COMPORTAMENTO
VOLTAMÉTRICO DO BENZNIDAZOL UTILIZANDO-SE ELETRODO DE CARBONO
VÍTREO
MODIFICADO COM DNA
Mauro
Aquiles La-Scalea (PQ)1; Elizabeth Igne Ferreira (PQ)1;
Sílvia Helena Pires Serrano (PQ)2; Ana Maria
Oliveira Brett (PQ)3
1 - Dep. de Farmácia - Faculdade de Ciências Farmacêuticas, USP
2 - Dep. de Química Fundamental - Instituto de Química, USP
3 - Dep. de Química - Universidade de Coimbra, Portugal
palavras-chave: benznidazol, eletrodo de DNA, hidroxilamina
INTRODUÇÃO E OBJETIVOS
Os nitroimidazóis são importantes por apresentarem amplo espectro de atividade biológica e por selecionarem baixo nível de resistência em microrganismos anaeróbicos. O benznidazol (BZN) é comumente utilizado no tratamento da doença de Chagas, infecção por Trypanosoma cruzi, e único fármaco comercializado no Brasil. A doença de Chagas atinge cerca de um quarto da população da América e entre 16 a 18 milhões de indivíduos encontram-se infectados. A ação biológica dos nitrocompostos é dependente da redução do grupo nitro. O nitro radical aniônico e o derivado hidroxilamínico são os principais intermediários responsáveis pela ação citotóxica dos nitroimidazóis e acredita-se que o DNA seja o principal alvo destes produtos de redução. Para os 2-nitroimidazóis, a hidroxilamina seria a responsável principal pela atividade biológica1.
Este trabalho tem por objetivo estudar o comportamento voltamétrico do BZN utilizando-se eletrodo de carbono vítreo modificado com DNA (ECV-DNA) e avaliar a possibilidade de interação do derivado hidroxilamínico gerado eletroquimicamente e o DNA imobilizado na superfície do eletrodo de carbono vítreo.
PARTE EXPERIMENTAL
A solução estoque de DNA Calf Thymus (sal sódico, tipo I) desnaturado foi efetuada dissolvendo-se cerca de 3 mg de DNA em 0,5 mL de HClO4 60%, seguida da adição de 0,5 mL de NaOH 9,0 mol/L e completou-se o volume a 50 mL com tampão acetato pH 4,5. A solução estoque de BZN 0,01 mol/L foi preparada com etanol 80%. Preparou-se o tampão universal a partir da mistura de ácidos fosfórico, acético e bórico com NaOH. Utilizou-se potenciostato mAutolab acoplado a célula eletroquímica de 10 mL com sistema de três eletrodos: carbono vítreo (ECV) e ECV-DNA como eletrodos de trabalho, eletrodo Ag/AgCl referência e Pt como eletrodo auxiliar. A aquisição e tratamento de dados foi efetuada por meio do software GPES versão 4.1 da Eco-Chemie, Holanda.
O ECV-DNA foi preparado por recobrimento total da área de carbono vítreo com 3 mg de DNA nativo em tampão acetato pH 4,5. Após secagem, o eletrodo foi condicionado em solução tampão com aplicação, por cinco minutos, de potencial a 1,4 V seguido de registro de linha base entre 0,0 e 1,4 V, utilizando-se a voltametria de pulso diferencial. Em seguida, transferiu-se o eletrodo para solução de DNA desnaturado e este procedimento foi repetido até obtenção de superfície modificada estável.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Utilizando-se ECV-DNA, o voltamograma de pulso diferencial para BZN em pH 3,06 apresentou única onda de redução, com potencial de pico (Ep = -0,23 V), referente à redução do grupo nitro, envolvendo quatro elétrons, para formar o intermediário hidroxilamínico. Com o ECV a onda de redução para o BZN foi ligeiramente mais negativa com Ep = -0,27 V. Em meio ácido e com ambos os eletrodos, o valor de Ep para a onda de redução do BZN é deslocado no sentido negativo com aumento de pH, confirmando a participação de íons H+ no mecanismo de redução do benznidazol. Em meio básico a redução é independente do pH e os valores de Ep registrados com os dois eletrodos são semelhantes.
FIGURA 1
- Curvas de adição de padrão de BZN
correspondentes aos picos anódicos conseqüentes da
formação do derivado hidroxilamínico na
superfície do ECV-DNA em pH 4,5: (n)
pico I; (l)
pico II.
Diante do exposto, o estudo do comportamento voltamétrico do benznidazol utilizando-se o ECV-DNA apresenta-se como excelente alternativa para compreensão do mecanismo de ação biológica dos 2-nitroimidazóis, além de representar a possibilidade de obtenção de importantes parâmetros para estudos de relação entre estrutura química e atividade biológica e a conseqüente contribuição para desenvolvimento de novos fármacos para o tratamento da doença de Chagas.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
La-Scalea, M.A, - Rev. Farm. Bioquím. Univ. São Paulo, 34(2), 59, 1998.
Brett, A.M.O.; Serrano, S.H.P.; Gutz, I.; La-Scalea, M.A.; Cruz, M.L. - Electroanalysis, 9(14), 1132, 1997.
FAPESP, CNPq, ICCT/Portugal