CONTROLE REDOX E ISOMERIA DE LIGAÇÃO INDUZIDOS POR PH NO COMPLEXO 3-HIDROXIPICOLINATO DE RUTÊNIO(III)-EDTA
Reginaldo C. Rocha (PG), Francisca N. Rein (PQ) e Henrique E. Toma* (PQ)
Departamento de Química Fundamental, Instituto de Química,
Universidade de São Paulo, SP, Brasil.
Palavras-chave: complexos de rutênio, voltametria cíclica, espectroeletroquímica
A química de coordenação do rutênio-edta (edta = etilenedinitrilotetraacetato) com espécies polifuncionais tais como o íon 3-hidroxipicolinato (Hhpic ou hpic2) é caracterizada pela existência de vários modos de coordenação no ligante, impondo um desafio na elucidação da natureza dos produtos gerados como uma função do pH e do estado de oxidação do íon metálico. Esse tipo de estudo é relevante em várias áreas de pesquisa, desde que ligantes polifuncionais são abundantes na natureza, e a investigação de suas propriedades de ligação pode ser de grande interesse, particularmente para o entendimento do papel dos metais de transição em sistemas biológicos.
O ácido 3-hidroxipicolínico pode sofrer uma série de equilíbrios ácido-base envolvendo o grupo carboxilato, o anel piridina e o grupo fenolato, de acordo com pKa(1) = 1,1, pKa(2) = 5,2 e pKa(3) = 12,0 (±0,1), respectivamente.1 Em meio básico, ele pode coordenar-se a íons metálicos de transição de modo bidentado via grupos carboxilato e piridina, em analogia ao ligante picolinato,2 ou via grupos carboxilato e fenolato, a exemplo do ligante salicilato.3
Neste trabalho é mostrado que, no caso do rutênio-edta, os modos de ligação dependem do estado de oxidação do metal e do pH do meio. Investigação detalhada desse sistema foi baseada em técnicas cinéticas, espectroscópicas, eletroquímicas e espectroeletroquímicas. Além disso, ferramentas teóricas foram empregadas.
O complexo [Ru(edta)(H2O)] reage com o ligante 3-hidroxipicolinato (Hhpic) em pH 5, resultando a espécie praticamente incolor [RuIII(edta)(kN,kO-Hhpic)]2. Em pH superior a 9, a desprotonação do grupo fenólico promove um processo de isome-rização intramolecular gerando o complexo vermelho claro [RuIII(edta)(kO,kO-hpic)]3 (l = 495 nm; e = 1200 M1 cm1). Ambos os isômeros podem ser eletroquimicamente reduzidos (com valores de E1/2 para o par RuIII/RuII iguais a 0,17 e 0,00 V vs. EPH, respectivamente), mas são convertidos em uma única espécie redox de coloração vermelho intenso, [RuII(edta)(kN,kO-Hhpic)]3 (l = 500 nm; e = 4600 M1 cm1), que é fortemente estabilizada pelas interação de transferência de carga dp®pp* do rutênio para os grupamentos carboxilatopiridina do 3-hidroxipicolinato.
As diferentes propriedades de ligação como uma função dos estados redox e do pH foram racionalizadas com base em cálculos teóricos semiempíricos ZINDO, cuja análise de orbitais moleculares revelou a existência de uma significativa mistura de caráteres metal-ligante nos níveis de fronteira (OMO e UMO) de ambos as espécies isômeras, embora os seus orbitais redox (HOMO) sejam centrados no metal. Esses resultados são coerentes com os dados obtidos por medidas de EPR.
FAPESP, CNPq, PADCT
1. (a) Presente trabalho; (b) A. K. W. Stephens e C. Orvig, Inorg. Chim. Acta 273, 47 (1998).
2. V. R. L. Constantino, L. F. C. de Oliveira, P. S. Santos e H. E. Toma, Transition Met. Chem. 19, 103 (1994).
3. (a)
V. R. L. Constantino, H. E. Toma, L. F. C. de Oliveira, F. N. Rein,
R. C. Rocha e D. O. Silva,
J. Chem. Soc., Dalton Trans.
1735 (1999); (b) livro de resumos da XXII RA-SBQ, vol. I, QI-120.