OBTENÇÃO DE POLIURETANAS A PARTIR DO ÓLEO SE SOJA EPOXIDADO
Cesar L. Petzhold(PQ), Marco Aurélio de Araújo(PQ), Eduardo Nicolodi(IC),
Annelise Gerbase(PQ)
Departamento de Química Orgânica Instituto de Química Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Palavras-chave: poliuretanas; óleo de soja epoxidado; DSC
INTRODUÇÃO
O Estado do Rio Grande do Sul é um dos maiores produtores de óleos vegetais do país. Grande parte desta produção é utilizada na alimentação e apenas uma pequena porção utilizada na indústria química como emulsificantes de cosméticos, detergentes e sabões, aditivos de polímeros, nas indústrias de couro, têxtil e papel, bem como de lacas e tintas.
A utilização de óleos vegetais quimicamente modificados para a obtenção de materiais poliméricos tem ampla aplicação na produção de poliuretanas e resinas epóxi. Dentre as vantagens da utilização destes óleos, destacam-se a biodegrabilidade do material e a substituição de poliésteres e poliéteres sintéticos, que têm sua origem em recursos não-renováveis.
OBJETIVO
Este trabalho tem por objetivo utilizar o óleo de soja epoxidado industrial (Henkel S.A Indústrias Químicas), contendo 81% de teor de epóxido, para a obtenção de poliuretanas, através da reação com diisocianatos, neste caso 2,4- diisocianato tolueno (TDI).
METODOLOGIA
Inicialmente, o óleo sofre uma reação de abertura do epóxi com uma solução ~0,1M de H2SO4 em metanol, durante três horas, a 60ºC e agitação constante. Desta forma obtém-se o óleo de soja hidroxilado contendo cerca de 3,7 grupos OH por mol de óleo. O desenvolvimento da reação foi acompanhado através da espectroscopia de RMN-H1 pelo desaparecimento do sinal em 2,8 ppm, correspondente ao hidrogênio metínico do epóxido e o surgimento de um sinal em torno de 3,5ppm correspondente aos hidrogênios metílicos do grupo metóxi. A reação ocorre quantitativamente.
A poliuretana foi obtida através da polimerização em massa entre o TDI e o poliol, mantendo-se constante a razão molar [OH]/[NCO]=1,2. Como poliol foram utilizados o óleo de soja hidroxilado e um poliéster glicol (Mn = 12.000 g/mol). As reações ocorreram a 60ºC por 2h, na presença de trietilamina. Poliuretanas nas proporções de 0%, 25%, 50%, 75% e 100% [OH] do óleo em relação a [OH] do poliéster glicol foram sintetizadas.
RESULTADOS
As poliuretanas com baixo teor de óleo (0% e 25%) apresentaram aspecto físico muito semelhante ao do poliéster glicol puro (líquido viscoso). As amostras com teor de óleo de 50% e 75% têm aspecto físico "pastoso". A amostra com teor de 100% apresenta estabilidade dimensional a temperatura ambiente e é flexível. A incorporação do óleo nestas formulações foi verificada por extrações contínuas a quente, durante três horas, com hexano, no qual o óleo de soja é solúvel. Os resultados mostraram que a incorporação do óleo foi superior a 90%.
Estas mesmas formulações foram submetidas a análises de Calorimetria Diferencial de Varredura (DSC) (taxa de aquecimento 20K/min). A tabela abaixo mostra estas formulações e suas respectivas temperaturas de transição vítrea (Tg) :
%[OH] óleo |
0 |
25 |
50 |
75 |
100 |
Tg(ºC) |
-52 |
-51 |
-50 |
-48 |
* |
*Não foi observada Tg
Com o aumento da quantidade de óleo quimicamente modificado, há uma tendência de aumento na Tg, como seria esperado, indicando uma maior reticulação destas formulações. Na formulação com 100%[OH] óleo, não foi verificada Tg até a temperatura de 80oC, devido à alta reticulação do material formado.
CONCLUSÃO
Poliuretanas flexíveis foram obtidas somente na formulação com 100% [OH] óleo, indicando a possibilidade de obtenção de materiais poliméricos a partir de fontes renováveis. As formulações contendo poliéster glicol não apresentaram o mesmo desempenho, indicando que uma maior quantidade de óleo de soja hidroxilado (p. ex. 90%) é necessária para obter uma poliuretana flexível.
BIBLIOGRAFIA
[FAPERGS]