O Efeito g-cis em RMN de 199Hg em Halomercúrio-olefinas Substituídas
Fernando S. H. Viecoa (IC), Daisy de Brito Rezendea (PQ)
e Ivan P. de Arruda Camposb (PQ)
aDepto. de Química Fundamental, Instituto de Química, USP, São Paulo, SP;
e-mail: dbrezend@quim.iq.usp.br
bInstituto de Ciências Exatas e Tecnologia, UNIP, Alpaville, Stana de Parnaíba, SP;
e-mail: ipdacamp@quim.iq.usp.br
Palavras-chave: organomercuriais, efeito g-cis RMN de 199Hg
Organomercuriais apresentam grande estabilidade frente a oxigênio, agentes oxidantes, água, ácidos fracos e haletos de alquila. Infelizmente, a essa estabilidade se deve, em parte, a conhecida neurotoxicidade destes compostos, os quais vêm causando vários danos ao meio ambiente.
Dados sobre a RMN de 199Hg podem contribuir para uma melhor compreensão, tanto dos processos metabólicos envolvidos na intoxicação por mercúrio, seu tratamento e prevenção, como para o desenvolvimento de aspectos da química ambiental relativos à contaminação por este metal e seus derivados.
Neste trabalho, verificamos a observabilidade do efeito g-cis em halomercúrio-olefinas substituídas, para uma série de organomercuriais (Esquema 1), a fim de explorar sua possível aplicação à análise estereoquímica desse tipo de composto.
ESQUEMA 1
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Os brometos vinílicos, intermediários na síntese das halomercúrio-olefinas, foram preparados por diferentes métodos, segundo as características estereoquímicas do produto desejado (Esquema 2).
ESQUEMA 2
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Assim, os compostos 2 e 4 foram obtidos por des(hidro-halogenação) de di-haletos de alquila vicinais a partir de 1 e 3 respectivamente, enquanto 6 foi obtido pelo emprego da reação de halo-descarboxilação do a,b-di-halo-ácido 5.
Os organomercuriais alvo já foram sintetizados: brometo de vinil-mercúrio (R1 e R2 = H; Esquema 1), brometo de cis/trans-prop-1-enil-mercúrio (R1 = Me, R2 = H), brometo de trans-2-fenil-etenil-mercúrio (R1 = Ph, R2 = H), brometo de 2-metil-prop-1-enil-mercúrio (R1 e R2 = Me), sendo que, para este último composto, inédito até onde pudemos averiguar, está-se procedendo à sua purificação. Na obtenção do brometo de 2-fenil-etenil-mercúrio, apesar de se partir de uma mistura cis/trans de 8, obteve-se apenas o composto trans, devido à isomerização na etapa de purificação, realiza-da por sublimação do produto bruto. No caso de brometo de prop-1-enil-mercúrio obteve-se uma mistura cis/trans deste, além de brometo de prop-2-enil-mercúrio.
Analisando-se os dados obtidos para esta série de compostos, é possível verificar a ocorrência do efeito g-cis em RMN de 199Hg.
COMPOSTO |
FÓRMULA |
DESLOCAMENTO QUÍMICO (d) |
Padrão: Difenil-mercúrio |
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- 750 ppm |
Brometo de vinil-mercúrio |
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- 1237 ppm |
Brometo de cis-prop-1-enil-mercúrio |
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- 1056 ppm |
Brometo de trans-prop-1-enil-mercúrio |
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- 1131 ppm |
Brometo de trans-2-fenil-etenil-mercúrio |
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- 1200 ppm |
De fato, este efeito é evidenciado comparando-se o deslocamento químico do brometo de trans-prop-1-enil-mercúrio com a do brometo de cis-prop-1-enil-mercúrio, sendo que, para o último, devido à desblindagem do grupo metila em cis pelo átomo de mercúrio, seu sinal é visto em campo menor do que o primeiro.
Deste modo, o efeito g-cis neste tipo de olefinas causa um deslocamento para campo baixo no substituinte em g, ao contrário do que é comumente observado em outros compostos vinílicos (deslocamento para campo alto). Provavelmente, para o caso de halomercúrio-olefinas, a carga positiva parcial do átomo de mercúrio supera a sua compressão estérica na posição g, reforçando a hipótese de que há uma componente atribuível a interações eletrônicas através das ligações químicas.
REFERÊNCIAS:
1) E. FRANKLAND, Justus Liebigs Ann. Chem., 85, 365 (1853).
2) L. G. MARAKOVA e A. N. NESMEYANOV, The Organic Compounds of Mercury, North-Holland, Amsterdam, 1967.
3) I. P DE ARRUDA CAMPOS e H. E. STEFANI, Phosphorous Sulfur Silicon, 105, 73 (1995).
4) I. P, DE ARRUDA CAMPOS, Avanços Recentes e Perspectivas em RMN (Edição Especial do Boletim/RMN), 2, 18 (1996).
5) B. WRACKMEYER e R. CONTRERAS, Ann. Rep. NMR Spectrosc., 10A, 68 (1980).
6) R. C. LAROK, Organomercury Compounds in Organic Syntesis, Springer, Berlin, 1985.
7) J. C. GUILLEMIN e N. BELLEC, Inorg. Chem., 35, 6586 (1996).
(FAPESP; UNIP; CNPq)