IRIDÓIDE E SECO-IRIDÓIDES GLICOSILADOS DE CHIOCCOCA ALBA
(RUBIACEAE)
Carlos Alberto Carbonezia (PG), Vanderlan da Silva Bolzania (PQ), Maysa Furlana (PQ) e Maria Claudia M. Youngb (PQ)
aNuBBE; Núcleo de Bioensaio, Biossíntese e Ecofisiologia de Produtos Naturais, Departamento de Química Orgânica, Instituto de Química, Universidade Estadual Paulista, Araraquara, São Paulo, Brasil, CP 355, 14800-900
bSeção de Fisiologia e Bioquímica de Plantas, Instituto de Botânica CP 4005, 01055 São Paulo, SP, Brasil
Palavras chave: Chioccoca alba, Rubiaceae, iridóide, seco-iridóides.
Chioccoca
alba Hitch. (Rubiaceae) é uma planta arbustiva endêmica
a várias regiões do continente americano e utilizada na
medicina popular como tônico, diurético e nos processos
inflamatórios em geral. As raízes desta espécie
também são utilizadas como antiviral, antiedema e no
tratamento de picadas de cobras1, 2. As ações
farmacológicas das raízes de C. alba estão
descritas nas Farmacopéias de várias nações
européias desde o século passado3. Trabalhos
anteriores sobre C. alba descrevem a ocorrência de
lignanas e cumarinas4, triterpenos3,
ceto-álcoois5, iridóides e seco-iridóides6.
A fração n-butanólica obtida da partição
do extrato CH2Cl2/MeOH das raízes de C.
alba foi submetida a uma coluna filtrante a vácuo
utilizando soluções de CHCl3 e MeOH em
gradiente de polaridade crescente. Este processo forneceu um total de
10 frações. A fração 2 foi submetida a
filtração em gel utilizando-se Sephadex LH-20 e metanol
como eluente, originando 21 frações, as quais foram
denominadas F-1 a F-21. As frações F-17 e F-18 foram
reunidas e fracionadas em coluna de sílica "flash"
utilizando-se uma solução de CHCl3/MeOH/H2O/HOAc
(80:18:2:0,5) como sistema de eluição. A fração
25 resultante deste procedimento foi purificada via CLAE fornecendo o
iridóide 1. A fração F-15 foi submetida a
um procedimento análogo ao descrito para as frações
F-17 F-18, originando 29 frações. As frações
5 e 21 foram purificadas via CLAE fornecendo os seco-iridóides
2 e 3, respectivamente. Os dados espectrométricos
de RMN de 1H de 1 e 3 sugeriram a presença
de substâncias da classe dos iridóides devido aos
singletos em 7,14 d
e 7,46 d,
respectivamente, característicos do H-3 do núcleo
carbocíclico, confirmado pelos sinais do espectro de RMN de
13C em 154,20 e 150,5 d,
respectivamente. Esses sinais
correspondem aos carbonos metínicos C-3 e que analisados
juntamente com os sinais em 109.3 e 111.2 d,
correspondentes ao C-4
quaternário, respectivamente, caracterizam a estrutura da
maioria dos iridóides. Através dos dados
dos espectros de RMN de 1H e de 13C foi
possível observar também que as substâncias 1
e 3 apresentaram características distintas; a principal
delas devido aos sinais correspondentes a uma ligação
dupla terminal 132.6 d
e 119.2 d
no iridóide 3, ausente no
iridóide 1, atribuído aos C-8 e C-10
respectivamente. A ligação dupla terminal resultante da
quebra oxidativa entre C-7 e C-8 de um esqueleto iridoidal é
uma feição típica dos seco-iridóides.
A constatação de sinais correspondentes a hidrogênios
anoméricos em 4,6 d
(d, J = 8,0 Hz) e hidrogênios hidroximetínicos na
região de 3,0 - 4,0 d
indicaram a presença das unidades glicosídicas em 1
e 3. A análise dos dados de RMN de 1H e de
13C de 1 permitiu inferir também a presença
de uma unidade cafeoíla, a qual foi confirmada
pelo padrão de multiplicidade desse sistema. Análise
cuidadosa dos dados de 1, aliados aos registrados para
substâncias análogas isoladas de C. alba6,
permitiu estabelecer a estrutura desse iridóide como sendo
7-cafeoil-loganina. O esqueleto seco-iridóidal para a
substância 3 foi corroborado pela análise dos
demais sinais, principalmente devido ao aparecimento de um terceiro
sinal na região de carbono hemicetálico, em 101,5
d
atribuído ao C-7. A configuração do carbono
hidroximetínico C-6 não pode ser determinada ainda,
devido a complexidade e sobreposição de sinais na
região compreendida entre 4,50 e 3,70 d,
necessitando de experimentos adicionais de RMN de 1H. Os
dados espectrais
aliados às informações bibliográficas
para seco-iridóides relacionados permitiram propor a
estrutura 3 para o iridóide em discussão. A
substância 2 também apresentou feições
espectrais típicas de um seco-iridóide. As
principais diferenças observadas nesta substância
devem-se à ausência do sinal em torno de 7,34
d,
típico do H-3 dos iridóides carbocíclicos e ao
aparecimento de uma ligação dupla adicional (C = 135.2
e CH = 122.1 d)
àquela registrada para o C8-C10 (132.6
e 119.8 d).
Pelo HETCOR o dubleto em 5,7 d
( H-3, J = 8.9 Hz) corresponde ao hidrogênio ligado
ao carbono responsável
pelo sinal em 90.7 d
no espectro de RMN de 13C e que foram fundamentais para
estabelecer esta proposição estrutural. O iridóide
7-cafeoil-loganina é novo no gênero, entretanto, para
confirmar se a estrutura 1 é de fato inédita, um
levantamento
bibliográfico está sendo realizado. Os seco-iridóides
são inéditos.
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Referências
1. Costa, O. A. (1978). Revista Brasileira de Farmácia, 8, 124.
2. Dorvault, F. (1978). Lófficine (20th ed.). Vigot.
3. Bhattacharya, J., & Cunha, E. V. L. (1992). Phytochemistry, 31, 2546.
4. El-Hafiz, M. A. Abd., Weniger, B., Quirion, J. C., & Anton, R. (1991). Phytochemistry, 30, 2029.
5. Ballini, R., Bosica, G., & Rafaiani, G (1995). Helvetica Chimica Acta, 78, 879.
6. Carbonezi, C. A., Martins, D., Young, M. C, M., Lopes, M. N., Furlan, M., Filho, E. R. & Bolzani, V. da S. (1999). Phytochemistry, 51, 781.