CARACTERIZAÇÃO ESPECTROSCÓPICA, COMPORTAMENTO MAGNÉTICO E ESTUDO DA ATIVIDADE ANTI-INFLAMATÓRIA E ANTI-ULCERATIVA DE UM COMPLEXO

DE [Ru2]5+ E IBUPROFENO



Alexandre de Andrade (IC)1; R. G. Woisky (PG)2; G. Wiezel (IC)2; Renato Najjar (PQ)1; Jaime A .A. Sertié (PQ)2; Denise de O. Silva (PQ)1


1Departamento de Química Fundamental, Instituto de Química, Universidade de São Paulo, São Paulo; 2Departamento de Farmacologia, Instituto de Ciências Biomédicas, Universidade de São Paulo, São Paulo



palavras-chave: complexos de rutênio, ibuprofeno, atividade anti-inflamatória



A atividade farmacológica de complexos metálicos tem sido objeto de grande interesse recentemente. Complexos de cobre(II) com drogas anti-inflamatórias ou mesmo ligantes inativos são, muitas vezes, mais eficazes do que os próprios fármacos orgânicos [1]. Muitos deles também apresentam efeito protetor anti-ulcerativo, o que seria menos prejudicial à saúde, tendo em vista os efeitos colaterais dos ligantes livres [2]. Alguns complexos de rutênio apresentam atividade anti-tumoral significativa, assemelhando-se à cisplatina, com a vantagem de serem menos tóxicos e atuarem em tipos de tumores para os quais este quimioterápico tem se mostrado ineficaz [3].


Nosso objetivo é investigar a interação de íons metálicos que formam unidades do tipo [M2] n+ com ligantes de importância biológica.


O ácido [2-(-isobutilfenil)] propriônico, ou ibuprofeno, um fármaco analgésico não esteroidal, é de particular interesse pois, além de ser amplamente usado no tratamento de doenças anti-inflamatórias, pode também atuar como agente quimioterápico na prevenção do câncer de mama e diminuir o crescimento de células de câncer de pulmão in vitro.


Neste trabalho, realizamos um estudo das propriedades espectroscópicas e investigamos a susceptibilidade magnética e a condutividade do complexo [Ru2Cl(ibp)4], em que ibp = ibuprofenato (cuja síntese foi relatada anteriormente [4]), com a finalidade de comprovar a formação da ligação metal-metal direta entre os dois íons rutênio e elucidar o comportamento químico do complexo em solução.

A atividade anti-inflamatória do complexo in vivo foi testada e comparada às atividades do ibuprofeno e do [Cu2(ibp)4]. A ação inibidora que os complexos acima citados exercem sobre o edema de pata induzido por carragenina em camundongos e os efeitos sobre lesões gástricas também foram investigados.


O espectro eletrônico do complexo [Ru2Cl(ibp)4] apresenta duas bandas: uma no visível, ao redor de 450 nm (22.220 cm-1), e outra na região do IV próximo (~ 1000 nm), que podem ser atribuídas respectivamente às transições p ® p* e d ® d*, típicas de uma ligação metal-metal múltipla em centros de [Ru2]5+. A banda do visível, que para o complexo no estado sólido aparece em 470 nm, é ligeiramente sensível ao solvente e à concentração de íons cloreto. Esta banda, que foi observada em 427 nm para solução metanólica e 453 nm para solução do complexo em acetonitrila, desloca-se para energia mais baixa (433 e 463 nm, respectivamente) em presença de cloreto. As mudanças espectrais são coerentes com a existência de um complexo monosolvatado neutro em solução, i. e. [Ru2Cl(ibp)4(solvente)]. No estado sólido, o complexo apresenta estrutura em cadeia polimérica onde as unidades dimetálicas Ru2(ibp)4 mantêm-se unidas por pontes de cloreto.

Uma solução recém-preparada de [Ru2Cl(ibp)4] em metanol apresentou valor de condutância (60 ohm-1 cm2 mol-1) característico de não-eletrólito. Este valor permaneceu constante após um período de 20 h, evidenciando a não-dissociação do íon cloreto.

O complexo sólido apresenta meff = 3,9 B. M. para cada unidade dimetálica, em concordância com os valores registrados para complexos de Ru2(II,III), e possui três elétrons desemparelhados por unidade dinuclear, o que corresponde à uma configuração eletrônica do tipo (s)2 (p)2 (d)2 (p* d*)3.


Os ensaios biológicos mostraram que a administração oral do [Ru2Cl(ibp)4] inibe o desenvolvimento de edema nos camundongos de modo similar ao fármaco ibuprofeno e ao complexo [Cu(ibp)4]. Contudo, a irritação gástrica no caso de ambos os complexos é menos pronunciada do que a provocada pelo ibuprofeno. O complexo de dirutênio-ibuprofenato apresenta um efeito protetor melhor para ulcerações leves enquanto que o de cobre-ibuprofenato é mais eficaz no caso de ulcerações severas.


Referências:

[1] Sorenson, J.R.J.; in: Sorenson, J.R.J (Ed), "Biology of Copper Complexes", Humana Press, New York, 243-257 (1987).

[2] Sorenson, J.R.J; Inorg. Chim. Acta, 91, 285 (1984).

[3] Keppler B. K.; Lipponer, K.; Stenzel, B.; Kratz, F.; in: Keppler, B. K. (Ed), Metal Complex in Cancer Chemoterapy, VCH, New York ,187-220 (1993).

[4] Andrade, A.; Namora, S. F. e Silva, D. O.; Resumos da 21a Reunião Anual da SBQ, QI-097 (1998).

FAPESP, CNPq