CARACTERIZAÇÃO DO SISTEMA SUPRAMOLECULAR [Ru3O(CH3COO)6(py)2(4,4’bpy)Ru(bpy)2(Cl)](PF6)2 ATRAVÉS DE TÉCNICAS BIDIMENSIONAIS DE RMN


Sofia Nikolaou (PG), Henrique Eisi Toma (PQ) e Miriam Uemi (PQ)

Departamento de Química Fundamental - Instituto de Química - Universidade de São Paulo


palavras-chave: rutênio, clusters, ressonância magnética nuclear


Os clusters trinucleares de acetato de rutênio de fórmula [Ru3O(CH3COO)6(L)3]+1 (L= H2O, CH3OH ou ligantes piridínicos) são unidades extremamente interessantes para análise através de técnicas de Ressonância Magnética Nuclear por apresentarem um elétron desemparelhado na unidade central [Ru3O], o que os torna espécies paramagnéticas. Os deslocamentos observados em função da anisotropia paramagnética são tais que permitem a fácil identificação das espécies trinucleares bem como seu estado de oxidação1,2.

Neste trabalho apresentamos a caracterização estrutural da supermolécula [Ru3O(CH3COO)6(py)2(4,4’bpy)Ru(bpy)2(Cl)](PF6)2, cuja síntese foi apresentada anteriormente3, através das técnicas de correlação COSY e HETCOR; a figura 1 traz um esquema de sua estrutura. Na atribuição dos espectros de 1H e 13C (tabela), feita com base nas correlações observadas, considerou-se que os anéis piridínicos dos ligantes periféricos bpy e do ligante de ponte 4,4’bpy não são equivalentes. O cromóforo [Ru(bpy)2] não sofre influência da unidade paramagnética [Ru3O] e apresenta sinais de 1H e 13C comparáveis aos observados para o complexo análogo [Ru(bpy)3]+2[4].

No caso do cromóforo [Ru3O(CH3COO)6(py)2], observa-se uma tendência geral de deslocamento para campo mais alto (em relação ao ligante livre) nos valores de d dos ligantes piridínicos coordenados à unidade central [Ru3O]. Observa-se também que estes deslocamentos diminuem com a distância do núcleo em relação ao centro metálico. Esse fato pode ser explicado pelo efeito da anisotropia paramagnética do cluster. Aparentemente o efeito propaga-se através do mecanismo de pseudocontato[5], segundo o qual ocorre uma interação dipolar no espaço; esta interação diminui com a distância e por isso os prótons Ha e Ha1 sofrem os maiores deslocamentos. Esta interação também é dependente da orientação de um determinado núcleo em relação ao centro metálico, portanto pode-se observar deslocamentos tanto para campo alto como para campo baixo. De fato, os prótons das metilas dos acetatos encontram-se deslocados para campo baixo em relação ao acetato livre, tendência oposta àquela observada para os prótons dos ligantes piridínicos.

Outro aspecto importante se refere ao fato dos prótons e carbonos das metilas apresentarem uma tendência oposta de deslocamento químico, para campo baixo e alto, respectivamente. Isto indica que deve haver mais de um mecanismo de interação paramagnética atuando nos clusters.


Com os dados disponíveis não é possível determinar de maneira definitiva quais seriam estes mecanismos, mas uma outra possibilidade de interação seria através do mecanismo de contato de Fermi, segundo o qual é possível observar uma alternância nos deslocamentos químicos graças a chamada polarização de spin5.

Figura 1. Esquema da estrutura de [Ru3O(CH3COO)6(py)2(4,4’bpy)Ru(bpy)2(Cl)](PF6)2


Deslocamentos Químicos de 1H e 13C (ppm) de [Ru3O(CH3COO)6(py)2(4,4’bpy)Ru(bpy)2(Cl)](PF6)2a

próton

d/ppm

próton

d/ppm

carbono

d/ppm

carbono

d/ppm

Acetatos

L=2,2-bipiridina

Acetatos

L=2,2-bipiridina

CH3 (a)

4,97 (2,1)

H3

8,28 (8,42)

CH3 (a)

-5 (20,7)

C2

158,8 (156,2)

CH3 (b)

4,81

H7'

8,28

CH3 (b)

-5

C2' = C11

159,6

*

*

H3'

8,18

C=O (a)

201 (177,7)

C11'

160,0

*

*

H7

8,43

C=O (b)

198

C3

124,0 (123,5)

L=piridina

H4

~7,77 (7,77)

L=piridina

C7

124,5

Ha

0,35 (8,6)

H8

~7,99

Ca

127,1 (149,9)

C3'

124,8

Hb

5,83 (7,2)

H4’

~7,75

Cb

115,2 (123,7)

C7'

125,0

Hg

6,60 (7,6)

H8

~7,99

Cg

138,8 (135,7)

C4

136,6 (136,7)

L=4,4’-bipiridina

H5

~7,13 (7,25)

L=4,4’-bipiridina

C8

137,3

Ha1

0,85 (8,73)

H9

7,47

Ca1

127,1 (150,7)

C4'

137,5

Hb1

6,09 (7,51)

H5’

~7,13

Cb1

113,5 (121,4)

C8'

137,8

*

*

H9'

7,67

Cg1

144,0 (145,5)

C5

127,8 (121,0)

*

*

H6

7,54 (8,67)

Cg2

145,1

C9

128,0

Hb2

6,98

H10

8,34

Cb2

123,3

C5'

128,2

Ha2

8,52

H6'

~7,69

Ca2

155,4

C9'

128,3

*

*

H10'

9,81

*

*

C6

153,0 (149,1)

*

*

*

*

*

*

C10

153,1

*

*

*

*

*

*

C6'

154,0

*

*

*

*

*

*

C10'

154,5

avalores de d para o ligante livre entre parênteses FAPESP


Referências Bibliográficas

  1. a) H. E. Toma, A. D. P. Alexiou, S. Dovidauskas, S. Nikolaou, Magn. Reson. Chem., 1999, 37, 322; b) H. E. Toma, A. D. P. Alexiou, J. Chem. Research (S), 1997, 338

  2. a)Y. Sasaki, A. Tokiwa, T. Ito, J. Am. Chem. Soc., 1987, 109, 6341; b) J. A. Baumann, D. J. Salmon, S. T. Wilson, T. J. Meyer, W. E. Hatfield, Inorg. Chem., 1978, 17(12), 3342.

  3. S. Nikolaou, H. E. Toma, 21° Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Química, 1998, Livro de Resumos 1, QI-038.

  4. E. C. Constable, J. Lewis, Inorg. Chim. Acta, 1983, 70, 251.

  5. I. Bertini, C. Luchinat, Coord. Chem. Rev., 1996,150, 1.