DESENVOLVIMENTO DA TÉCNICA DE CALORIMETRIA POR DEFLEXÃO DE LASER

Thomas Schneider (IC), Mauricio Baptista (PQ), Mário Politi (PQ),
Marcos Gugliotti (PG)

Departamento de Bioquímica, Instituto de Química, Universidade de São Paulo

palavras-chave: calorimetria, deflexão, fototermia

Introdução: Motivado pelo uso da montagem proposta no trabalho anterior voltado à determinação quantitativa de oxigênio singlete1, partimos para o desenvolvimento e caracterização da técnica com intuito de aplica-lá em outros processos. A montagem proposta utiliza a mudança do índice de refração imposta ao meio por um gradiente térmico gerado em um meio adjacente. Ou seja, dentro de uma cubeta são armazenadas duas fases, uma orgânica (CCl4) e outra aquosa. Na fase aquosa ocorre a reação química a ser analisada, liberando energia na forma de calor. A fase orgânica que esta em contato com a fase aquosa recebe a energia liberada na reação por condução térmica. O gradiente térmico imposto a fase orgânica cria um componente óptico, gerado pela mudança do índice de refração, semelhante a um prisma, causando a deflexão.
Objetivos: Foi proposta a caracterização do sinal de deflexão, relacionando sua magnitude a energia térmica liberada no processo. Para melhor compreensão do sinal resultante foi utilizado um modelo matemático simplista que descreve a dinâmica envolvida2. Durante toda a caracterização do método seguiram-se aperfeiçoamentos visando principalmente a melhoria na sensibilidade que demontrou-se inferior as outras técnicas de micro-calorimetria. O desenvolvimento da montagem esteve sempre atrelado a simplicidade e baixo custo do instrumento desenvolvido.
Métodos: O sistema consiste de um laser, uma cubeta e uma amostra (fases aquosas e orgânicas) seguida de um detector sensível à posição. Alinhando seus componetes segue-se a estabilização térmica da amostra com o meio ambiente. Como a fase orgânica é responsavel pela deflexão é interessante que ela tenha um grande valor de dn/dT3, sendo adotado por este motivo o tetracloreto de carbono com grau espectroscópico (Merck). A adoção do tetracloreto de carbono também se deve a baixa absorção no comprimento de onda do laser utilizado4. Para maximizarmos a energia transferida para a fase orgânica pela reação, utilizamos um pequeno volume na fase aquosa, aumentando sua capacidade térmica. A fase orgânica no entanto deve ter um grande volume proporcionando um fluxo contínuo de calor. As reações foram iniciadas adicionando-se volumes conhecidos de reagentes. Para garantir que a reação se processe completamente manteve-se sempre em excesso o reagente contido na fase aquosa. O armazenamento dos dados em disco magnético foi efetuado por um software de aquisição, registrando a tensão gerada pelo detector em função do tempo.
 
 

Resultados e Conclusões: A padronização do instrumento foi realizada utilizando-se a reação de neutralização NaOH + HCl. Verificamos a relação linear entre o sinal resultante e a energia liberada na reação, facilitando o tratamento posterior. Ao verificar a reprodutibilidade dos dados obtivemos uma flutuação do sinal em torno de 15% sendo o limite de dectecção estimado em 0,08 (1) J. Procedeu-se então a medida de entalpia de complexação de CdCl2 e MgCl2 com EDTA, obtendo-se os valores de 31 e –23 KJ/mol os quais são compatíveis com os dados da literatura. O método proposto demonstrou-se de fácil montagem e manuseio, sendo no entanto lento (em torno de quatro minutos para cada reação). O principal diferencial em relação as outras técnicas de fototermia5,6 está na utilização de duas fases, e na possível extensão do método para estudos de fenômenos interfaciais. O modelo teórico explica bem a evolução temporal do sinal que depende da condutividade térmica do meio orgânico. Seguindo o uso do modelo estamos voltados à relação entre a magnitude do sinal e a energia liberada.

Bibliografia:
1 - Baptista, M.S. - Schneider, T. – Gugliotti, M. – Politi, M.(1999) 22 reunião anual da SBQ, QA094
2 - Bain, C.D. - Davies, P.B. – Ong, T.H. ,(1992) Chem. Phys. Lett., v.194, n.4,5,6, 391-397
3 - Wu,X.-Z.; Shindoh,H.; Yamada,M.; Hobo,T. (1993) Anal. Chem., 65, 834-836.
4 - Silverstein, M.R. - Bassler, G.C. - Morrit, T.C., 3a edição, Identificação Espectrométrica de Compostos Orgânicos
5 - Baptista, M.S. – Tran, C.D. (1995) Journ. of Phys. Chem., v.99, n.34, 12952-12961
6 - Harris, J.M. - Dovichi, N.J. , (1980) An. Chem. v.52, n 6, 695A-706A
 


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