COMPORTAMENTO FOTOLUMINESCENTE DA ZEÓLITA Eu-Y INCORPORADA COM VANÁDIO E TERRAS RARAS


Guintar Luciano Baugis (PG)1, Fernando Rabello de Castro(PQ)2,

Hermi Felinto de Brito(PQ)1 e Wanda de Oliveira (PQ)1.


1Instituto de Química – Universidade de São Paulo.

2Centro de Pesquisa e Desenvolvimento Leopoldo A. M. de Melo – PETROBRAS.


palavras-chave: zeólita Y, luminescência, vanádio.


Introdução. O emprego de zeólitas incorporadas com terras raras como catalisadores para craqueamento na conversão de hidrocarbonetos, tem estimulado uma série de trabalhos [1]. Os íons terras raras atuam como cátions compensando a carga eletrônica e proporcionam estabilidade estrutural à zeólita. Além disso, incrementam a acidez no sistema, através da dissociação protônica das moléculas de água coordenadas ao íon no interior das cavidades zeolíticas[2]. Explorando as propriedades luminescentes do íon Eu3+ como sonda espectroscópica, é possível obter informações sobre microssimetria do íon incorporado nestes sistemas. Assim, torna-se possível, também, estudar o catalisador quando submetido à determinadas condições de processo, tais como, as alterações das propriedades texturais em função do envenenamento por vanádio.


Objetivo. Avaliar a estrutura zeolítica com o estudo fotoluminescente da microssimetria ao redor do íon Eu3+ e análise das propriedades texturais, dos sistemas incorporados com V, La e Gd, sob condições similares àquelas encontradas nos conversores.


Materiais e métodos experimentais. A zeólita Y empregada neste estudo foi sintetizada pelo Centro de Pesquisas da PETROBRAS. O teor de sódio foi reduzido através de sucessivas trocas iônicas com solução de NH4Cl 1 M. Posteriormente, 10 g de zeólita, previamente calcinadas a 600ºC, foram suspensas sob agitação em solução de EuCl3 0,1M, a temperatura ambiente por 1 dia. Os cristais foram separados por filtração, rinçados com água e novamente calcinados a 600ºC. Uma solução de VO(bzac)2 em tolueno foi usada para incorporar vanádio às amostras por impregnação, em um teor de 1% em massa. As amostras preparadas com La ou Gd foram impregnadas com soluções dos respectivos trisacetilacetonatos em tolueno, em concentrações determinadas pela razão molar TR/V=1. Após a evaporação do solvente, as amostras foram calcinadas a 540ºC ao ar, por 5 horas e em seguida, a 760ºC, ao vapor de água, por 3 horas. O EuVO4 foi sintetizado pela calcinação a 950ºC, por 5 horas, da mistura estequiométrica entre Eu2O3 e V2O5.

As propriedades texturais das amostras foram determinadas no Gemini 2360. Submeteu-se as amostras ao vácuo a 300ºC antes da adsorsão de N2 e a superfície multipontual BET foi calculada entre 0,06<P/P0<0,70.

Os espectros de luminescência foram registrados em um espectrofluorímetro SPEX Fluorlog II com duplo monocromador. Os espectros de emissão foram coletados entre 500 e 720 nm e os espectros de excitação, por sua vez, obtidos entre 320 e 560 nm. Os experimentos foram conduzidos à temperatura ambiente.


Tabela: zeólita após desativação hid. a 760ºC

Amostra

Área BET

(m2/g)

Eu-Y

538

Eu-Y/V

467

Eu-Y/V-La

478

Eu-Y/V-Gd

485


Resultados. Após a calcinação a 540ºC, as amostras não apresentaram diferenças significativas em relação às propriedades texturais. Entretanto, a desativação hidrotérmica, pela calcinação a 760ºC ao vapor, proporcionou redução da área específica em todas as amostras. Como pode ser visto na tabela ao lado, a amostra incorporada apenas com vanádio sofreu redução 13% da área superficial em relação a amostra sem vanádio. A inclusão de La ou Gd ao sistema inibiu, parcialmente, o ataque do vanádio à zeólita. A redução da área superficial foi menor na amostra contendo gadolínio que na amostra com lantânio.

Os espectros de luminescência da zeólita, após troca iônica para incorporação de európio, demonstram transições bastantes finas e características do íon Eu3+ neste ambiente[3]. Após a desativação hidrotérmica, a amostra Eu-Y apresentou a transição hipersensível (5D0 ® 7F2) mais intensa que a transição de referência (5D0 ®7F1) evidenciando assim, uma alteração da microssimetria Cnv em torno do íon Eu3+. Verifica-se que as intensidade relativas entre as transições do espectro de emissão comparadas com a banda hipersensível 5D0 ® 7F2, apresentam-se maiores na ordem Eu-Y>Eu-Y/V-Gd>Eu-Y/V. Nos espectros de excitação das amostras de zeólita contendo vanádio, verificou-se uma banda a 320 nm típica da presença do EuVO4. Esta banda foi observada com mais intensidade na amostra Eu-Y/V, sugerindo uma formação de vanadato maior que na amostra Eu-Y/V-Gd. Os espectros de emissão das amostras de zéolitas, entretanto, apresentam transições bastantes distintas do EuVO4, indicando que este é apenas um dos ambientes em que o íon Eu3+ pode estar coordenado.

Conclusões. Como pôde ser visto através da alteração da microssimetria nos espectros de emissão, após a calcinação e desativação hidrotérmica o íon Eu3+ passa a coordenar-se nas cavidades zeolíticas mais internas. A dissociação das moléculas de água coordenadas ao íon favorece a migração entre os sítios zeolíticos. O vanádio, sob condições representativas de processo, provoca o ataque à zeólita Eu-Y. Durante a desativação hidrotérmica, a hidrólise do V2O5 promove a formação do ácido vanádico[4] que ataca o Eu3+ coordenado à zeólita. A exclusão do íon Eu3+, alojado nas cavidades mais internas, desestabiliza a estrutura e favorece a redução da área em virtude do colapso. A inserção de terras raras através de complexos conjugados a zeólita inibe este ataque em alguma extensão, pois impede a formação do EuVO4. Devido ao caráter mais iônico do elemento, a interação V-Gd é maior que V-La, e a proteção à estrutura zeolítica é mais efetiva.


Bibliografia

[1] Falabella S-A, E., Microporous And Mesoporous Materials, 25, 25(1998)

[2] Sherzer, J., Catalysis Reviews Science and Engineering, 31,215(1989)

[3] Suib, S.L., Cao, H., Applied Spectroscopy, 49,1454(1995)

[4] Trujillo, C.A., Knops-Gerrits, P.P., Jacobs, P.A., Journal of Cataysis, 168,1(1997)


CNPq e PETROBRAS