ESPECTROSCOPIA VIBRACIONAL DE
TETRAKIS(N-METIL-4-PIRIDIL) PORFIRINA (TMPyP4)
Dalva L.A. de Faria (PQ), Mônica M.B. Pessôa (PG) e Joaquim Vogt (IC)
Laboratório de Espectroscopia Molecular, Instituto de Química da USP
C.P. 26077, 05513-970, São Paulo
Palavras-chave: TMPyP, Raman, SERS
Porfirinas são macrociclos com extensiva aplicação tecnológica e que há muito despertam o interesse da comunidade acadêmica. Têm sido extensivamente estudadas por espectroscopia Raman, uma vez que essa técnica permite acesso não somente a informações vibracionais mas também eletrônicas, através do efeito Raman ressonante (RR)1. Dentre as porfirinas, são especialmente atraentes aquelas solúveis em água, devido à presença de substituintes carregados na posição meso, como as que tem grupos metilpiridil. Esse é o caso da tetrakis(N-metil-4-piridil)porfirina (TMPyP4).
Apesar do número apreciável de estudos empregando tanto o efeito Raman ressonante como o efeito SERS, a maioria dos trabalhos usa excitação em 457,9 ou 488,0 nm ou então efeito SERS em colóides de prata e cobre. No primeiro caso, as vibrações de simetria A1g são de longe as mais fortemente intensificadas1, obscurecendo a observação de bandas de simetria B1g ou B2g, enquanto que no caso do efeito SERS, o estudo fica restrito devido à metalação da porfirina que acontece nos sóis desses dois metais2. Este trabalho apresenta os resultados obtidos empregando espectroscopia Raman com excitação no ultravioleta (244 nm, Renishaw), infravermelho próximo (1064 nm, Bruker) e visível (632,8 nm, Renishaw). Neste último caso empregou-se eletrodo de ouro na obtenção de espectros SERS. Espectros obtidos em lâmina de cobre foram registrados para fins de comparação.
A excitação dos espectros Raman em 1064 nm acontece fora da região de ressonância, como demonstra o espectro de reflectância difusa da TMPyP4. Bandas que não são intensificadas quando a excitação se dá no visível ou o são fracamente podem ser observadas quando o espectro é excitado no NIR. Por outro lado, a atribuição das vibrações referentes aos substituintes às vezes fica dificultada pela superposição com bandas do anel porfirínico. A excitação em 244 nm é ressonante com uma transição p ® p* do grupo metilpiridil e, desse modo, as vibrações referentes a esse cromóforo devem ser preferencialmente intensificadas. O estudo em superfície de ouro foi feito com o objetivo de permitir a obtenção de espectros excitados dentro da banda Q, uma condição que normalmente não pode ser cumprida no RR devido à fluorescência apresentada pela TMPyP4 quando excitada nessa região do espectro.
O fenômeno de metalação ocorre rapidamente (microsegundos) quando as moléculas de TMPyP4 entram em contato com superfícies de colóides de prata2 e cobre3. No caso da prata, as bandas em ca. 1003, 1260, 1360 e 1550 cm-1 são sensíveis à metalação, mas também o são em relação à protonação da porfirina. De acordo com a literatura, os marcadores inequívocos de metalação são a intensificação da banda em 395 cm-1 (modo de def. fora do plano do anel porfirínico) com redução concomitante na intensidade de banda em 329 cm-1 e a conversão das bandas em 1337 e 1360 cm-1 para uma única banda intensa em 1340 cm-1. Os espectros obtidos em eletrodo de prata (excitação em 457,9 nm e 514,5 nm), de ouro (exc. em 632,8 nm) e em superfície de cobre ativada por ataque ácido (HNO3 1:1) mostraram um comportamento diferente. Em colóide, a banda em 1554 cm-1 aparece em 1547 cm-1, no entanto, em eletrodos ou em lâmina de cobre essa banda sofre deslocamento em sentido oposto, surgindo em 1570 cm-1; o mesmo acontece com a banda em 1445 cm-1 que é deslocada de 20 cm-1. Além disso, as bandas em 1520, 1363 e 398 cm-1 são bastante intensificadas. O efeito da metalação no espectro SERS dessa porfirina deve ser, portanto, reconsiderado e, nesse contexto, é importante complementar a atribuição das bandas de vibração da TMPyP4.
O espectro RR excitado em 244 nm mostra bandas em 550, 602, 799, 809, 899, 968, 1001, 1189, 1219, 1227, 1248, 1278, 1445 e 1640 cm-1. Devido à condição de ressonância com uma transição interna do substituinte metilpiridil, esses modos devem ter contribuições majoritárias do anel piridínico; esse é o caso das bandas em 1640, 1445, 1278, 1248, 1227, 1189, 1001 e 809 cm-1. As bandas em 1445 e 899 cm-1 eram antes atribuídas equivocadamente a vibrações do anel porfirínico. As bandas em 550 e 1278 cm-1 não haviam sido reportadas anteriormente.
. No espectro FT-Raman, além das bandas observadas com excitação no visível (457,9 nm) foram registradas bandas em 1228, 1334, 1345 (ombro), 1384, 1453 e 1520 cm-1 , todas de simetria B1g ou B2g, já que não são observadas com excitação próxima à banda Soret.
Em conclusão, os espectros SERS registrados para eletrodos de prata e de ouro, assim como em superfície de cobre mostraram a necessidade de uma melhor compreensão do processo de metalação da TMPyP4 que ocorre na superfíce do metal. Por outro lado, a combinação das informações oriundas dos espectros Raman excitados no UV, no visível e no NIR permitiu complementar a atribuição do espectro vibracional dessa porfirina.
(FAPESP)
1[] N. Blom, J. Odo, K. Nakamoto e D.P. Strommen, J. Phys. Chem., 90, 2847 (1986)
2[] J.Hanziliková, M. Procházka, J. Stëpánek, J. Bok, V. Baumruk e P.Anzenbacher Jr, J. Raman
Spectrosc., 29, 575 (1998)
3[] K. Itoh, T. Sugii e M. Kim, J. Phys. Chem., 92, 1568 (1988)