COMPORTAMENTO ANÓDICO DE UMA LIGA A
BASE TITÂNIO EM MEIO DE CLORETO E SULFATO ÁCIDO EM
DIFERENTES pHs.
Rodrigo
M. Cordeiro (IC)*, Assis V. BenedettiÄ
(PQ) & Paulo T. A. Sumodjo (PQ)*
*
Instituto de Química USP, C.P.26077, 05513-970 São
Paulo, SP
Ä
Instituto de Química
UNESP, C.P.355, 14801-000 Araraquara, SP
Palavras-chave:
ligas de titânio, eletroquímica, anodização
Introdução.
No desenvolvimento de novos veículos aeroespaciais, algumas
metas técnicas devem ser alcançadas. Dentre estas se
destacam maiores velocidades de vôo (Mach 2 a 3), autonomia
para maiores distâncias e maior capacidade de transporte [1].
Para alcançar essas metas deve-se buscar materiais que sejam
mais leves e mais rígidos que possam operar a altas
temperaturas. Estima-se que os materiais serão submetidos a
temperaturas entre 750 e 1800 oC em futuros aeronaves de
uso civil [1]. Portanto, espera-se que os materiais apresentem uma
durabilidade aceitável nessas temperaturas de trabalho. Como
os materiais atualmente empregados na indústria aeronáutica
são totalmente inadequados, alguns novos materiais resistentes
a altas temperaturas têm sido buscados. Dentre os estudados
destaca-se o compósito de matriz intermetálico (CMI)
[2]. Dentre os CMI parece ser promissor o compósito de carbeto
de silício em matriz de liga de titânio [2], e dentre as
possíveis ligas, a liga Ti-15-3 (Ti-15V-3Al-3Sn-3Cr) [3,4]. Em
função do exposto, decidiu-se estudar o comportamento
eletroquímico desse material em alguns ambientes contendo íons
normalmente encontrados na atmosfera. Esta comunicação
relata os resultados preliminares do estudo eletroquímico da
liga Ti-15-3 em NaCl 0,01 M e NasSO4 0,1 M com
pH 2, 4 e 6.
Experimental.
Utilizou-se um sistema de 3 eletrodos para a obtenção
de voltamogramas cíclicos, a 10 mVs1, e de
curvas de polarização quase-estacionárias
(v=0,34 mVs1). O eletrodo de trabalho era um
cilindro da liga em estudo embutido em TeflonÒ,
sendo a área da superfície exposta ~ 0,13 cm2.
O eletrodo de referência, ao qual são referidos os
potenciais, era Ag|AgCl|Cl e o eletrodo auxiliar era
um fio Pt platinizada. O eletrólito era NaCl(aq)
0,01 M + Na2SO4(aq) 0,1 M, com pH: 2, 4 ou 6.
Antes de cada experimento, o eletrodo de trabalho era polido com
lixas de granulometrias diferentes (280 a 2000) e lavado com metanol
por 10 min em banho de ultrassom. A seguir o eletrodo era imerso em
solução de NaOH(conc) por ~ 3 min, lavado
com o eletrólito e rapidamente colocado na célula
eletroquímica já contendo o eletrólito. O
pré-tratamento eletroquímico consistiu de uma
catodização a 0,6 V por 2 min para redução
de possíveis impurezas interfaciais. Os experimentos foram
feitos tanto com o eletrodo girando a 1000 rpm, como com a solução
em repouso. Foram conduzidas experiências tanto em eletrólito
aerado como desaerado (através de borbulhamento de N2
por 30 min) à temperatura ambiente.
Resultados e Discussão.
Os voltamogramas cíclicos, obtidos no intervalo de potenciais
entre 0,6 e +3,0 V apresentaram o mesmo aspecto: em torno de
0,5 V surge um pequeno pico seguido de um aparente patamar que se
estende até 2,0 V. Depois desse potencial se observa outro
pico de corrente. Quando se inverte o sentido da varredura de
potenciais, a corrente é praticamente nula. Na segunda
varredura consecutiva, não se nota passagem significativa de
corrente. Este é o comportamento típico de um metal
válvula. Portanto, durante a primeira varredura anódica
houve a formação de um filme passivo sobre a superfície
do eletrodo. Segundo vários autores, a passivação
ocorre através da formação inicial de um óxido
não-estequiométrico que vai se oxidando até
resultar em TiO2 [3]. Portanto, pode-se admitir que os
vários picos e o patamar observados estão associados a
esses processos. Verificou-se que com a diminuição do
pH da solução houve um aumento na carga anódica,
evidenciando a importância da concentração de
íons H+ no processo anódico global. Foi
notado que a rotação do eletrodo não gera
diferenças significativas no perfil potenciodinâmico
E/I, o que mostra que o processo de passivação
independe do transporte de massa e deve ser controlado por ativação.
Estudou-se o efeito da aeração em pH 6. Em meio aerado,
o pico relacionado com a formação de TiO2 se
torna mais pronunciado. Como não houve alterações
no patamar, acredita-se que a quantidade de O2 presente
favorece o crescimento de TiO2. As curvas de polarização
quase-estacionárias, feitas no intervalo de 0,6 a +3,0
V, apresentaram corrente quase nula até 1,3 V, após o
qual, ocorre a descarga de água, evidenciado pelo aparecimento
de bolhas sobre a superfície do eletrodo. Uma ampliação
da região de corrente quase nula mostra uma série de
picos de corrente, que praticamente independem do pH. Estes picos
possivelmente estão relacionados com a formação
dos diferentes óxidos de titânio. A agitação
do eletrodo, bem como a aeração, não provocaram
diferenças. Na região de oxidação do
solvente, a corrente é maior em pH 2. A rotação
do eletrodo parece não provocar alterações
significativas, o que fortalece a hipótese de que a reação
independe do transporte de massa. A aeração diminui a
corrente, possivelmente devido a um deslocamento do equilíbrio
da reação de oxidação da água pelo
aumento da quantidade de O2 ou pelo retardamento da
oxidação da água pela formação de
filme isolante de rutilo.
Conclusões.
A anodização potenciodinâmica da liga Ti-15-em
solução de NaCl 0,01 M + Na2SO4
0,1 M é um processo complexo que independe do transporte de
massa. A potenciais mais positivos que 1,3 V ocorre a oxidação
da água, cuja velocidade é maior a pHs baixos.
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CNPq