ANÁLISE QUÍMICO-FARMACÊUTICA DA OXAMNIQUINA E DE SUAS ESPECIALIDADES FARMACÊUTICAS
Roberto Parise Filho (IC)1, Thiago Macedo de Souza (IC)1, Magali Benjamim de Araújo (PQ)1, Audrei Nunes Fernandes (PQ)1, Maria Amélia Barata da Silveira (PQ)2
1- Departamento de Farmácia, Escola de Farmácia e Odontologia de Alfenas - EFOA/Minas Gerais
2 Dep. Farmácia, Faculdade de Ciências Farmacêuticas, USP/São Paulo
palavras-chave: oxamniquina, análise farmacêutica, especialidades farmacêuticas
A oxamniquina é o agente esquistossomicida de principal uso na terapêutica brasileira por ter a mesma eficácia e menor custo em relação ao fármaco alternativo, praziquantel. É ativa nas formas intestinal e hepatoesplênica de infecções causadas exclusivamente pelo Schistosoma mansoni, única espécie no Brasil. Foi introduzida no mercado brasileiro pelos Laboratórios Pfizer, sob o nome de MansilÒ, nas formas farmacêuticas cápsulas e suspensão 1.
Considerando-se especialmente os medicamentos genéricos e possíveis similares, a monografia da oxamniquina matéria-prima foi revisada e novas técnicas foram sugeridas. Além disso, foram elaboradas monografias para as formas farmacêuticas cápsulas e suspensão, sendo a última, inédita. A Organização Mundial da Saúde preconiza que sejam feitas revisões periódicas nas monografias de fármacos para se comprovar a reprodutibilidade das técnicas, objetivando a fabricação de medicamentos com qualidade e segurança.
Utilizou-se oxamniquina matéria-prima de grau farmacêutico e as especialidades farmacêuticas MansilÒ suspensão 50 mg/mL e cápsulas 250 mg. Utilizaram-se reagentes e solventes de grau pró-análise e equipamentos de rotina em laboratório de controle de qualidade, como espectrofotômetro UV-VIS, aparelho de dissolução, aparelho de determinação de ponto de fusão.
Foram realizados testes de caracterização, identificação e doseamento tanto para matéria-prima, como para as especialidades farmacêuticas. As técnicas empregadas para a caracterização incluiram ponto de fusão, propriedades organolépticas, solubilidade, resíduo por incineração, perda por dessecação, ensaios-limite de impurezas e pH 2,3,4. A matéria-prima, a suspensão e as cápsulas foram identificadas por reações químicas de grupos álcool, amino, aromático e nitro da molécula5, por cromatografia em camada delgada, utilizando como fase móvel clorofórmio/hexano/isopropanol/hidróxido de amônio, na proporção de 100:50:10:7,5 e por espectrofotometria UV-VIS (251nm) 2,4. O doseamento da matéria-prima foi realizado por método espectrofotométrico UV-VIS, nos solventes ácido clorídrico M, metanol e etanol, e por volumetria em meio não-aquoso, com ácido perclórico 0,1M 2,3. Os produtos farmacêuticos foram analisados quantitativamente por espectrofotometria UV-VIS. Para as cápsulas, foram determinados o perfil de dissolução, tempo de desintegração e determinação do peso médio 3,6.
Os resultados dos métodos de caracterização empregados para a matéria-prima cumpriram com as especificações farmacopéicas, indicando a reprodutibilidade das técnicas. Pode-se concluir que as reações químicas para os grupos funcionais, além da espectrofotometria UV-VIS, constituiram método eficaz para a identificação da matéria-prima e as formas farmacêuticas suspensão e cápsulas. O sistema cromatográfico foi adequado para identificação da oxamniquina e o Rf obtido para a matéria-prima e amostras foi 0,60. Verificou-se que o doseamento da matéria-prima pode ser realizado por espectrofotometria UV-VIS em metanol, e por volumetria em meio não-aquoso, com ácido perclórico 0,1M, pois apresentaram precisão de 99,85 + 0,47% e 99,48 + 1,15%, respectivamente. Por ser método rápido e simples, sugere-se o uso da espectrofotometria UV-VIS.
De acordo com os testes de caracterização, a suspensão é homogênea e apresenta pH de 9,5. Os resultados obtidos na quantificação da suspensão refletiram melhor precisão para o solvente ácido clorídrico M (99,48 + 0,56%), sendo o mais indicado para o doseamento desta forma farmacêutica. Para as cápsulas, os valores obtidos no doseamento indicaram precisão de 104,27 + 0,16% , utilizando-se metanol como solvente. Todos os parâmetros analisados, incluindo peso médio (327,8 mg + 24,6) e tempo de desintegração (<10 minutos), cumpriram as especificações farmacopéicas. Para o perfil de dissolução obteve-se concentração máxima de 81,5% de oxamniquina em 60 minutos. No entanto, estudos in vivo deverão ser realizados para determinar se existe correlação dos dados de dissolução e biodisponibilidade do fármaco.
Com a grande procura por medicamentos com preços mais acessíveis e o advento dos genéricos, existe a necessidade da fabricação de medicamentos com qualidade. Para isso, torna-se evidente a elaboração de técnicas seguras que atendam a realidade nacional, sem comprometer a qualidade dos medicamentos.
1. KOROLKOVAS, A. Dicionário terapêutico Guanabara, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1998/1999, p. 10.17-10.18.
2. BECKET, A. H., STENLAKE, J. E. - Practical pharmaceutical chemistry. 4 ed., London: Athlone Press, 1988, v.1, p.1165-172, v.2, p. 275-337.
3. FARMACOPÉIA dos Estados Unidos do Brasil, 4 ed. São Paulo: Atheneu, 1988, parte I.
4. UNITED States Pharmacopeia, 23ed. Rockville: United States Pharmacopeial Convention, 1995.
5. CHERONIS, N. O. D., ENTRIKIN, J. B. Identification of organic compounds. New York: Wiley, 1963. 477 p.
6. PEZOA, R., CONCHA, A. M., GAETE, G. Dissolución de formas farmaceuticas sólidas. Ver. Col. Quím. Farm., Santiago, v. 46, n. 2, p. 43-51, 1990.