AVALIAÇÃO DA ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DE STEMODIA FOLIOSA


Lourinalda L. Dantas (PG), Márcia S. Nascimento1 (PQ), Aulália A. Ximenes1 (PQ), Márcia N. Lopes (PQ) e Vanderlan da S. Bolzani (PQ)


NuBBE- Núcleo de Bioensaio, Biossíntese e Eco-fisiologia de Produtos Naturais, Instituto de Química-UNESP, CP 355, CEP 14800-900, São Paulo

1Departamento de Antibióticos, Universidade Federal de Pernambuco, CEP 50670-901, Recife, PE


Palavras-chave: Stemodia foliosa, Scrophulariaceae, atividade antimicrobiana,

Diterpenos.



Stemodia foliosa, arbusto da família Scrophulariaceae, vulgarmente conhecida como " meladinha" é muito utilizada na região Nordeste do Brasil como bioinseticida no combate as pulgas de galinheiros; na medicina tradicional é considerada eficaz no tratamento das infecções respiratórias, doenças venéreas e anticoncepcional1,2,3. O extrato etanólico obtido das folhas da S. foliosa mostrou atividade antimutagênica ao teste de Ames e antimicrobiana para bactérias Gran-positivas e álcool ácido resistentes. O presente estudo mostra o fracionamento químico guiado pelo bioensaio de difusão em agar com cepas de Staphyloccocus aureus, Bacillus cereus, B. anthracis, B. subtilis, Mycobacterium smegatis, M. phlei, e Micrococcus luteus.


O extrato etanólico foi dissolvido em MeOH/H2O (80:20) e em seguida extraído com hexano, CH2Cl2, AcOEt e n-BuOH resultando nas respectivas frações hexânica, diclorometânica, acetato de etila, n-butanólica e aquosa. Todos as frações foram submetidas ao teste de atividade antimicrobiana utilizando os microorganismos descritos. Com halos de inibição variando na faixa de 10 a 25 mm, as frações de baixa polaridade mostraram inibição moderada e não seletiva dos microorganismos teste, enquanto que as frações mais polares inibiram as bactérias Gram-positivas. 1,0 g da fração hexânica foi submetida a uma coluna de sílica "Flash" eluída com hexano/AcOEt em gradiente, obtendo-se 25 subfrações, estando a atividade antimicrobiana concentrada nas subfrações eluídas com hexano/AcOEt 9:1 e 8,5:1.5. Purificação dessas subfrações conduziram ao isolamento da substância aromática 1, sitosterol e stigmasterol. A fração aquosa, fortemente bactericida, foi submetida a cromatografia em coluna utilizando-se XAD-16 como suporte e H2O, H2O:MeOH (80:20, 60:40, 40:60 e 20:80), MeOH, MeOH:CH2Cl2 (50:50) e CH2Cl2. A ultima fração dessa coluna foi posteriormente purificada fornecendo os diterpenos labdânicos 2-4, dentre eles o diterpeno 2 mostrou forte ação inibitória frente as bactérias Gram-positivas e álcool ácido resistente (Tabela 1). Os espectros de RMN de 1H e COSY 1H-1H obtidos para 1 indicaram a presença de um anel aromático 1,4 dissubstituído, identificados pelos dubletos em 7,07 d ( d, J = 8,0 Hz) e 6,76 d (d, J = 8,0 Hz). Foi possível observar também o acoplamento dos sinais em 4.20 d (t, J = 7,1 Hz) com os sinais em 2,85 d (t, J = 7,1 Hz); dois sinais correspondentes a dois grupos metílicos terminais acoplando com dois multipletos em torno de 1,55 d. O espectro de RMN de 13C confirmou o sistema aromático e indicou a presença de um grupo carbonílico (173,9), dois carbonos hidroximetilênicos (64,94 e 63,15), vários sinais em torno de 29,37 e dois sinais em 14.12 e 13.9 indicativos de metila terminal. Análise dos dados espectrais sugerem a estrutura 1 para a substância em questão. Hidrólise e massa de alta resolução estão sendo providenciados para a confirmação da substância 1 que apresentou bioatividade moderada. Os diterpenos 2-4 apresentaram feições espectrais muito similares: Os sinais em 5,84 d (1H, dd, J = 17, 0; 3,0; 10,7), 5,13 d (1H, dd, J = 17,0; 3,0) e 4,89 d (1H, dd, J = 10,7) analisados juntamente com os sinais em 147,5 d (CH), 110,9 d (CH2), 73,7 d (C) e 29,3 d (CH3) observados no espectro de RMN de 13C indicaram a mesma cadeia lateral para os três diterpenos. Os sinais em torno de 72, 4 d (C-6) e 74,3 d (C-8) também são feições comuns as substâncias em análise. As diferenças observadas nas estruturas em discussão devem-se aos substituintes que estão esterificando o grupo hidroxílico em C-6. Análise detalhada de todos os dados espectrais conduziram as propostas estruturais 2-4 para os diterpenos. A determinação da configuração relativa do C-6 ainda carece de dados adicionais.

R

1 2 COCH2CO2H

3 COCH3

4 COCH2CH(CO2H)CH2OH


Tabela 1. Atividade antimicrobiana do extrato bruto, fração e diterpeno 2 com bactérias Gram-positivas e álcool ácido resistente.

amostra

Conc.

microorganismos


(mg/disco)

S. aureus

B. anthracis

M. smegmatis

M. luteus

Ext. EtOH

200

25

33

23

35

Fr. hex.

200

13

7

8

9

Fr. aquosa

200

25

33

30

35

2

10

10

21

10

18

clorofenicol

10

24

20

10

50

claritromicina

1,20

8

17

25

20


Referências

  1. Huffoord C. D. (1989) J. Nat. Prod., 51, 367.

  2. Chamy, M. C., Piovano,M., Garbarino, V. (1991) Phytochemistry, 30, 1919.

  3. Weniger B., Anton R. (1982) J. Ethnopharmacol., 6, 67.