 V. Após esse pico, a corrente é praticamente nula e aumenta a partir de –0,25 V. Dentro do limite de potenciais estudado percebe-se a possibilidade do surgimento de um pico anódico em potenciais mais positivos que +0,5 V. A existência desse pico de corrente (A2) é claramente observada nos ensaios com concentrações maiores de chalcona. Resultados dos ensaios realizados com diferentes velocidades de varredura, v, mostraram ser o processo catódico caracterizado por C1 um processo controlado por difusão e que o par de picos (C1,A1) são característicos de um processo irreversível. O aspecto do voltamograma cíclico mostra claramente que o processo anódico que ocorre a potenciais mais anódicos é complexo e deve envolver etapas químicas. Os resultados dos experimentos realizados com a concentração de chalcona igual a 60 mM mostraram que o pico A2 só surge a v > 10 mVs-1 e a carga associada aumenta com o aumento de v. Assim, a razão entre as cargas anódica e catódica aumenta sigmoidalmente com v tendendo a um valor constante. Foi verificado ainda, que quando o eletrodo é girado (1000 rpm), os picos de corrente anódica desaparecem. Em função dessas observações, pode-se admitir o seguinte mecanismo formal:

Ch + ne = R (1)

R ® S (2)

R ® T + me (3)

Portanto, os picos C1 e A1 estão associados com as reações (1), onde Ch representa a chalcona. O produto da redução, R, pode ainda sofrer uma transformação química para dar o produto S, inativo eletroquimicamente, ou sofrer uma reação de oxidação para dar o produto T, caracterizado pelo pico de corrente A2. A comprovação ou rejeição do esquema de reação dependerá de muitos outros ensaios, atualmente em curso nos nossos laboratórios. O voltamograma cíclico da chalcona sulfurada, por sua vez, além de mostrar o pré-pico de baixa intensidade mais bem definido, apresenta dois pares de picos catódicos em –1,6 e –1,8 V, o pico anódico correspondente ao pico A1 da chalcona e exibe nitidamente o pico de corrente anódica, A2, em –0,11V. Comparando o comportamento voltamétrico dos dois compostos, nota-se que a grande diferença está no surgimento do 2o pico catódico em –1,8 V. Portanto, o esquema proposto deve ser praticamente o mesmo, excetuando-se pela formação de mais outro produto durante a redução da chalcona substituída.


Referências

  1. F. Herencia, ML Ferrandiz, A. Ubeda, JN Domingues, JE Charis, GM Lobo, MJ Alcaraz, Bioorg. & Medicinal Chem. Lett., 8 (1998) 1169.

  2. S. Shibata, Stem Cells, 12 (1994) 44.

CNPq, FAPESP