LIGNÓIDES CITOTÓXICOS DOS CAULES DE Styrax camporum Pohl (STYRACACEAE)
Helder Lopes Teles (PG), Jefferson Pessôa Hemerly 1 (PG), Angela Regina Araújo (PQ), Dulce Helena Siqueira Silva (PQ), Sandro Roberto Valentini2 (PQ), Maria Cláudia Marques Young3 (PQ) e Vanderlan da Silva Bolzani (PQ)
Instituto de Química - UNESP, Araraquara, C.P. 355, 14800-900, 1Escola Paulista de Medicina - UNIFESP, C. P. 20204, 2Faculdade de Ciências Farmacêuticas - UNESP, Araraquara, C.P. 502, 14801-902, 3Seção de Fisiologia e Bioquímica de Plantas -Instituto de Botânica, São Paulo, C.P. 4005, 01061-970
Palavras-chave: Styrax camporum Pohl, Styracaceae, lignanas citotóxicas
A família Styracaceae é composta por onze gêneros de distribuição na Europa, Ásia, trópicos e sub-trópicos americanos [Joly et. al., 1985]. São árvores pequenas, ou arbustos silvestres, bastante comuns nos estados centrais do Brasil. A espécie Styrax camporum Pohl (Styracaceae) é cultivada no estado de São Paulo e Minas Gerais sendo conhecida como "estoraque do campo", "cuia de brejo" ou "benjoeiro'', fornece uma resina sob forma de lágrima, por trauma das cascas. Tal resina tem sido usada na medicina popular no tratamento de infecções gastroduodenais. O levantamento bibliográfico sobre a constituição química das espécies da família Styracaceae evidenciou a ocorrência de diversas classes de produtos naturais, tais como: nor-neolignanas, triterpenos, lignanas, açúcares, saponinas triterpênicas, etc. Considerando a importância medicamentosa da espécie e o perfil dos constituíntes químicos isolados em outras espécies de Styracaceae, justifica-se a relevância do estudo fitoquímico dos caules de S. camporum Pohl, e a submissão de algumas substâncias isoladas à ao ensaio MTT para avaliação da atividade citotóxica in vitro contra linhagens de células cancerígenas [Hep-2 (carcinoma epidermóide humano), C6 (glioma de rato) e HeLa (carcinoma do colo de útero humano)].
Os caules de S. camporum Pohl foram coletados na Estação Ecológica Experimental de Mogi-Guaçu, fazenda Campininha - SP, posteriormente secos, triturados e extraídos sucessivamente com CH2Cl2:EtOH (2:1 V/V), fornecendo o extrato bruto. Este foi submetido à partição líquido/líquido, fornecendo os extratos hexânico, clorofórmico, acetato de etila e hidroalcoólico. O extrato clorofórmico foi submetido à partição sólido/liquido, com sílica gel como suporte, em gradiente crescente de polaridade, obtendo-se os extratos parciais Hex:AcOEt (1:1 V/V), CHCl3, AcOEt, CHCl3:CH3OH (1:1 V/V), CH3OH e H2O. O fracionamento dos extratos parciais Hex:AcOEt (1:1 V/V) e AcOEt através de sucessivas cromatografias em coluna e/ou cromatografia preparativa em camada delgada, resultou no isolamento dos lignóides egonol (1) [Takanashi et. al., 1988], siringaresinol (2) [Rahman et. al., 1990], pinoresinol e álcool diidrodesidrodiconiferílico, uma mistura dos triterpenos ác. ursólico e ác. oleanólico, e também o composto 6-O-feruloil-b-D-glicopiranosídeo.
O extrato AcOEt foi submetido à partição sólido/liquido, com o polímero XAD-2 como suporte, em gradiente decrescente de polaridade obtendo-se os extratos parciais: H2O, CH3OH:H2O (3:7 V/V), CH3OH:H2O (7:3 V/V), CH3OH e (CH3)2CO. O fracionamento do extrato parcial (CH3)2CO através de cromatografia em coluna, resultou no isolamento do lignóide 5-[3-(b-D-glucosiloxi)propil]-2-(3,4-metilenodioxifenil)-7-metoxi benzofurano (egonol glicosídeo). Todos os compostos tiveram suas estruturas elucidadas com ajuda de experimentos uni e bidimensionais de RMN, espectrometria de massas e comparação com dados da literatura.
Egonol e siringaresinol foram testados quanto à sua citotoxidade frente as linhagens cancerígenas, Hep-2, C6 e HeLa, com exposição de 24 horas. Na avaliação de viabilidade celular, após a exposição, utilizou-se o ensaio MTT [brometo de 3-(4,5-dimetiltiazol-2-il)-2,5-difeniltetrazolio] [Denizot, 1986], que baseia-se na redução deste sal por proteinases mitocondriais (ativas apenas em células viáveis), que após solubilizado em isopropanol permite uma medida colorimétrica em espectrofotômetro a 560 nm. Os compostos egonol e siringaresinol, apresentaram respectivamente 3,2 mg/ml e 10,65 mg/ml de IC50 (concentração inibitória 50%) contra a linhagem de células C6; de 3,6 mg/ml e 28,0 mg/ml contra a linhagem Hep-2 e 5,3 mg/ml e 31,7 mg/ml contra a linhagem HeLa. Os resultados do lignóide egonol expressam uma potente atividade citotóxica contra as linhagens de células carcinogênicas utilizadas, enquanto o lignóide siringaresinol, uma atividade moderada.
Referências Bibliográficas
-Denizot, F. & Lang, R. ; Rapid Colorimetric Assay for Cell Growth and Survival: Modifications to the tetrazolium dye procedure giving improved senditivity and reliability, Journal of Immunological Methods, 89, 271-7, (1986).
-Joly, A. B.; Botânica. Introdução `a Taxonomia Vegetal, 7a ed., Ed. Nacional, São Paulo, 219-221, 530, 544, 548-549, (1985).
-Rahman, M. M. A.; Dewick, P. M.; Jackson, D. E.; Lucas, J. A., Lignans of Forsythia Intermedia. Phytochemistry, 46, 342, (1990).
-Takanashi, M.; Takizawa, Y.; New benzofurans related to egonol from immature seeds of Styrax obasia. Phytochemistry, 27, 1224-6 (1988).
FAPESP, CNPq e CAPES